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EDIA recorre à energia solar para reduzir custos no regadio em Alqueva

À medida que o preço da água sobe assiste-se ao abandono de plantações regadas. A cultura de milho é a mais afectada pelo aumento ”proibitivo” do tarifário aprovado em 2010.

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O assunto foi debatidono colóquio "Sustentabilidade do Regadio na Península Ibérica” que decorreu durante a última Feira do Alentejo – Ovibeja, que terminou no domingo. Ficou patente, nas várias intervenções de especialistas e agricultores, como os custos da energia consumida pelo sistema de rega, conduz a um tarifário que torna cada vez mais difícil o acesso à água do Alqueva. “À medida que o seu preço aumenta, assiste-se à redução das áreas de cultivo”, confirmou Paulo Macedo, presidente da Associação de Beneficiários do Monte Novo, o primeiro perímetro de rega de Alqueva com 7500 hectares, que entrou em funcionamento em 2007.

O agricultor deu conta do problema em 2014 e para 2015 espera-se que haja igualmente “alguma quebra” na área regada. O problema estende-se aos agricultores com explorações agrícolas no perímetro de rega da margem esquerda do Guadiana, que abrange uma área de regadio com 17.400 hectares, reportou José Saramago de Brito, presidente da Associação de Beneficiários Ardila/Enxoé, referindo que o preço da água para rega “vai sendo cada vez mais proibitivo”.

As consequências observam-se em primeiro lugar na cultura de milho, que neste perímetro de rega terá em 2015 “menos 70% de área ocupada e uma das razões está associada ao preço da água”, assinala o dirigente associativo.

O tarifário aplicado em Alqueva foi definido pelo despacho 9000/2010 e aprovado durante a gestão do ex-ministro da Agricultura António Serrano (PS). Estabelece os preços para o consumo de água vendida às associações de regantes e que se cifra nos 4,2 cêntimos por metro cúbico. Os fornecimentos directos às explorações agrícolas têm um custo de 8,9 cêntimos por metro cúbico quando se trata de abastecimento em alta e de 5,3 cêntimos no fornecimento em baixa. Os agricultores pagam no primeiro ano de rega metade do preço previsto no tarifário atrás referido e suportam um aumento de 10% durante cinco anos.  

O presidente da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA), José Pedro Salema, não escamoteia a dimensão do problema, mas adianta que o custo energético “é muito elevado em Alqueva” e explica porquê: “Precisamos de 0,5 Kw/hora por cada metro cúbico colocado na rede de rega”, o que faz com que a factura energética “ande em torno dos 5 cêntimos por metro cúbico”. Depois somam-se todos os custos da operação, da manutenção dos equipamentos, de todos os serviços associados, e conclui: “Não há forma de baixar o custo da água”.   

Pedro Salema imputa os elevados custos da energia ao facto do mercado dos operadores de energia “não funcionar”, frisando que a EDIA tem feito concursos públicos todos os anos para comprar “quantidades enormes de energia e estranhamente aparece sempre o mesmo operador, com uma única proposta que tem ganho com preços que não são de facto muito interessantes”.

O elevado peso dos encargos com a energia já tinha sido comentado pelo anterior presidente da EDIA, João Basto, quando referiu durante a edição da Ovibeja de 2012, que ao longo daquele ano foi vendida aos agricultores “um volume de água no valor de três milhões de euros mas teve de se pagar à EDP uma factura de 4,3 milhões de euros pela energia consumida na sua bombagem e transporte até aos blocos de rega”.

O acordo estabelecido em 2007 entre a EDIA e a EDP previa que esta entidade pagasse à primeira 195 milhões de euros acrescidos de um encargo anual de 12,6 milhões de euros ao longo do período de vigência do contrato de 35 anos. Desta forma, a valência energética que é vital para a sustentação do regadio foi entregue à EDP e a EDIA passou a pagar a electricidade que consome no sistema de rega. Entre 2004 e 2006, quando as centrais hidroeléctricas de Alqueva e Pedrógão estiveram sob gestão da EDIA, foram realizados quase 34 milhões de euros com a venda de energia.

Para Pedro Salema existem dois factores essenciais para reduzir o tarifário. Em 2014 a EDIA distribuiu aos agricultores 100 milhões de metros cúbicos, quando tem à sua disposição 600 milhões de metros cúbicos. “Se chegarmos perto deste valor e trabalharmos no sentido da auto-produção com as energias alternativas nós podemos poupar cerca de 1/3 no custo energético”.

As condições particulares do Alentejo são propícias ao aproveitamento da energia solar. É o sítio da Europa com maior número de horas de sol por ano. A alternativa passa pela instalação de 11 centrais fotovoltaicas com capacidade, cada uma, de 250 Kw, para obter perto de 3.000 MW.   

O projecto solar estende-se a cerca de uma dúzia de reservatórios de água que dão apoio ao sistema de rega e que ocupam no seu total cerca de 20 hectares de área. A solução passa por cobrir estas superfícies líquidas com painéis solares. A sua instalação optimiza a produção de energia, impede a formação de algas na água e reduz drasticamente a evaporação da água.

Com a auto-produção de energia, associada ao aumento do consumo de água até se atingir 80% dos 600 milhões de metros cúbicos de água que a EDIA dispõe para o regadio, será possível "poupar cerca de um terço no custo energético”. Assegurar entre 25 a 30% o fornecimento de energia através de painéis solares vai custar à EDIA cerca de 50 milhões de euros. O projecto de instalação está a decorrer e a primeira central solar já fornece energia à sede da empresa em Beja.

“É para aqui que temos todos de caminhar, pois se não tivermos uma água barata não temos regadio”, adverte Pedro Salema. A capacidade de reserva de água em Alqueva daria para garantir a rega em todo o país durante um ano.

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