DGS quer portugueses a viver saudáveis mais três anos

Até 2020, o objectivo é evitar três mil mortes prematuras por ano e aumentar em 30% os anos que vivemos sem incapacidades.

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É a primeira vez que a DGS estabelece metas sobre a esperança de vida saudável no Plano Nacional de Saúde RUI GAUDÊNCIO

Os números sobre a esperança de vida saudável (sem incapacidades ou com incapacidades ligeiras), um indicador que é cada vez mais levado em conta a nível internacional — não interessa apenas viver mais anos mas também viver melhor, é agora o grande lema —, constam da extensão e revisão do Plano Nacional de Saúde (PNS) 2012-2016 que foi divulgado pela DGS nesta sexta-feira.

É a primeira vez que a DGS estabelece metas sobre a esperança de vida saudável no PNS, que agora é alargado até 2020. Percebe-se por que motivo o faz. Segundo dados do Eurostat citados no documento, em média, os homens portugueses tinham uma esperança de vida saudável de 9,9 anos (aos 65 anos) em 2012, enquanto as mulheres, que até têm uma esperança de vida superior, apenas podiam contar então com nove anos de vida sem grandes incapacidades.

As mulheres vivem mais mas vivem pior e, por isso, Rui Portugal acredita que até se deveria apostar numa intervenção focada no género. “Fomos conservadores. Em vez de um aumento de 30%, em geral, deveríamos ter apontado para um crescimento de 28% para os homens e de 32% para as mulheres”, admite o director executivo do novo plano.

Portugal pior que a UE

Traduzindo o aumento proposto no documento, isso significa que a esperança de vida saudável passaria de "12,9 anos para os homens e de 11,7, para as mulheres". Mais três anos de vida saudável, em média, portanto. Como é que isso será possível? Alterar a situação de forma tão rápida implica “reforçar programas centrados no grupo etário entre os 50 e os 65 anos”, defende Rui Portugal.

No fundo, explica, é necessário “encontrar formas de envelhecimento activo para que, quando estas pessoas entrarem nos 70 anos, se aguentem mais tempo com saúde”. Ou seja, para que consigam reduzir a carga de doença relacionada com incapacidades. “Temos que intervir nestas idades, até porque estamos a envelhecer muito rapidamente. Queremos que as pessoas tenham melhor vida quando são mais velhas”, enfatiza Rui Portugal. Uma responsabilidade que é não só da saúde, mas da sociedade em geral, acrescenta.

O certo é que Portugal se encontra numa situação muito pior do que os melhores dos países, a este nível. Um exemplo: podemos viver quase tantos anos como os suecos, mas usufruímos de muito menos anos saudáveis. Basta ver que, em 2011, os homens suecos tinham já uma esperança de vida saudável de 13,9 anos, enquanto as mulheres daquele país podiam contar com 15,2 anos de vida sem incapacidades, em média.

“Não estamos nada bem”, reconhece Rui Portugal, que acredita porém que, à medida que o tempo passa, "a situação tende naturalmente a melhorar porque as gerações mais velhas, as que tinham 30 ou 40 anos nos anos 50 ou 60 [do século passado], tinham condições de alimentação, de higiene e de trabalho incomparavelmente inferiores à das pessoas com as mesmas idades nos anos 70 e 80”.

Uma área que representa uma grande carga relevante de doença nestas idades é a das patologias "musculo-esqueléticas e aqui há coisas relativamente simples que podem ser melhoradas, como a atitude postural”, exemplifica.

Outras metas

Mas a melhoria deste indicador que conta cada vez mais num continente tão envelhecido não é a única meta traçada na extensão ao Plano Nacional de Saúde. No documento também se preconiza uma diminuição apreciável da mortalidade prematura (abaixo dos 70 anos). Em 2014, a mortalidade prematura rondava os 22% e a meta, agora, é que passe a ser inferior a 20% dentro de apenas cinco anos.

Um decréscimo que representará menos três mil mortes por ano, estima Rui Portugal. Em 2014, foram cerca de 23 mil as pessoas que morreram ainda antes de completarem 70 anos. Para conseguir a redução preconizada, vai ser necessário diminuir em cerca de um quarto a mortalidade relacionada com as doenças não transmissíveis, nomeadamente as cardiovasculares, as oncológicas, a diabetes e as doenças respiratórias crónicas.

Neste caso, a intervenção terá que ser reforçada numa faixa etária mais jovem, a partir dos 40/45 anos. “Estamos a qualificar a vida, tendo o mínimo de pessoas possível a morrer antes dos 70 anos e o máximo de pessoas com vida saudável após os 65”, sintetiza Rui Portugal.

O novo plano estabelece ainda metas para a redução da prevalência do consumo de tabaco na população acima dos 15 anos, a eliminação do fumo ambiental (o chamado fumo passivo) e o controlo da obesidade infantil. São dois indicadores que não são recolhidos de forma sistemática em Portugal, tornando assim difícil a monitorização e avaliação e dificultando as projecções a cinco anos. Por isso se recomenda a criação de um sistema de informação que permita monitorizar o consumo de tabaco e a obesidade infantil, até Julho do próximo ano.

 

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