Favoritismo de El Bronco desafia o sistema

“Não corro só para ser governador, corro para mudar o sistema”, explica o candidato independente.

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Ao apelo populista do seu discurso, El Bronco junta um carisma pessoal Reuters

Sozinho contra os poderes instalados, El Bronco construiu uma campanha sólida de combate à corrupção instalada nos mais diversos níveis de governo e instituições do Estado. “Não corro só para ser governador, corro para mudar o sistema”, explica, nos seus comícios. O seu tom é de desafio: “Luto contra um sistema velho, obsoleto e desajustado e contra uma aristocracia política que é incrivelmente egoísta e arrogante e incapaz de aceitar que o país vive problemas sérios”.

A retórica sempre inflamada contrasta com a “leveza” do seu programa eleitoral, que conforme assinala a imprensa mexicana, é parco em detalhes. Inscritas como prioridades da sua acção governativa estão a luta contra a corrupção e impunidade, o fim do despesismo e transparência da gestão estadual, e o combate às desigualdades e apoio aos mais desfavorecidos.

Apesar da discrepância de recursos de campanha em relação aos seus adversários partidários (os candidatos independentes estão de fora do generoso sistema de financiamento eleitoral dos partidos), El Bronco lidera nas sondagens das intenções de voto, e é o favorito à vitória. Sem anúncios na televisão e quase sem cobertura da imprensa local, a sua campanha assenta no uso das redes sociais: logo pela manhã, o candidato dedica duas horas a dialogar com o eleitorado no Whatsapp. Depois, tudo o que faz e pensa vai parar ao Facebook, onde nenhum comentário fica sem resposta.

Ao apelo populista do seu discurso, El Bronco junta um carisma pessoal, assente na sua dramática história de vida, para o projectar na corrida eleitoral. “Um filho morto, uma filha raptada com apenas dois anos, 2800 buracos de bala cravados na minha carrinha”, é uma das legendas dos seus cartazes de campanha. Nas fotografias, aparece sempre com o seu “uniforme” de trabalho: botas e chapéu de vaqueiro e colete de pele. E nos comícios, conta sempre como a sua vida mudou depois de ter sido eleito alcaide do município de García, um subúrbio na área metropolitana de Monterrey, que liderou entre 2009 e 2012.

No cargo, atreveu-se a enfrentar os poderosos cartéis do narcotráfico Los Zetas e do Golfo, que se digladiavam pelo controlo de Nuevo León. A ousadia valeu-lhe duas tentativas de assassínio – reza a lenda que numa dessas vezes, deu instruções ao motorista para voltar o carro blindado para trás, impedindo que os traficantes atirassem sobre os seus guarda-costas. “Ele protege sempre os seus”, garantem os seus apoiantes. No entanto, El Bronco não conseguiu proteger os seus dois filhos da vingança dos cartéis. O seu primogénito, de 22 anos, morreu num acidente de viação quando supostamente tentava escapar dos narcotraficantes; a filha de apenas dois anos foi raptada pelos Zetas.

A sua mensagem de independência esconde o facto de ter buscado a nomeação do PRI para concorrer (El Bronco esteve ligado ao partido durante 30 anos). No entanto, os analistas políticos prevêem ondas de choque para os partidos se vencer as eleições. “A campanha de El Bronco é muito importante, porque liberta a imaginação política para pensar além das fronteiras actuais. A mensagem é que os candidatos independentes podem fazer a diferença e ganhar. Se isso acontecer, os partidos que se cuidem”, considerou Federico Estévez ao The Guardian.

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