Comboio nazi lança corrida ao ouro na Polónia

Os caçadores de tesouros estão a concentrar-se no sul do país. Autoridades não confirmam localização do “comboio dourado”, mas dizem que o que quer que seja que tenha sido descoberto pode estar armadilhado.

O Castelo de Ksiaz é um dos ícones desta região carregada de túneis
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O Castelo de Ksiaz é um dos ícones desta região carregada de túneis JANEK SKARZYNSKI/AFP
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Soldados americanos resgatam uma pintura- era comum os nazis esconderem obras de arte e ouro em minas e túneis DR

As autoridades acreditam ter localizado o referido comboio no condado de Walbrzych, no sul da Polónia, depois de terem sido alertadas para a possibilidade de ele ali se encontrar por dois caçadores de tesouros, um alemão e um polaco, que preferem manter-se anónimos e que agora reclamam 10% de tudo o que for resgatado.

“Tenho a certeza de que o comboio existe, mas pode conter materiais perigosos”, disse esta quinta-feira o director do património do Ministério da Cultura polaco, Piotr Zuchowski, num comunicado citado pelo diário britânico The Guardian e pela agência de notícias AFP. “Este é um apelo para que se suspendam todas as investigações até que tenhamos terminado todos os procedimentos oficiais necessários para garantir a segurança do sítio.”

Zuchowski tentava, assim, afastar as dezenas de curiosos e caçadores de tesouros de toda a Europa que na última semana chegaram à região. “A cidade de Walbrzych está cheia de mistérios por causa da sua história”, dissera já na véspera o presidente da câmara, Zygmunt Nowaczyk, escusando-se a avançar quaisquer pormenores sobre esta descoberta que é já “oficial”. Nowaczyk não usou, sequer, a palavra “comboio”.

Segundo os jornais polacos, trata-se de uma composição militar e terá sido escondida em 1945 pelas tropas alemãs quando o Exército Vermelho se aproximava por terra a passos largos e as forças aliadas intensificavam os ataques aéreos. Diz a lenda local que tem passado de geração em geração que os vagões que saíram da então cidade alemã de Breslau (actual Wroclaw, na Polónia) transportariam 300 toneladas de ouro, uma quantidade indeterminada de diamantes e outras pedra preciosas, obras de arte e equipamento industrial. Os soldados em fuga terão deixado o comboio num dos muitos túneis da Silésia Inferior (onde fica a cidade de Walbrzych), uma região montanhosa de exploração mineira, e a sua localização foi esquecida.

Que túneis seriam estes? Os historiadores concordam que muitos foram construídos na região durante a guerra, mas divergem nos motivos por que foram feitos. Para uns faziam parte de um centro de operações secreto ou eram fábricas de armamento protegidas, para outros serviam de laboratórios de ensaio para o projecto atómico alemão. O que se sabe ao certo é que, no fim do conflito, o exército nazi, tapou uns e inundou ou destruiu os outros.

Como o Titanic
As notícias de que os dois caçadores de tesouros alegavam ter descoberto o “comboio nazi” começaram a surgir em meados de Agosto, quando o seu representante legal, Jaroslaw Chmieleswski, encarregue de garantir que teriam direito a 10% do espólio antes de revelar onde tinham descoberto a composição, disse à rádio regional de Wroclaw que se tratava de “uma descoberta histórica de importância mundial”, comparando-a à identificação dos destroços do Titanic.

A 20 de Agosto, as autoridades de Walbrzych começaram a levar a sério a alegada descoberta, embora muitos historiadores alertassem para a possibilidade de não passar de uma fraude. Representantes da cidade reuniram com a polícia, os bombeiros e os militares para delinear uma estratégia e foi o próprio presidente da assembleia municipal que alertou para a forte probabilidade de o comboio conter grandes quantidades de metano.

E como terão os dois caçadores de tesouros localizado a composição militar? O diário polaco Gazeta Wyborcza cita uma fonte anónima que fala na utilização de um georadar e que assegura que o comboio estava a 70 metros de profundidade. Outras informações dão conta da possibilidade de estar sob uma linha ferroviária desactivada na vila de Walim. Esta hipótese parece ser reforçada por testemunhas que recordam ali ter visto, em 1945, um comboio com insígnias nazis. Para já, nenhuma destas informações foi confirmada pelas autoridades locais.

Caso venha a ser localizado, o comboio desencadeará um complexo processo de investigação. E se do seu espólio constarem ouro e obras de arte, lembra Jerome Hasler, porta-voz do Art Recovery Group, empresa que muito tem trabalhado na identificação de peças saqueadas pelos nazis, tudo deve ser feito para as devolver aos seus legítimos donos: “Encorajamos as autoridades polacas a partilharem informação sobre quaisquer obras de arte recuperadas para que os esforços para as restituir possam começar de imediato”, disse Hasler, citado pelo diário britânico The Telegraph.  

Não é a primeira vez que se fala de um tesouro nazi escondido em Walbrzych, conhecida pela exploração de carvão e ferro e pela sua actividade industrial. Isto talvez porque o próprio Hitler gostava de descansar naquela região da Silésia, no Castelo de Ksiaz, que pertenceu à família Hochberg desde o século XVI, até ser confiscado pelo III Reich.

Muitos já acreditaram, por exemplo, que Walbrzych guardava a fabulosa Sala de Âmbar que Frederico I da Prússia mandou construir no início do século XVIII e que desapareceu por completo com a invasão alemã de Leninegrado (actual São Petersburgo) na Segunda Guerra. Mas, apesar das buscas, nada foi encontrado.

É por isso que investigadores como Joanna Lamparska, autora de vários livros sobre os mistérios da Silésia Inferior, permanecem muito cépticos quanto à possibilidade de vir a localizar a composição blindada a que os habitantes da região chamam “comboio dourado”. “Anúncios destes são às dezenas nos últimos anos”, disse à agência de notícias francesa, “este é simplesmente o que recebeu maior divulgação”. Lamparska justifica as suas dúvidas: “Os alemães registavam cuidadosamente tudo o que faziam em documentos, incluindo os seus crimes. E ainda não encontrámos nenhum sobre este comboio.” O resto do guião ainda está por escrever.

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