António Costa: "Não prometo 207 mil postos de trabalho"

Líder do PS fala em medidas que têm como prioridade a criação de emprego.

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António Costa Miguel Manso

O Partido Socialista ensaiou ontem a clarificação de um dos números apresentados no dia anterior, constantes do seu Estudo Sobre o Impacto Financeiro do Programa Eleitoral. Tanto o próprio secretário-geral do PS, como o grupo de economistas que apoiou o PS a elaborar o documento, tentaram explicar a diferença entre promessas e compromissos . 

António Costa veio a público logo de manhã a partir de Viana do Castelo. "Eu não prometo 207 mil postos de trabalho, eu comprometo-me com um conjunto de medidas de política que tendo por prioridade a criação de emprego têm um estudo técnico a suportá-lo que estima um conjunto de resultados, na dívida, no crescimento, na redução do défice e também no emprego", afirmou à margem de uma visita  às festas da Senhora da Agonia. A mesma linha de argumentação foi seguida a partir do Largo do Rato. Um dos elementos do grupo de economistas afirmou ontem que o "compromisso" assumido era o de "implementar as medidas" das quais resultaria a criação de postos de trabalho.

As explicações não evitaram que o vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, viesse a público criticar o principal partido da oposição."O PS parece ter voltado à ideia de que são os Governos que criam os empregos e que são os cartazes que prometem empregos, e os portugueses sabem muito bem o que aconteceu há uns anos atrás quando alguém prometeu 150 mil postos de trabalho que depois não existiram", afirmou Portas numa alusão às promessas feitas pelo ex-primeiro-ministro, José Sócrates.
O membro do Governo referiu que "são as empresas que criam empregos e, portanto, a questão está em saber se as políticas propostas pela coligação e pelo PS são mais favoráveis à confiança, ao investimento e à criação de emprego".


Em Viana do Castelo, António Costa sublinhou que "convém não confundir promessas com aquilo que são estimativas dos resultados das promessas", explicando que o PS "não se limitou a apresentar um programa com um conjunto dos seus compromissos eleitorais mas apresentou também um estudo técnico sobre os impactos financeiros das medidas constantes do programa de Governo". "Tudo que nos comprometemos a fazer tem viabilidade orçamental, e cabe nas metas que temos acordadas com a União Europeia. Com o programa do PS não há nem risco de ruptura com o Euro nem há a fatalidade da impossibilidade de virar a austeridade", acrescentou o secretário-geral socialista.No dia anterior, o PS apresentara em Lisboa os cálculos finais do programa eleitoral, estimando que se as medidas que propõe fossem postas em prática poderiam criar, ao longo da próxima legislatura, até 207 mil empregos. No documento, o PS contabilizou a criação de emprego por áreas de intervenção. Sobre as propostas de medidas de aumento do rendimento disponível das famílias - como a eliminação da sobretaxa ou a redução da TSU para os trabalhadores - o PS estimou a criação de mais de 67 mil postos. As medidas de apoio ao financiemnto das empresas implicariam uma acréscimo de 28 mil postos de trabalho. As políticas activas de emprego seriam capazes de criar outros 55 mil. A reforma da administração pública - onde se incluem as propostas da criação de centros de competências ou a reorganização dos serviços desconcentrados e alargamento da rede de proximidade - acrescentaria mais de 20 mil empregos. As medidas nos sectores da saúde, educação poderiam gerar cerca de 4500. Para as propostas de valorização de território apontou-se a uma subida de 2800. As medidas de incentivo à inovação contribuíriam com mais de 21 mil. E até mesmo as políticas de apoio à comunidade de emigrantes portugueses acrescentava 466 postos de trabalho.

Logo no arranque para a campanha eleitoral das eleições legislativas, António Costa assumiu e emprego como a prioridade das políticas a implementar por um Governo liderado pelo PS. E aontem, ainda no rescaldo da apresentação do estudo, era essa a mensagem que se tentava transmitir a partir da sede do PS. Todos os documentos - cenários, estratégia e programa eleitoral - tinham como questão central a resolução do principal entrave à economia portuguesa, identificado como a gestão do mercado laboral. Daí que, para o PS, a "reforma efectiva das relações laborais" seja essencial. E que está reflectido nas propostas de redução do âmbito dos contratos a prazo e do processo de conciliação para cessação do contrato de trabalho. Para o qual a entidade patronal poderia invocar razões económicas. E que em contrapartida, o PS propoe um aumento da indemnização e protecção social para o trabalhador.  
Costa viu-se ainda forçado a reagir à carta que o ex-primeiro ministro socialista José Sócrates, detido preventivamente em Évora, enviou à SIC e ao Jornal de Notícias  onde acusava a justiça de ter "uma verdadeira motivação" de impedir a vitória do PS nas legislativas de Outubro, António Costa apenas disse que "não comenta casos judiciais, quaisquer que eles sejam, designadamente esse caso". "Vou estar centrado naquilo em que estou centrado, que é a apresentação do meu programa eleitoral, na discussão do meu programa eleitoral", frisou, exigindo aos outros partidos políticos "em particular à direita, que apresente as suas contas".

"Hoje o principal responsável da elaboração do programa da direita vem dizer que não tem que apresentar contas. Ele não quer apresentar as contas. Quer esconder as contas aos portugueses. Quer que os portugueses não saibam aquilo que, efectivamente, se comprometem a fazer", disse, referindo-se a uma entrevista ao Jornal de Negócios do coordenador do programa económico do PSD/CDS, Pedro Reis. António Costa adiantou que para que os eleitores possam, no próximo dia 4 de Outubro, "escolher bem, com confiança, é fundamental, que ninguém tenha cartas escondidas nas mangas".