Os meus pais gostam mais do meu irmão do que de mim?
Desde muito cedo que as crianças começam a construir uma “percepção de preferência”, por parte dos pais. Que até pode ser falsa mas deixa marcas.
Uma “falsa percepção de preferência, pode iniciar-se muito cedo, no primeiro ou segundo ano de vida da criança”, diz a psicóloga Fátima Almeida. Pelo que é essencial falar sobre o assunto independentemente da idade da criança. “O diálogo é a base de tudo, se a comunicação com as crianças for simples, franca e honesta elas percebem, muitas vezes mais cedo do que nós achamos.”
A psicóloga é autora, juntamente com Laura Alho, do livro O Filho Preferido (Edição Pactor), que tentou responder à questão da existência, ou não, de uma preferência por um dos filhos da parte dos pais, um assunto “tabu” de que não se gosta de falar.
A obra foi construída a partir da análise de vários estudos científicos e trabalhos publicados, dividindo-se em 12 capítulos, com outros tantos temas, desde a gravidez, à relação entre os pais, a forma como geriram o nascimento do filho e o seu crescimento. “Não podemos concluir se existe ou não um filho preferido, porque não foi feito um estudo científico sobre isso, o que podemos concluir efectivamente é que tanto pais como filhos têm percepções diferentes e tipos de personalidades diferentes que levam a que tenham alguma tendência para se identificar mais com um filho do que com outro”, explicou Fátima Almeida.
Tendo em conta as personalidades e características de pais e filhos, pode acontecer uma maior empatia entre uns e outros. Um pai identificar-se mais com uma criança do que com outra “não é considerado ter uma preferência”, necessariamnete, ainda que os filhos possam “percepcioná-la como uma preferência”. E “é ai que reside o foco da questão”.
Esta percepção por parte das crianças, de que os pais gostam mais do irmão, pode ter consequências na sua ligação com os pais, com os irmãos e ter mesmo implicações no seu desenvolvimento. A própria relação entre os irmãos vai ser influenciada, “de forma profunda”, com mais conflitos e rivalidade, diz a psicóloga.
“Se uma criança alimentar a ideia de que há um filho preferido que não seja ele próprio, o que acontece muitas vezes é afastar-se da família, vai procurar outros adultos, alguém com quem se identificar.” No fundo, diz, “é como se se sentisse a mais na família e acaba por procurar apoio fora da família”.
Questionada acerca da frequência da existência desta questão da preferência dos pais, Fátima Almeida disse: “É mais comum do que pensávamos, praticamente todas as famílias com mais do que um filho já pensaram ou já falaram sobre o assunto ou, pelo menos, já experimentaram alguma situação constrangedora, porque nem sempre as famílias e os próprios filhos gostam ou sentem-se confortáveis a abordar” o tema.