Calçado português quer investir 160 milhões com apoios europeus

Sector candidata-se ao Portugal 2020 e espera apoios na ordem dos 30% para investir na inovação, qualificação e internacionalização.

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Em 2014 as exportações de calçado atingiram o valor máximo de 1978 milhões de euros Adriano Miranda

Do valor total, 70 milhões de euros irão para o reforço da internacionalização, 50 milhões para a área da inovação e 36 milhões para a qualificação. O anúncio foi feito esta terça-feira pela Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado Componentes e Artigos de pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), durante a Micam, em Milão, a maior e a mais prestigiada feira mundial de calçado. Na verdade, a associação já agia desde a sua fundação como um cluster, grupo dos vários tipos de empresas do sector e componentes de produtos associados, mas agora a candidatura é formal. “Não é coisa pouca. É ambicioso. Mas a ambição do sector tem sido concretizada em metas importantes como a afirmação no mundo e a presença nos mercados”, disse Manuel Carlos, director-geral da APICCAPS.

Deverá cifrar-se em cerca de 30% o apoio dos fundos comunitários a atribuir, sublinhou o ministro da economia, António Pires de Lima, no final de uma visita pela feira. O governante, que apostou que será “natural” a aprovação desta candidatura face à “qualidade das empresas”, fez, porém, questão de salientar que os “fundos não são automáticos” nem a “fundo perdido”, são antes “reembolsáveis para poderem serem investidos na economia e terem um efeito multiplicador”. O titular da pasta da economia reforçou ainda a importância da iniciativa privada. Aliás, considerou que “seria muito mau se estes 160 milhões só fosse investidos se existissem fundos comunitários”.

De acordo com a APICCAPS, as exportações deste sector aumentaram 49% na última década e em 2014 atingiram o valor máximo de 1978 milhões de euros. Esta indústria exportou já na primeira metade deste ano 39 milhões de pares de calçado, no valor de 887 milhões de euros.

Na Micam, o ministro visitou cerca de 40 dos 93 expositores das empresas portuguesas presentes. Surgiu como uma espécie de promotor de Portugal e quase jornalista. Interessou-se pelos dados básicos do desempenho das empresas visitadas lançando múltiplas perguntas como se entrevistasse cada um dos empresários.  

“Este é um produto muito bom. Em Itália a concorrência é muito forte não é? Mas não há que ter medo”, atira Pires de Lima no stand da marca Marta Ponti, da empresa Malas Peixoto Soares, com sede na Amadora.  O elogio do governante acabou por lhe valer uma carteira em ele, que preferiu castanha. “Boa pele”, disse, enquanto cheirava a oferta e sorria o governante, alegrando-se ainda com o facto de “bolso dos portugueses estar gradualmente a recuperar”.  

Para esse bolso, estará a contribuir o comportamento do sector  “bandeira” do calçado, como Pires de Lima frisou, além do têxtil e do turismo. Anualmente, o Estado ajuda o sector com 10 milhões de euros a aplicar na internacionalização.

“Felizmente estamos a caminho de ter pelo terceiro ano consecutivo uma balança comercial de bens e de serviços positiva. Não é coisa pouca porque é a primeira vez que acontece em Portugal desde a década de 40 do século passado”, destacou o governante explicando que as empresas portuguesas estão a exportar “mais de 40% do que exportavam há cinco anos”, o que para o ministro revela uma “grande capacidade de competir e de ganhar fora de casa  que os empresários portugueses ganharam ao longo dos últimos anos”.

Segundo o governante, em 2,3 mil milhões de euros de produção nesta indústria, mais de dois mil milhões são para exportação e “com o segundo maior preço do mundo”.

E, com efeito, Portugal exporta anualmente mais de 95% da sua produção de calçado para mais de centena e meia de países, o que é possível constatar na feira. “Estamos presentes no Japão, nos Estados Unidos da América e na Colômbia. Está a correr bastante bem. Exportamos 99,9% dos nossos produtos. Não fazemos qualquer distribuição em Portugal”, refere Paulo Martins, um dos sócios da Indústria de Calçado Celita, a empresa de Guimarães detentora da marca de calçado Ambitious. “Então e porquê?”, intrigou-se Pires de Lima. “Os nossos sapatos têm muita cor e são muito atrevidos, ilustrou o empresário. A empresa, com 130 funcionários,  já facturou dez milhões no ano passado e espera facturar mais 25% este ano.

Mas nem todos os empresários, que, amiúde, sorriem quando aos jornalistas se orgulham de apontar os 5, 10 e, mesmo em alguns casos, 30 milhões de facturação, esboçam um quadro positivo do negocio. José Machado, da Macosmi, exporta 100% da sua produção e até começa por romancear as boas-vindas ao ministro, mas depois queixa-se da “burocracia imensa” no acesso aos fundos europeus do Portugal 2020.

“Temos das mais bonitas e emblemáticas fábricas do calçado [em Santo Tirso]”, garante. “Ai sim, e então qual é o produto que mais destaca?”, pergunta Pires de Lima que não esperava a resposta. “Sabe senhor primeiro-ministro, o calçado é todo igual. Tem uma sola, tem pele e atacadores”, atira José Machado que voltou a tratar Pires de Lima pelo cargo de Passos Coelho.  O ministro corrige-o. “Pois, o senhor é mais um homem da indústria”, reconhece o empresário. “Talvez por isso, não seja primeiro-ministro”, graceja Pires de Lima. O jornalista viajou a convite da APICCAPS

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