Estado Islâmico entra em Palmira, civis retirados da cidade

Habitantes da cidade onde se encontram as ruínas arqueológicas foram retirados. UNESCO mostra preocupação pela tomada de Palmira.

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O património arqueológico de Palmira está ameaçado pelo Estado Islâmico Joseph Eid / AFP

Pelo menos um terço da cidade de Tadmur, onde estão situadas as ruínas da antiga cidade de Palmira, está sob controlo do grupo terrorista, revelou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos – que tem uma rede de activistas que reúnem informação no terreno. Os habitantes foram retirados pelas forças pró-governamentais que combatem o Estado Islâmico, de acordo com a Reuters, que cita a televisão estatal síria.

“As pessoas estão com muito medo do que possa acontecer, porque o EI tem a capacidade de avançar até ao coração de Palmira”, disse um activista do observatório à AFP. Nos últimos dias, a cidade já estava a sofrer de falta de água e cortes intermitentes da electricidade. “Muitas pessoas do norte da cidade foram desalojadas para outros bairros, algumas têm dormido nas ruas”, contou o activista.

Perante o avanço iminente dos jihadistas, os responsáveis sírios tentaram ainda salvar algumas das estátuas milenares que compõem o espólio da antiga cidade, património da humanidade da UNESCO desde 1980. “Centenas e centenas de estátuas que temíamos que fossem destruídas e vendidas estão agora em locais seguros”, disse à Reuters o director das Antiguidades e Museus Sírios, Maamoun Abdulkarim.

Porém, os receios quanto ao futuro da cidade construída há mais de dois mil anos permanecem. “O medo é pelo museu e pelos monumentos grandes que não podem ser movidos”, explicou Abdulkarim, antes de deixar um apelo: “Esta é uma batalha do mundo inteiro.”

A directora-geral da UNESCO, Irina Bokova, disse estar “extremamente preocupada com a situação em Palmira”. “Os combates estão a colocar em risco um dos mais importantes locais no Médio Oriente, bem como a sua população civil”, acrescentou.

A ofensiva para tomar a cidade síria começou a 13 de Maio e, desde então, morreram 350 pessoas. Para o Estado Islâmico, Palmira – que incluindo todos os seus subúrbios chegou a ter cerca de 100 mil habitantes – assume sobretudo uma importância estratégica. É a partir dali que o grupo jihadista pode conseguir controlar os campos de exploração de gás natural e de petróleo na região. Para além disso, o conjunto de Palmira e Tadmur estende-se numa área em que se situa a estrada entre a capital do país, Damasco, e a cidade de Deir al-Zour, disputada pelo EI e pelas forças governamentais.

Mas é o valor cultural e patrimonial que tem feito o mundo temer por Palmira. Desde que nos últimos dias se tornou evidente que o EI estava cada vez mais próximo de conquistar Palmira, os pedidos de ajuda não têm cessado. Em causa estão as famosas colunas, os templos e torres funerárias que se erguem no deserto e que despertaram a admiração de viajantes que por ali passaram desde o século XVII. Durante a época de domínio romano, Palmira, apelidada de “pérola do deserto”, atingiu o seu auge, tornando-se ponto de paragem obrigatório para os comerciantes que seguiam a rota da seda, entre a Europa e o Oriente.

É todo este património e esta memória que estão agora em jogo e que, nas mãos do Estado Islâmico – que afirma contestar qualquer tipo de idolatria –, deverá seguir o mesmo caminho das cidades da antiga Mesopotâmia de Hatra e Nimrud – a destruição e pilhagem quase totais.

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