Ai Weiwei já não pode dizer que nunca expôs na China

A exposição chama-se Ai Weiwei. Se soa como alguém que se apresenta pela primeira vez, é porque é isso mesmo. É a primeira exposição individual do artista no seu país natal.

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O cartaz da exposição: a xposição chama-se simplesmente Ai Weiwei
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A estrutura de madeira reconstruída na exposição é representativa da arquitectura imperial chinesa

A mais recente exposição do artista é tão monumental que ocupa não uma, mas duas galerias diferentes. Trata-se de uma imponente estrutura de vigas e pilares pertencentes a um pavilhão cerimonial da era da Dinastia Ming (1368-1644) situado numa aldeia do sul da China que foi desmantelado em 1500 peças e meticulosamente reconstruído no interior de duas galerias adjacentes, a Galleria Continua e o Tang Contemporary Art Center, em Pequim.

A exposição chama-se simplesmente Ai Weiwei. Se soa como alguém que se apresenta pela primeira vez, é porque é isso mesmo. É a primeira exposição individual do artista no seu país natal. Numa conversa com o curador da exposição, Cui Cancan, cuja transcrição foi disponibilizada aos jornalistas presentes na inauguração, Ai Weiwei explicou que ao dividir a instalação entre duas galerias quis “fazer um statement”, um gesto que não passasse despercebido. “Queria que se notasse que estou a fazer uma exposição na China”, disse o artista, citado pelo New York Times. “Quero mostrar que nunca fiz uma exposição. Depois de acontecer, não posso dizer que nunca expus na China.”

No dia da inauguração, Ai Weiwei tirou selfies com admiradores, que rapidamente foram parar às redes sociais. Questionado sobre como se sentia por finalmente poder estar presente na abertura de uma das suas exposições, o artista foi lacónico, segundo o New York Times, respondendo apenas: “É surpreendente. É uma sensação diferente.”

A exposição não é tão explicitamente política como o mais recente trabalho do artista, que em 2011 foi detido pelas autoridades chinesas no aeroporto de Pequim e preso durante 81 dias sem acusações formais. No ano passado, Ai Weiwei expôs 176 retratos em Lego de prisioneiros de consciência e exilados políticos na antiga prisão de máxima segurança de Alcatraz, em São Francisco.

Ai Weiwei foi montado com a aprovação prévia das autoridades chinesas. “O trabalho em si não é nada político, não contém nada passível de censura”, disse a directora da Galleria Continua, Federica Beltrame, ao New York Times. A exposição, que encerra a 6 de Setembro, era para ter inaugurado a 30 de Maio, mas foi adiada uma semana a pedido das autoridades, que não queriam que ela abrisse antes do aniversário do massacre de Tiananmen, a 4 de Junho. A estrutura de madeira reconstruída na exposição é representativa da arquitectura imperial chinesa e resulta de uma técnica de construção milenar com raízes na filosofia e no pensamento chineses, segundo o comunicado da Galleria Continua.

A estrutura pertencia originalmente ao salão central do Pavilhão Ancestral Wang, um templo com mais de 400 anos dedicado ao culto de Wang Hua, um príncipe do século VI, e habitado por gerações dos seus descendentes. Após a chegada do regime maoísta em 1949, o edifício foi parcialmente destruído, restando apenas o salão central, que foi progressivamente ficando em ruínas. Em 2013, a propriedade foi vendida em leilão a um homem de negócios chinês, que a retirou do seu sítio original, a aldeia de Xiaoqi, e mandou restaurar o que sobrava do pavilhão. Ai Weiwei comprou-o este ano, tornando-se no seu novo proprietário. A exposição pretende dar a ver as mudanças que atravessaram a sociedade chinesa desde 1949 e como os símbolos mais respeitados pela tradição perderam sentido, segundo o El País. Talvez Ai Weiwei não tenha abdicado do comentário político. Apenas se tornou mais subtil.

 

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