Suspeito de matar quatro pessoas na Póvoa já tinha ameaçado as vítimas

Homem alegadamente baleou de forma fatal a ex-mulher, a ex-sogra, o ex-sogro e o enteado na Póvoa de Varzim. Ex-sogro apresentou recentemente na GNR uma queixa por ameaça. Na origem do crime, estarão divergências quanto à partilha de bens.

Fotogaleria
Nélson Garrido
Fotogaleria
Nélson Garrido
Fotogaleria
Nélson Garrido
Fotogaleria
Nélson Garrido
Fotogaleria
Nélson Garrido

Os homicídios ocorreram pelas 9h10 na Rua Comendador Araújo, no café São Tomé, cuja propriedade os ex-sogros tinham passado recentemente para o neto de 23 anos, enteado do suspeito, também baleado mortalmente. A ex-companheira ter-se-á separado há quase um ano do suspeito, proprietário de uma empresa construtora de tectos falsos bem conhecida na Póvoa de Varzim. Este já teria ameaçado várias vezes a família da ex-companheira. Aliás, fonte da GNR confirmou que o ex-sogro apresentou recentemente uma queixa contra o suspeito após ter sido alegadamente ameaçado por ele.

A ex-sogra de 71 anos, a ex-mulher do suspeito com 41 e o seu filho, de 23 anos, foram os primeiros a serem alvejados dentro do café. Já o ex-sogro, também de 71 anos, terá sido baleado dentro da cave do edifício para onde terá fugido. Acabava de acordar e ainda estava de pijama depois de um longa noite de trabalho no café que costuma fechar perto das 2h. 

Foi o presidente da Junta de Freguesia da Estela, Armandino Domingues, localizada em frente ao café, a dar o primeiro alerta, telefonando para o 112. "Vi-o a sair do café e a entrar no carro com muita calma e, ao passar por mim já dentro do carro, meteu as mãos à cabeça. Percebi então que tinha acontecido algo de complicado", disse o autarca ao PÚBLICO. Armandino Domingues entrou depois no café e viu as mulheres baleadas na cabeça assim como o jovem atingido também com um tiro nas costas. O suspeito alvejou a ex-mulher num corredor de acesso do café à casa. Segundo fonte da PJ, terão sido dezenas os tiros disparados, tendo o suspeito carregado pelo menos três vezes as duas armas.

“Eram cerca das 9h da manhã, estava eu a passar na rua quando ouvi os tiros. Vi a funcionária da junta pela rua a fugir. Depois fui ao café e vi aquele triste espectáculo”, contou também José Leite, vizinho do lado do estabelecimento instalado no rés-do-chão da casa.

O suspeito, de 44 anos, fugiu de imediato do local, mas foi capturado cerca de uma hora depois pela GNR de Viana do Castelo, à entrada da ponte internacional de Valença que foi fechada pelas autoridades. Conduzia um Mercedes de matrícula espanhola, de que é proprietário, quando terá tido um acidente nesta zona tendo embatido em dois veículos. Nessa altura, já várias viaturas da GNR o seguiam.

Além dos mortos, registou-se ainda um ferido ligeiro, segundo fonte do INEM. Um jovem de 16 anos, filho do suspeito e da sua ex-companheira, terá ficado com algumas escoriações quando tentou desarmar o pai juntamente com o enteado de 23 anos depois baleado. O jovem, que consegiu tirar uma das armas ao pai antes deste o agredir e voltar a recuperar o revólver, fugiu procurando protecção nas traseiras da casa dos avós. Recebeu mais tarde assistência de psicólogos do INEM tal como a irmã de dez anos e outros quatro familiares que se deslocaram ao local.

Uma viatura médica de emergência e reanimação do Hospital Pedro Hispano, duas ambulâncias dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Varzim e dos Bombeiros Voluntários de Fão foram enviadas para o local. O INEM accionou ainda a Unidade Móvel de Intervenção Psicológica de Emergência.

A GNR ainda mantém na tarde desta terça-feira militares no exterior do café de onde os corpos foram retirados pelas 16h, mas a PJ e os peritos do Laboratório de Polícia Cientifica da Judiciária, que estiveram a recolher vestígios, deixaram o local a meio da tarde. Será agora a PJ a apurar os contornos do caso, uma vez que tendo sido usadas armas de fogo, a investigação do crime é da sua exclusiva competência. A PJ está esta terça-feira  ainda tratar de toda a documentação que é necessário reunir no processo pelo que o suspeito só deverá ser inquirido por um juiz de instrução criminal quinta-feira no Tribunal de Matosinhos. Até lá continua na cadeia anexa da PJ do Porto. 

No local, alguns moradores que conheciam há vários anos o casal, deram também conta ao PÚBLICO de que o suspeito manteria divergências com o ex-sogro a propósito de uns terrenos na freguesia de Barqueiros. O alegado homicida terá construído há alguns anos um armazém naqueles terrenos do ex-sogro e reclamava agora o dinheiro pelo valor dessa estrutura na sequência da separação.

Junto ao café, visivelmente emocionado e com a voz embargada pela morte do filho, Agostinho Alves, pai da vítima mortal de 23 anos, recorda as conversas que ainda recentemente teve com a mãe do jovem. “Eu já a tinha avisado por várias vezes que ele a ia acabar por matar”, lamentou. Agostinho Alves, emigrado há vários anos em França, viajou até Portugal para assistir ao jogo entre o Benfica e o FC Porto, no domingo passado, e ia aproveitar a sua estadia para estar com o filho com quem tinha marcado um almoço para esta terça-feira.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários