Onde as suspeitas sobre Lula se cruzam com o caso de Sócrates

Os dois ex-líderes são amigos e ambos são suspeitos em casos de corrupção, em Portugal e no Brasil.

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Lula e José Sócrates no lançamento de um livro do antigo primeiro-ministro DR

Ricardo Pessoa, o tal “delator”, é o dono da construtora UTC, que integrava o consórcio de empresas em causa. As outras eram: a Andrade Gutierrez, accionista da Oi que fez a fusão com a telefónica portuguesa  PT, num negócio que teve intervenção política ao mais alto nível (no tempo em que Lula e Sócrates estavam em funções),  e cujo presidente Otávio Azevedo se encontra detido no Brasil, depois de ter sido administrador da empresa luso-brasileira, tendo saído após revelação de que havia 900 milhões de dívida do Grupo Espírito Santo nas contas da PT ; a Odebrecht, que venceu o concurso para a construção do troço Poceirão-Caia do TGV, em parceria com o Grupo Lena, do qual foi administrador, até 2009, Carlos Santos Silva, o amigo e financiador de José Sócrates; e, por fim, a cimenteira Camargo Corrêa, de que foi administrador para África Armando Vara, recentemente detido na Operação Marquês.

Várias notícias na imprensa portuguesa (jornais i e Correio da Manhã), deste ano, davam conta de que a equipa que investiga a Operação Marquês procurava indícios precisamente na relação entre Lula, Sócrates e a Odebrecht. Um deles seria o alegado pagamento pela construtora da viagem do ex-Presidente brasileiro a Lisboa que coincidiu com a apresentação do livro de José Sócrates, em Outubro de 2013, feita pelo próprio Lula. O outro seria a relação da construtora brasileira, e da sua filial portuguesa (que até 2013 se chamou Bento Pedroso Construções), com o Grupo Lena (que tem dois arguidos no processo português).

Dois anos antes desta visita, em Setembro de 2011, Lula da Silva deslocou-se a Lisboa, como “embaixador” de investimento brasileiro em Portugal, nomeadamente nos Estaleiros de Viana e na TAP. Duas semanas depois nesse mesmo mês, Sócrates participou na cerimónia de homenagem ao antigo presidente do Brasil Lula da Silva, em Paris.

Há ainda um outro elo. Hermes Magnus, o empresário brasileiro que foi primeiro denunciante do caso Lava Jato no Brasil, explicou, numa entrevista ao PÚBLICO, em Fevereiro de 2015, que foi contactado para servir de “mula” no esquema de extorsão entre políticos e empresários brasileiros: “Queriam que eu levasse para o Brasil dinheiro de contas do BES, no Porto. As contas eram dele [José Janene, cacique político do PP-Partido Progressista], para lavar dinheiro em Portugal, mas ouvi dizer que estavam associadas a sociedades off-shore.” Magnus recusou, e o seu substituto nessa operação acabaria por ser preso, num aeroporto brasileiro, com mais de 600 mil euros escondidos na roupa interior. Todos estes factos, incluindo a utilização do banco português, foram transmitidos por Magnus às autoridades brasileiras. Ricardo Salgado, do GES, António Mexia, da EDP, então ministro da Economia de Durão Barroso, e Miguel Horta e Costa, da PT, chegaram a ser envolvidos nos primórdios do escândalo brasileiro, na altura chamado Mensalão, por ter sido sugerida por uma testemunha a sua contribuição para os cofres do partido de Lula. A denúncia não foi considerada segura e os empresários portugueses foram ouvidos apenas como testemunhas no processo.

A imprensa brasileira revela também que a actual Presidente do Brasil, Dilma Russef, escolheu a cidade do Porto para um encontro “discreto” com Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal brasileiro, supostamente para discutir o caso Lava Jato. O Planalto negou que esse fosse o tema da conversa, que ocorreu na passada quinta-feira, 9 de Julho.

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