Passos nega que Lula lhe tenha metido qualquer “cunha” pela Odebrecht

Reuniram três vezes mas nunca falaram sobre casos concretos de empresas, garante Passos.

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Passos Coelho e Lula da Silva em 6 de Setembro de 2011, à entrada para um jantar privado em Lisboa que contou também com as presenças de Paulo Portas e de Miguel Relvas Nuno Ferreira Santos

“Deixe-me usar uma expressão que eu acho que toda a gente percebe: o ex-Presidente Lula da Silva não me veio meter nenhuma cunha para nenhuma empresa brasileira”, afirmou Pedro Passos Coelho, em Lisboa, quando questionado pelos jornalistas sobre se não lhe foi pedido que fosse dado particular interesse ou atenção a alguma empresa brasileira no processo das privatizações.

“Para ser assim uma coisa que toda a gente perceba direitinho, é assim: não me veio dizer: ‘Olhe, o senhor veja lá, há aqui uma empresa que eu gostava, que se o senhor pudesse dar um jeitinho e tal…’ Isso não aconteceu”, vincou o chefe de Governo. Que acrescentou: “E nem aconteceria, estou eu convencido, nem da parte dele nem da minha parte.”

Passos Coelho rematava assim as declarações aos jornalistas sobre os encontros com Lula da Silva em que, de acordo com o jornal brasileiro O Globo, o antigo Presidente brasileiro terá alegadamente promovido os interesses da construtora Odebrecht nos concursos de privatização abertos pelo Governo português.

Na mira das autoridades judiciais, avança aquele jornal, estarão encontros entre os dois em 2013, assim como telegramas diplomáticos do embaixador do Brasil em Lisboa em que este descreve que o governante português “reagiu positivamente ao pleito brasileiro”. Hoje, o primeiro-ministro foi taxativo dizendo não ter recebido “nenhum” pedido de informação das autoridades judiciais brasileiras sobre o caso.

À saída de um almoço-conferência promovido pelo Fórum de Administradores de Empresas, além de negar que Lula da Silva lhe tenha pedido alguma “cunha” para empresas brasileiras, Passos Coelho avançou que teve três encontros com o antigo Presidente e que lhe disse que o Governo português “sempre viu com interesse a participação de empresas brasileiras ou de quaisquer outras empresas no processo de privatizações que decorreu em Portugal”.

Passos diz não ter conversado “sobre casos muito específicos” e que não tem “ideia nenhuma de algum caso em concreto” lhe ter sido mencionado. “Mas para o caso de ter sido – nestas coisas a gente nem sempre guarda memória de todas as palavras que são ditas – mas para o caso de alguma menção ter sido feita, foi meramente incidental ou exemplificativa, no sentido de que poderia haver maior interesse por parte de empresas brasileiras em processos que estivessem anunciados para futuro. Isso pode ter acontecido”, admitiu o chefe do Governo.

O governante garantiu que desde que assumiu o cargo “nunca ninguém" lhe "veio pedir para prestar uma atenção dedicada a um determinado processo de privatizações porque uma empresa em particular tivesse este interesse ou outro interesse”. “Nunca, em períodos em que estivessem a decorrer processo de privatizações, recebi sequer pessoas que estivessem directamente associadas a eventuais interessados nos processos que estão a decorrer”, vincou ainda.

“Quando o processo se iniciou havia até uma perspectiva de que várias empresas brasileiras pudessem vir a apresentar propostas às diversas empresas que foram privatizadas e isso até acabou por não acontecer muito. Houve um certo desinteresse, aparentemente, de empresas brasileiras nos nossos processos de privatização”, descreveu Passos, que disse ter comentado sobre isso com Lula da Silva

Sobre a Odebrechet - cujo nome Passos Coelho nunca pronunciou nesta declaração – e o seu possível interesse na EGF – Empresa Geral de Fomento, o governante salientou que foi privatizada “sem que sequer qualquer empresa brasileira tivesse apresentado proposta alguma”.

“Portanto, no resultado em concreto, qualquer que fosse a intenção de alguém em arranjar maneira de posicionar melhor ou pior alguma empresa, independentemente disso, isso não teve qualquer consequência com a realidade porque a EGF foi vendida no âmbito da privatização à empresa Suma que é uma empresa portuguesa, que foi, de resto, a que apresentou melhor proposta. E a empresa brasileira que é referida nem sequer apresentou candidatura.”

Passos salientou que as privatizações foram “um processo muito aberto, muito participado, muito competitivo, felizmente. Acabámos por fazer encaixes financeiros num montante que duplicou aquele que estava inicialmente previsto.”

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