Passadiços do Paiva perderam 600 metros, reabrem em Outubro e com entradas pagas

Incêndio consumiu quase 500 hectares de floresta em Arouca, prejuízo nos passadiços ronda os 130 mil euros.

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Cerca de 600 metros do passadiço foram em Setembro destruídos num incêndio Adriano Miranda
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Os passadiços do Paiva estarão fechados no próximo mês e meio, tempo para repor a parte destruída e tratar de questões que estavam em análise. Durante este período, o site oficial dos passadiços (www.passadicosdopaiva.pt) dará conta do desenvolvimento dos trabalhos e as visitas agendadas ao Arouca Geopark serão reorientadas. As contas estão feitas e os 600 metros consumidos nos passadiços significam um reinvestimento de 130 mil euros num equipamento que não tem seguro. A câmara local revela que é complicado tratar desta questão e insiste nos contactos.

O presidente da Câmara de Arouca, Artur Neves, chegou a temer o pior nos passadiços, que a dimensão da destruição fosse maior, que as chamas atingissem a escadaria de madeira na garganta do Paiva, um dos mais importantes cartões-de-visita desse percurso de cerca de oito quilómetros. Depois da avaliação dos estragos, e de uma noite mal dormida, o autarca mostrava-se optimista ao final da manhã de terça-feira. “Dentro de mês e meio, fica tudo reposto e vamos aproveitar para colocar em funcionamento o controlo de entradas e proteger, o mais possível, o arrastamento de pedras que podem acontecer com as chuvadas”, dizia ao PÚBLICO junto ao rio, perto da zona destruída. A autarquia está a estudar a criação de uma plataforma informática que permita controlar o número de entradas nos passadiços que ainda no último domingo receberam cerca de 10 mil pessoas. A intenção é ter, no máximo, 3500 visitantes por dia que terão de se inscrever previamente. A cobrança de entradas também avançará. Artur Neves fala num “valor simbólico”, mas não revela a quantia antes de ser aprovada pelos políticos locais. Há mais para fazer antes da reabertura. “Queremos restituir a galeria ripícola com as primeiras chuvadas para que o coberto original se desenvolva rapidamente”. E os parques de estacionamento serão redimensionados para dar resposta à procura. A vontade de duplicar a extensão dos passadiços e o desejo de criar, no seu percurso, um museu do complexo mineiro de Rio de Frades e uma quinta-museu da raça arouquesa, não esmoreceram com as chamas. Artur Neves quer concretizar o projecto, avaliado em cerca de quatro milhões de euros, durante o seu mandato autárquico.

Os passadiços do Paiva têm acessos para situações inesperadas. O presidente da câmara garante que há um plano de emergência para pessoas e até fogos, só que ninguém esperava um incêndio com tamanha proporção que chegou a mobilizar 229 operacionais, 72 viaturas e sete meios aéreos. “Não havia um incêndio desta dimensão há 15 anos. Aconteceu desta vez, logo no primeiro ano dos passadiços. Sabemos que é um equipamento de risco, mas não podemos desistir porque há algum risco”. Artur Neves mantém a confiança. “Temos de ver o lado positivo. O incêndio acabou por ser um bom teste e vamos virar este aspecto negativo em momentos positivos”.

Mostrar ou esconder?
Os passadiços foram inaugurados a 20 de Junho e Arouca nunca recebeu tantos visitantes no seu território. Há um impacto directo na economia local, há fins-de-semana que os restaurantes têm lotação esgotada e momentos em que a carne arouquesa não chega para os pedidos. As ruas de Arouca não estavam habituadas a tanto trânsito. O debate entre preservar ou mostrar em passadiços de madeira um troço de natureza que acompanha o Paiva tem alimentado muitas conversas. Artur Neves admite que há “sensatez” nessas discussões, mas não concorda com os que defendem que o espaço deveria manter-se afastado de olhares alheios. “A natureza tem de ser vivida, sentida. A fauna e a flora não rejeitam as pessoas, convivem bem com elas. Queremos alcançar o equilíbrio que desejamos e que sempre defendemos, não queremos massificar os passadiços”, refere. A verdade é que as melhores expectativas foram ultrapassadas e a afluência excedeu qualquer prognóstico. “O turismo de natureza não envolve massas, mas este envolveu e daí a nossa decisão de controlar as entradas”. 

À hora de almoço, Joaquim Cunha, presidente da Junta da União de Freguesias Espiunca/Canelas, juntava-se aos homens que na rua observam o circuito do helicóptero que enchia água no Paiva para combater os reacendimentos. “Foram dias difíceis não só por o fogo ter atingido uma zona de mato muito grande, mas sobretudo pela obra magistral dos passadiços”. O autarca está satisfeito com a procura desse percurso, com o movimento que trouxe à terra, e concorda com a cobrança de entradas, uma vez que “os passadiços exigem uma manutenção muito grande”. “Isto é uma espécie de descoberta do paraíso. Arranjar um acontecimento que traga sete a oito mil pessoas por dia a um espaço é uma coisa do outro mundo”, comenta o autarca. Joaquim Cunha não duvida que o fogo tenha “origem criminosa” até por ter começado num sítio bastante ermo e que mais tarde, por acção do vento, chegaria aos passadiços e atingiria as duas margens do Paiva. “Foi muito triste. Agora é altura de aproveitar para se fazerem coisas de maneira diferente”.

O incêndio em Arouca não atingiu casas, mas, na tarde de terça-feira, Adriano Santos suspendeu por precaução os trabalhos no seu estaleiro de arrumos de máquinas de construção. O fogo parou a 50 metros e a situação foi controlada. Os seus olhos seguem o helicóptero no céu e a área consumida pesa-lhe. “Ardeu muito, ardeu muita área, há muitos prejuízos”. Os 600 metros dos passadiços que desapareceram são, na sua opinião, uma grande extensão. “Não são poucos metros, não. Ardeu muito”. Agora espera que a movimentação não se quebre. “Os passadiços trouxeram tanta gente a Arouca, nunca na vida se viu semelhante coisa”.

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