"Mesmo depois destas eleições, a estabilidade política não vai voltar à Grécia"
O primeiro-ministro Alexis Tsipras jogou numa instabilidade a curto prazo apostando numa possível maior estabilidade a médio prazo. O analista do centro de estudos Bridging Europe (de Atenas), Dimitris Rapidis, desconfia que irá falhar.
Dimitris Rapidis diz que a decisão de Tsipras poderá resultar a curto prazo, ou seja, ele estará ainda suficientemente forte para vencer eleições, mas provavelmente não a médio. Os credores, que receberam bem a notícia desta nova ida às urnas, não se aperceberam que o novo acordo vai falhar, defende o analista.
Sem maioria do seu governo no Parlamento, tinha Tsipras outra opção se não ir a votos?
Sim. Desde que o terceiro empréstimo fosse apoiado pelos chamados partidos pró-europeus (Nova Democracia, To Potami e Pasok), Tsipras poderia formar um governo alargado sem o apoio dos dissidentes do partido.
Ainda assim, escolheu ir a eleições, e com uma estratégia concreta – e esperta devo dizer: a) ele sabe que a oposição está distorcida e é eleitoralmente fraca, b) livrou-se dos rebeldes sem ter de se submeter a um voto de confiança que provavelmente perderia c), tem a maioria dos media do seu lado, d) evitou mais insurreição no Syriza depois de cancelar o congresso extraordinário do partido, e) decidiu ir a votos depois do acordo para o terceiro empréstimo e da primeira tranche ter sido aprovada.
Se ganhar, poderá fazer um governo com a Nova Democracia e To Potami e sem o novo partido que saiu do Syriza?
Sim, mas é demasiado cedo para fazer previsões sobre o resultado das eleições, já que é a primeira vez desde os anos 1970 que temos um ambiente político tão instável, volátil e frágil. Ainda assim, se o Syriza vencer, poderá formar um governo de coligação com a Nova Democracia e ou o Potami, sem o novo partido Unidade Popular. Esse desenvolvimento seria muito bem-vindo na Europa e na zona euro, mostrando que o Syriza se empenhou numa frente totalmente europeia com o objectivo de concretizar o acordo do empréstimo.
Há alguma hipótese de que saia um Governo de uma iniciativa da Nova Democracia? Qual é o principal objectivo do seu líder, Evangelos Meimarakis?
É altamente improvável. Com a actual composição do Parlamento, a Nova Democracia só pode formar governos de coligação em conjunto com o Syriza. De um modo geral, Meimarakis está a tentar impressionar o eleitorado grego tornando-se populista, arriscando-se a acabar de mãos vazias. Até ameaçou que estaria disposto a cooperar com a Aurora Dourada, o que é considerado insultuoso para uma grande parte dos seus eleitores de centro-direita. Foi uma má estratégia da sua parte e poderá custar-lhe uma queda ainda maior do seu partido.
Por que razão Tsipras não tem rivais? Como consegue manter a sua popularidade?
Sobretudo por causa da impopularidade dos seus concorrentes na oposição e falta de propostas alternativas. A decisão de ir a eleições aconteceu por isto mesmo. Ele sabe que os próximos meses vão ser realmente duros para si e para o Governo e quando as primeiras medidas do memorando começarem a ser aprovadas no Parlamento e as pessoas começarem a ver as terríveis consequências. Se as eleições fossem em Outubro ou Novembro seria quase certo que a popularidade dele teria descido significativamente. Ele sente que o momento para salvar a sua imagem e futuro político é agora. Nem um dia mais tarde.
É interessante que a reacção de Bruxelas às eleições tenha sido positiva. Porquê?
Os credores estão conscientes de que uma vez tendo sido aprovado o novo acordo não há regresso possível. Também contam que Tsipras esteja pronto a cooperar com outros partidos pró-europeus, tendo uma frente maior. Ao mesmo tempo, o Governo grego e os credores concordaram que a avaliação do programa vai ser constante e meticulosa, não deixando espaço a qualquer Governo para desafiar decisões ou receber o dinheiro e não fazer nada. Além disso, os credores estão certos de que o campo do Grexit não é assim tão poderoso e não pode pôr em risco o acordo. Mas o que os credores não se aperceberam agora é que este novo acordo está destinado a falhar e vai aumentar a instabilidade política e económica na Grécia nos próximos dois anos. A Grécia ainda não viu os seus piores dias, mas a sociedade grega e economia estão prestes a entrar num círculo vicioso de incerteza e turbulência.
Fontes europeias prevêem uma vitória de Tsipras, mas não é cedo demais para estas previsões?
As circunstâncias actuais mostram que a maior probabilidade é uma vitória de Tsipras. Estou a tentar ser muito cuidadoso com as minhas palavras porque o ambiente político é muito frágil e vemos numa base diária uma grande flutuação em termos de intenção de voto e de retórica política.
Ainda assim, acho que mesmo depois destas eleições, a estabilidade política não vai voltar à Grécia. A principal razão para acreditar nisto é que a economia grega se mantém e irá manter-se estagnada, subprodutiva, com falta de liquidez, e enfrentando uma enorme turbulência macroeconómica. O pacote de resgate não oferece nada em termos de crescimento já que está estritamente estruturado para servir o círculo da dívida, reciclando-a e aumentando-a para níveis astronómicos.
O que poderá acontecer nas eleições? Será a Unidade Popular o novo Syriza, o Syriza de Tsipas o novo Pasok, e o Pasok desaparecerá?
A médio prazo, é esse o quadro. Um círculo vicioso de partidos políticos falhados, sem uma agenda de reforma, um plano de crescimento, qualquer visão para inspirar os cidadãos e as gerações futuras. Espero que isto acabe, mas não será tão depressa.
Finalmente, qual será o papel de uma das figuras mais mediáticas, Yanis Varoufakis?
Varoufakis não tem qualquer plano de ir a eleições, pelo menos que saibamos. Tentou o seu melhor, preparou um Plano B, ganhou tempo para tentar que os credores ficassem mais perto da proposta grega, e finalmente decidiu demitir-se porque não estava disposto a aceitar os termos de outro pacote de austeridade.
Varoufakis tinha um plano concreto para o crescimento da Grécia que apresentou publicamente já em 2010. Voltou a apresentá-lo nas cimeiras do Eurogrupo de Maio e Junho, ajustado às circunstâncias actuais, mas este plano foi continuadamente rejeitado pelos seus homólogos com o vago argumento de não ser 'viável'.
Por agora, não tem planos para criar um partido, escolhendo voltar à academia e escrita de livros, e mantendo o seu envolvimento na discussão de políticas. Irá gradualmente começar a revelar documentos que irão certamente provocar histeria na zona euro, mais sobre o modo injusto e pouco democrático como a Grécia foi tratada nas negociações, assim como a verdadeira essência das propostas gregas.