Gregos esbanjam optimismo sobre um acordo com credores, UE aconselha cautela

Atenas enviou para Bruxelas novas propostas de austeridade, que passam pelo aumento do IVA e dos objectivos de excedente orçamental. Tsipras avisa que um falhanço “seria o princípio do fim para a zona euro”.

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"Se a Grécia for abaixo, os mercados vão automaticamente procurar a próxima vítima", avisou Tsipras Alkis Konstantinidis/REUTERS

"Ouvi muito optimismo do lado grego, e temo que estejam a subestimar a complexidade do que estamos a pedir-lhes”, disse Dijsselbloem à televisão holandesa RTL Nieuws. No entanto, Valdis Dombrovskis, vice-presidente da Comissão Europeia, disse acreditar que “é possível chegar a um acordo nos próximos dias”. Embora com condições: “É preciso que haja vontade política das autoridades gregas, menos táctica e manobras, e mais trabalho sobre a substância”, avisou.

As propostas de Atenas incluem o aumento do IVA em alguns produtos, de forma a aproximar os objectivos de excedente orçamental primário para 0,75% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano (actualmente em 0,6%), o que se aproximaria mais do 1% pretendido pela UE e pelo FMI. Para o ano que vem, este aumento do IVA faria crescer o excedente orçamental para 1,75% (enquanto os credores da Grécia pretendem 2%).

Isto foi o que o jornal grego Ekathimerini avançou, diz a agência Lusa – as propostas não foram tornadas públicas. Ainda assim, alguns porta-vozes da Comissão Europeia afirmaram rapidamente que estas ofertas não chegam para fechar um acordo: “O que foi submetido não é suficiente para fazer avançar o processo”, disseram várias fontes do executivo europeu à agência Reuters, embora sublinhando que a Comissão estava ainda a avaliá-las. Outra fonte adiantou que a Grécia estava a alterar as propostas.

Prolongar resgate?
Sobre a notícia avançada na segunda-feira à noite pelo jornal norte-americano Wall Street Journal, de que os credores teriam proposto na semana passada à Grécia uma extensão do programa de resgate de 245 mil milhões de euros até Março de 2016, em vez de terminar no fim deste mês, não houve comentários. Esta ideia teria sido apresentada ao primeiro-ministro Alexis Tsipras na quarta-feira passada, como forma de desbloquear as negociações – mas vinha com as condições de reforço da austeridade sempre recusadas pela Grécia.

Para impedir a bancarrota, Atenas receberia cerca de 10.900 milhões de euros da dívida grega detida pelo Banco Central Europeu, ao abrigo do Mecanismo de Estabilidade Europeu, criado para garantir a saúde dos bancos gregos, diz o diário americano.

Esta é uma ideia defendida pelo ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, sublinha a AFP: dos 27 mil milhões de euros de obrigações do tesouro gregas compradas pelo BCE, uma parte vence neste Verão. A ideia seria conceder um empréstimo com taxa de juro baixa para que a Grécia pudesse readquirir as obrigações ao BCE, o que facilitaria o regresso aos mercados, diz a agência francesa.

Mas o próprio FMI não ficaria muito satisfeito em aumentar a dívida da Grécia, diz o Wall Street Journal, e o Governo grego também não gosta dessa ideia. Além disso, tudo depende do que se exige em troca. Depois de conhecer esta proposta, Tsipras afirmou, na sexta-feira passada, num discurso no Parlamento grego, que as propostas dos credores eram “irracionais” e “absurdas”.

A UE e o FMI exigiram mais uma vez o que Tsipras não está disposto a dar. “Não podemos persistir com um programa que falhou claramente”, afirmou Tsipras ao jornal italiano Corriere della Sera, numa entrevista publicada nesta terça-feira. “Não é possível que a Grécia seja forçada a agir como se não se tivessem realizado umas eleições que mudaram o Governo há quatro meses”, disse.

“Após cinco anos de austeridade, é inconcebível que nos peçam que acabemos com as pensões mais baixas ou com benefícios que afectam os cidadãos mais pobres. Ou que aumentemos em 10% os preços da electricidade num país em que milhares de pessoas não têm luz. Ou abolir os subsídios de aquecimento, quando há pessoas que morrem de frio. São propostas que não podemos aceitar”, explicou Tsipras.

Se a Grécia quer projectar uma mensagem de optimismo, fazendo crer que nesta quarta-feira será possível chegar a acordo – quando o prazo para evitar a bancarrota se está a aproximar perigosamente do fim, Tsipras fez questão em sublinhar que não é verdade que a União Europeia e o euro sobreviveriam sem grandes problemas a um cenário de Grexit. “Acho que é óbvio. Seria o princípio do fim para a zona euro”, declarou ao Corriere della Sera.

“Se a liderança política europeia for incapaz de resolver o problema da Grécia, que representa apenas 2% da sua economia, como é que os mercados vão reagir face a países com problemas muito maiores, como Espanha ou Itália? Se a Grécia for abaixo, os mercados vão automaticamente procurar a próxima vítima. O custo para os contribuintes europeus será enorme, se as negociações falharem”, garantiu o primeiro-ministro grego.

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