Na música, a Apple tem trunfos para ir atrás dos rivais

Novo serviço vai concorrer com o Spotify, num mercado que está em crescimento.

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A música tem um impacto reduzido nas contas, mas fez muito pela empresa JUSTIN SULLIVAN/AFP

Nesta segunda-feira, arranca o evento anual da Apple destinado a programadores. A conferência de abertura é tipicamente usada para a apresentação de novidades. Vários títulos da imprensa internacional já deram como certo o lançamento de um serviço nos moldes do Spotify. O presidente executivo da parceira Sony Music confirmou as notícias este domingo, durante uma entrevista. "Vai acontecer amanhã", afirmou Doug Morris. Como de costume, não há qualquer palavra por parte da Apple. 

Neste género de plataformas, os utilizadores podem ouvir um número ilimitado de canções através do pagamento de uma assinatura mensal, sem terem de descarregar ficheiros. É fácil perceber o interesse da Apple. Há anos que o mercado de música digital está a ganhar peso na indústria da música e, dentro deste, o streaming, onde o Google também está presente, é o canal de vendas com maior crescimento, embora ainda represente menos de metade das receitas obtidas pelas tradicionais lojas de música online. O streaming tem ganho popularidade não apenas por ser mais económico, mas também por permitir mais facilmente ouvir música em vários dispositivos, bastando que estejam ligados à Internet.  

Em 2014, as receitas de música digital passaram a representar 46% da facturação do sector, de acordo com números da Federação Internacional da Indústria Fonográfica. Outros 46% vieram da venda de suportes físicos, que está em queda. Os restantes 8% tiveram origem nos espectáculos, na rádio e nos direitos de utilização de músicas em publicidade e na televisão.  

Por seu lado, o negócio do streaming pago representou 23% das receitas de toda a música digital (aos quais se soma uma parcela mais pequena obtida com a publicidade incluída nas modalidades gratuitas destes serviços). O número de assinantes nestas plataformas disparou 39%. Em 2014, havia 41 milhões de utilizadores pagantes. Mais de 15 milhões estão no Spotify.

A incursão da Apple no negócio da música por assinatura está a ser preparada há muito. Há dois anos, lançou o iTunes Rádio, uma ferramenta de streaming, na qual é possível ouvir estações dedicadas a géneros musicais. No entanto, os utilizadores não podem fazer as suas próprias listas e ouvir álbuns completos. O Radio, que teve pouco sucesso, é gratuito e funciona como uma forma de os utilizadores conhecerem nova música, que poderão depois comprar no iTunes. 

Já no ano passado, a Apple comprou a empresa de música Beats, por 2200 milhões de euros. Foi a maior aquisição na história da multinacional. A Beats tinha um pequeno serviço de streaming de música nos EUA e foi fundada pelo rapper Dr. Dre e pelo conceituado produtor musical Jimmy Lovine. Ambos trabalham desde então para a Apple. 

Apesar do investimento, o negócio da música está longe de ser, pelo menos em termos financeiros, muito importante para as contas da empresa, que não tem assim a mesma pressão para rentabilizar o produto que o rival Spotify. A Apple é sobretudo uma fabricante de telemóveis: a venda de iPhones representa 70% da facturação. As receitas dos serviços, onde estão agregados a música, as aplicações, os livros electrónicos e outros negócios menores, são apenas 9%.

Ainda assim, a música faz parte da imagem da marca (muitas apresentações de Steve Jobs acabavam com um concerto) e o lançamento do iTunes e dos iPod (que praticamente desapareceram) foram fulcrais para que a empresa deixasse de estar focada nos computadores Mac, abrindo caminho para o lançamento do iPhone.

Na segunda-feira, a empresa deverá também manter a tradição de apresentar um novo iOS, o sistema operativo do iPhone e do iPad, e são esperadas novidades para os sistemas dos computadores Mac e do relógio inteligente. Estas actualizações são um trunfo precioso para qualquer serviço online que queira apresentar: uma nova aplicação de música que seja integrada no sistema operativo acabará por estar, dentro de poucos meses, no ecrã de milhões de potenciais utilizadores.
 

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