Má alimentação é o factor que rouba mais anos de vida saudável aos portugueses

Relatório da Direcção-Geral da Saúde destaca evolução positiva da saúde dos portugueses na última década, mas alerta para problemas nos estilos de vida.

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O documento apresentado pelo director-geral da Saúde, Francisco George, mostra que praticamente todos os indicadores de saúde melhoraram na última década, da esperança média de vida, passando pela mortalidade infantil e pela mortalidade atribuível às doenças do aparelho circulatório. No entanto, como salientou na apresentação o ministro da Saúde, Paulo Macedo, os estilos de vida estão a ser um travão a resultados ainda melhores e podem ser um problema num futuro que se prevê esmagado pelo peso das doenças crónicas não transmissíveis, que já representam 85% do total das doenças em Portugal.

Depois dos hábitos alimentares inadequados, só a hipertensão tem um peso tão grande (16,5%) nos chamados anos de vida saudável perdidos. A dieta pobre em fruta surge à cabeça como comportamento alimentar com mais influência nesta perda de saúde, seguida pela dieta rica em sal e pela dieta pobre em vegetais. As doenças do aparelho circulatório são a principal consequência destes maus hábitos, seguidas pelo cancro. Esta doença maligna é, aliás, das poucas com dados dúbios nos dez anos para os quais a DGS apresentou números. As doenças do aparelho circulatório ainda são a principal causa de morte do país, mas olhando apenas para os dados abaixo dos 70 anos o cancro encabeça a tabela.

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Há cada vez mais casos de tumores malignos no país, sendo esta a doença que retira mais anos de vida prematura aos portugueses, apesar dos doentes viverem cada vez mais tempo com cancro. A este propósito, Francisco George congratulou-se por, mesmo assim, terem conseguido reduzir na última década, mas sobretudo nos últimos cinco anos, a chamada mortalidade prematura, ou seja, a morte de pessoas com menos de 70 anos. Em 2014 cerca de 22% das mortes aconteceram abaixo desta idade, quando em 2004 o valor foi de 27%. O director-geral da Saúde acredita que é possível reduzir este número para menos de 20% até 2020, como está aliás previsto no Plano Nacional de Saúde.

A sessão de apresentação contou com a presença de vários dirigentes do sector da saúde e teve um tom de balanço. De balanço dos últimos quatro/cinco anos de governação de Paulo Macedo, mas também de balanço comparativo. “Quinquénio” foi das palavras mais repetidas sempre que foram apresentados indicadores, para destacar a evolução positiva que o actual Governo conseguiu perante o antecessor PS e com o ministro a salientar os “tempos de adversidade” em que liderou a pasta da Saúde.

No entanto, Francisco George reproduziu oralmente uma ressalva que é feita no próprio relatório da DGS. “Mantém-se uma tendência positiva em todas as fases da vida, em especial no último quinquénio. O nível de saúde da população tem tido ganhos ano após ano, atestados pela evolução dos indicadores. Mas há uma preocupação que não pode ser ignorada. Os êxitos alcançados constituem um enorme desafio na sua manutenção. Nós não podemos deixar de admitir que os efeitos da crise económica, financeira e social nos indicadores a médio prazo”, disse o director-geral da Saúde.

Aliás, o próprio relatório estabelece uma ligação, por exemplo, entre a apreciação que as pessoas fazem do seu estado de saúde e a situação profissional, Os empregados são os que mais frequentemente fazem avaliação positiva (61,4%), por oposição aos desempregados, com 52,5%, os inactivos, com 49% e os reformados com 12,8%. George destacou, a propósito das dificuldades, o papel que a “resiliência dos cidadãos” pode ter tido para evitar a degradação dos números no imediato.

Também Paulo Macedo admitiu que “se calhar não tínhamos resistido tão bem” à crise sem alguns factores da cultura portuguesa, como a “rede de cuidadores informais”. O ministro destacou, ainda o papel dos dirigentes e profissionais de saúde, defendendo que, de futuro, é preciso repor a estes funcionários os cortes salariais. Quando à saúde, traçou como meta a aposta não só em mais “quantidade” de vida, como em “anos com qualidade”.

Já alguns dos presentes, nomeadamente o professor da Escola Nacional de Saúde Pública e coordenador do programa do PS para a área da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, e o reitor da Universidade Nova de Lisboa, António Rendas, apelaram a cautela perante os impactos da crise que ainda possam não ter chegado aos indicadores e lembraram que o SNS tem uma história de mais de três décadas a contribuir para os actuais valores.

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