Tunísia entra em regime policial para proteger o turismo

Enquanto a Europa mede o risco no seu território, Governo da Tunísia põe centenas de polícias e militares a vigiar estrangeiros. Homens com menos de 35 anos estão proibidos de viajar para a Líbia.

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Mais mil polícias armados vão proteger os turistas nas praias e monumentos Zohra Bensemra/Reuters

O objectivo do Governo é travar a hemorragia de turistas que abandonam o país com receio de que se repita o ataque de sexta-feira, dia em que o jovem Seifeddine Rezgui, estudante universitário de 23 anos, matou 39 turistas em nome do autoproclamado Estado Islâmico e feriu outros 40. Seis estão em estado grave.

O turismo é crucial para a Tunísia e muita da resposta forte que está a ser dada pelo Governo é para consumo externo. Na Europa, os governos alertaram para a insegurança no país e para a possibilidade de novos ataques. Sobretudo o executivo britânico, que anunciou já que 15 das vítimas do ataque em Sousse são cidadãos nacionais e que espera, segundo a BBC, que esse número suba para os 25 ou 30. O ataque mais mortífero a cidadãos britânicos desde os atentados de 2005 em Londres.

Ao regime de policiamento imposto pelo Governo tunisino para proteger os estrangeiros, soma-se a resposta interna, ainda mais severa. Parte do plano para evitar a radicalização islamista no país, e que já passa por encerrar associações civis e cerca de 80 mesquitas consideradas “radicais”, o executivo quer proibir todos os homens com menos de 35 anos de viajarem para a Líbia. A Primavera Árabe foi para a Líbia o que não foi para a Tunísia: um barril de pólvora que deixou o país ingovernável e à mercê de dezenas de grupos armados, grande parte deles fundamentalistas islâmicos.

Mas está agora em causa o destino da Tunísia, o único caso de sucesso da Primavera Árabe. Depois de 2011, o país aprovou uma nova Constituição, teve duas eleições livres e evoluiu significativamente na área dos direitos civis e religiosos. Agora, o país parece estar a responder com uma mão de ferro ao atentado de sexta-feira, o segundo grande ataque desde o tiroteio no museu Bardo, em Março, que matou 23 turistas. Em parte, esta resposta deve-se à dependência do turismo ocidental. “É no melhor interesse do ocidente fazer tudo o que pode para evitar que a Tunísia siga os passos da Líbia para a instabilidade crónica, despertando uma nova vaga de migrantes no Mediterrâneo”, escreve o The Observer no seu editorial de domingo.

Segurança máxima
Por enquanto, a Europa olha para as suas fronteiras. Os ataques de sexta-feira reivindicados pelo autoproclamado Estado Islâmico, na Tunísia e Kuwait, seguiram-se ao apelo lançado pela organização fundamentalista na semana passada de que este Ramadão seja de “calamidade para os infiéis”. França e Espanha anunciaram logo na sexta-feira que haviam aumentado o nível de alerta face a ameaças terroristas. No Reino Unido, o nível manteve-se o mesmo que foi anunciado em Agosto: “Severo”. No sábado surgiram informações, não confirmadas oficialmente, de que as autoridades britânicas impediram um ataque que teria como alvo o desfile das Forças Armadas britânicas desse mesmo dia.

Mas em França ainda restam muitas dúvidas sobre se o ataque de sexta-feira foi um acto isolado de um fundamentalista islâmico ou se, por outro lado, aconteceu por ordem de uma organização extremista. Neste domingo, Yassim Salhi confessou ter matado e decapitado o seu patrão antes de se dirigir para uma fábrica de gás nos arredores de Lyon e de a ter tentado incendiar, sem sucesso. No local, Salhi deixou lençóis brancos com escritos islâmicos ao lado da cabeça do seu patrão, entretanto identificado como Hervé Cornora. As inscrições, contudo, são apenas profissões de fé e não estão ligadas a nenhum grupo fundamentalista em específico.

Na casa de Salhi, as autoridades não descobriram armas, material propagandístico ou provas de que o francês de 35 anos teve cúmplices para o ataque à fábrica – a sua mulher, irmã e um terceiro indivíduo não identificado, detidos na sexta-feira, foram libertados no domingo. Em todo o caso, há sinais de que Salhi contactou com o exterior durante o ataque. A polícia francesa descobriu no domingo que Salhi enviou fotografias da cabeça decepada de Hervé Cornora para um telemóvel na Síria.

O caso continua incerto. “Não sabemos se estamos a lidar com um fundamentalista que perdeu a cabeça ou com um terrorista verdadeiro”, disse à Reuters um responsável ligado à investigação. “Os investigadores estão a pensar que isto pode ter sido um simples acto criminoso.”

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