Urgências do Algarve cheias com idosos desidratados
Profissionais de saúde estão à beira da exaustão, avisa presidente do Centro Hospitalar do Algarve.
São basicamente "idosos desidratados" que vivem sozinhos ou residem em lares que por estes dias têm lotado as urgências do Algarve, descreve. “Não é um calor tórrido mas as noites têm estado muito quentes sobretudo no sotavento algarvio. E são as temperaturas mínimas muito elevadas que contribuem para descompensar doenças dos idosos”, explica Pedro Nunes, que nota que as urgências estão já a sofrer “a mesma pressão” que habitualmente sentem no Inverno e "Agosto ainda nem começou". "A crise, que levou à emigração de muitas pessoas, faz com que haja cada vez mais idosos a viver sozinhos", justifica.
O resultado é que, por dia, a procura dos seis serviços de urgência tem superado habitualmente "as 900 pessoas", quando, "nos períodos de acalmia, o número ronda os 600 atendimentos diários", compara o médico e administrador hospitalar. Os internamentos também têm estado a aumentar. Se, no mesmo período do ano passado, a média diária de internamentos era 45, este ano ascende a 50, de acordo com os dados fornecidos ao PÚBLICO.
A maior procura verifica-se na urgência do hospital de Faro, seguida da urgência do hospital de Portimão, mas os serviços de urgência básica de Albufeira, Loulé, Vila Real de Santo António e Lagos também têm contabilizado muitos atendimentos nos últimos dias. Em Albufeira, por exemplo, desde 20 deste mês, a média diária de atendimento é de 145 doentes, quase tantos como os registados na urgência do hospital de Portimão. Os serviços de urgência de Albufeira e de Vila Real de Santo António foram, aliás, reforçados com um terceiro médico, revela.
Para já, foram activadas oito camas suplementares em Faro, mas há mais 22 preparadas para abrir, caso tal se revele necessário, especifica Pedro Nunes. O problema é que, para abrir camas, é necessário ter enfermeiros e médicos e o Algarve continua a ter grandes dificuldades para atrair profissionais de saúde para a região, lamenta.
"A situação está a complicar-se", avisa, enquanto lembra que o Algarve é “uma região bipolar, com dois períodos de crise,o Inverno [devido ao frio e à gripe], e o Verão, quando a população duplica (passa de 700 mil para cerca de 1,5 milhões)" e o calor aperta. Apesar desta sazonalidade, o pessoal "não duplica" no Verão. "Os profissionais são os mesmos e muitos estão a ficar envelhecidos e cansados. Há cirurgiões gerais à beira da exaustão. E por vezes torna-se muito complicado assegurar as escalas das urgências", sintetiza.
A solução possível tem passado pelo recurso a contratação de médicos “tarefeiros” (em prestação de serviços, à tarefa), mas, mesmo neste tipo de situação, há constrangimentos porque estão definidos valores máximos (30 euros por hora para especialistas e 25 euros/hora para clínicos gerais) e apenas excepcionalmente tem sido possível pagar 40 euros nas especialidades mais carenciadas, como a anestesiologia, a ginecologia e a pediatria, afirma.
Esta "não é uma solução de futuro", defende Pedro Nunes, que lembra que muitos concursos de recrutamento para o Algarve continuam a ficar “vazios” e que há médicos que se vão embora "para Lisboa, Porto e Coimbra, ou que emigram", na falta de incentivos já anunciados mas que tardam a concretizar-se. “A situação está a aproximar-se do dramático, os profissionais estão cada vez mais cansados, vamos ver se conseguimos continuar a resistir. É preciso redistribuir os quadros médicos pelo país, com incentivos ou à força", reclama.
Esta semana, a Administração Central do Sistema de Saúde anunciou, em comunicado, que, desde o início do ano até ao passado dia 23, autorizou a contratação de 205 médicos e 1341 enfermeiros para os hospitais do sector empresarial do Serviço Nacional de Saúde em todo o país. Deste total, a região do Algarve foi a menos beneficiada no conjunto das cinco regiões de saúde portuguesas – recebeu apenas 4 médicos e 64 enfermeiros.