Três universidades nacionais seguram-se entre as 500 melhores do mundo

Lisboa, que continua entre as 300 primeiras, é a melhor representante portuguesa na lista. Porto e Coimbra também constam da edição de 2015 do ranking de Xangai.

Foto
Mais de 1200 universidades de todo o mundo são analisadas Enric Vives-Rubio

Apesar das dificuldades dos últimos anos e da cada vez maior concorrência global, três representantes portuguesas continuam entre as 500 melhores do mundo. A Universidade de Lisboa (UL) continua a ser a melhor colocada, seguindo-se as universidades do Porto e Coimbra. As três conseguem manter-se nas mesmas posições do ano anterior.

O ranking do ano passado tinha sido o primeiro em que a UL fora avaliada como uma única instituição, em resultado da fusão entre a Técnica de Lisboa e a “Clássica”. Surgiu então no grupo que vai da posição 201 à 300 – a lista de Xangai só discrimina as posições das instituições até ao lugar 100; a partir daí, aparecem posicionadas em grandes intervalos. Na edição de 2015, a maior instituição de ensino superior nacional permanece no mesmo intervalo.

O vice-reitor António Feijó diz que a análise aos resultados que é feita internamente pela UL aponta, contudo, para uma melhoria da sua posição relativa: tendo em conta os indicadores disponíveis, diz, a universidade portuguesa está no lugar 201, sendo a melhor do seu intervalo, o que representa uma subida de 41 lugares face ao ano anterior.

“É um resultado muito interessante para nós”, avalia António Feijó, valorizando também o facto de haver três instituições nacionais entre as 500 melhores do mundo.

Harvard em 1.º lugar, outra vez
As outras duas representantes portuguesas também não alteram a sua posição na lista. A Universidade do Porto mantém-se, pelo terceiro ano consecutivo, entre os lugares 301 e 400. A Universidade de Coimbra, que há dois anos tinha entrado pela primeira vez nesta lista, continua no intervalo 401-500. A manutenção destas posições é um resultado positivo para as instituições nacionais, que conseguem resistir à maior concorrência internacional – são mais de 1200 as universidades analisadas, assistindo-se sobretudo ao crescimento do contingente asiático.

Também a nível global, a ordenação deste ano do Academic Ranking of World Universities – o nome oficial desta tabela – não apresenta grandes novidades. Desde 2003, quando esta lista começou a ser editada, que a liderança é entregue à Universidade de Harvard (EUA) e, nesta edição, continua a ser assim.

De resto, nas posições cimeiras da lista não há nenhuma alteração em relação ao ano passado, mantendo-se a Universidade de Stanford, o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e a Universidade da Califórnia – Berkeley nas posições seguintes. A quinta colocada é a Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

Além da ordenação geral das universidades, o ranking de Xangai contempla também listas em áreas científicas e disciplinas. Os primeiros lugares continuam a ser dominados pelas representantes norte-americanas. Entre as portuguesas é, mais uma vez, a UL que aparece mais bem colocada, surgindo nas listas de Ciências da Computação (no grupo que vai do 151 ao 200), Física (151-200) e Matemática (101-150). Nas engenharias, à UL (101-150), juntam-se, no intervalo 151 a 200, a Universidade do Porto e a Universidade de Aveiro, que mesmo não constando na lista geral, consegue um lugar neste ranking específico, à semelhança do que já tinha acontecido no ano passado.

O ranking de Xangai é editado pelo Center for World-Class Universities, um centro de investigação sobre universidades de classe mundial criado há 25 anos na universidade chinesa de Jiao Tong. Foi o primeiro ranking de universidades a ser lançado, há 14 anos, e acabou por criar um movimento internacional que se tem tornado cada vez mais competitivo. A tabela editada na China parte de seis indicadores, incluindo o número de antigos alunos, professores e investigadores que receberam prémios Nobel, o número de cientistas altamente citados, o número de artigos publicados em revistas como a Nature e a Science e o número de artigos indexados.

O pior ainda está para vir?
Ao longo dos últimos quatro anos, quase 300 milhões de euros de reduções no financiamento público ao ensino superior em Portugal levaram os reitores a lançarem um recorrente aviso: os cortes terão efeitos na competitividade internacional das universidades e isso vai reflectir-se nos rankings. Os resultados das instituições nacionais na edição 2015 da lista de Xangai parecem contrariar esta versão. Os responsáveis do sector temem, porém, que o pior em termos de efeitos ainda esteja para vir.

“Só dentro de um a dois anos é que vamos sentir as consequências, se é que elas existem”, defende o reitor da Universidade do Porto (UP), Sebastião Feyo de Azevedo. O vice-reitor da UL concorda com esta ideia: “Os prazos são mais diferidos. O impacto pode surgir nos anos imediatamente a seguir.”

A opinião dos dois responsáveis tem uma explicação: os cortes dos últimos anos tiveram efeitos negativos sobretudo ao nível do ensino e não tanto na investigação. Já as consequências para a Ciência vão estar mais directamente relacionadas com a recente avaliação dos centros de investigação pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) – que eliminou à partida cerca de metade dos laboratórios da possibilidade de receberem financiamento e reduziu drasticamente as verbas de mais algumas dezenas. Como o processo só ficou concluído no início deste ano, os seus efeitos apenas vão ser sentidos daqui para a frente.

“Não é ainda possível prever os resultados destes cortes, mas é algo que temos que continuar a acompanhar com atenção e preocupação”, defende António Feijó. Já Feyo de Azevedo não tem a certeza de que os cortes no financiamento da Ciência venham a significar forçosamente piores resultados em rankings como o de Xangai. “Os grandes grupos de investigação são quem contribui mais fortemente para a produção científica que é contabilizada e esses mantiveram financiamento generosos”, diz o reitor da UP.

Para este responsável, a manutenção dos resultados das universidades portuguesas no período mais difícil da crise “é um bom sinal”. “Conseguimos atenuar os danos. Com a abertura de novos fundos que temos agora [por via do novo programa comunitário Portugal 2020], vamos conseguir melhorar ainda mais a nossa produtividade”, acredita.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários