PS critica aliança PSD/CDS por ser “mais do mesmo”
As oposições internas no PSD e no CDS criticam falta de debate sobre a renovação da coligação.
Se na apresentação do compromisso da maioria Passos Coelho e Paulo Portas se afirmaram como uma alternativa de prudência, António Costa apontou não haver nada de novo. “Tivemos ontem [sábado] a melhor demonstração de que mesmo nada de novo o Governo tem para dar. Não tem novas políticas a propor e aquilo que ontem vieram fazer era mais do mesmo”, disse o secretário-geral dos socialistas, durante um almoço-debate em Reguengos de Monsaraz.
Segundo António Costa, para terem “alguma coisa de novo”, o PSD e o CDS-PP escolheram o 25 de Abril para anunciar que vão concorrer coligados às próximas eleições legislativas, mas esse anúncio não passou de um “não acontecimento”.
“E a coisa tão extraordinária de falta de novidade na celebração da coligação é que quiseram escolher o dia 25 de Abril para ser a novidade do não acontecimento que é manter o casamento de quem já está casado e que remédio tem se não manter-se casado, para disfarçar as conveniências”, ironizou.
A resposta da maioria veio pela voz do vice-presidente do CDS, Nuno Melo, que afirma ser “nítida” a diferença entre a coligação e o PS. A aliança PSD/CDS “pode e tem condições para lutar pela maioria nas legislativas”, afirmou, apontando que “este é o PS de 2011 com medidas de 2011”.
Bem mais crítico sobre a escolha do dia das comemorações da Revolução foi Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP. “Creio, camaradas, que é importante afirmar que é um insulto ao 25 de Abril esta direita que está a destruir o que resta de Abril vir celebrar o seu acordo neste dia, de cravo ao peito", declarou, num almoço da CDU (PCP/PEV), em Loures.
A falta de novidade no anúncio foi também a tónica da reacção de Catarina Martins, coordenadora do BE. “Esta não é uma coligação nem com novidade nem com resposta, não é sequer uma coligação por convicção, é uma coligação por conveniência”, afirmou no Porto, num comício que decorreu no âmbito da 2.ª edição do Desobedoc – Mostra de cinema insubmisso.
Faltou debate interno
A renovação da aliança PSD/CDS era esperada e dada como inevitável pelos militantes e dirigentes dos dois partidos. O compromisso não terá assim problemas em passar na comissão política nem no conselho nacional dos dois partidos, marcados já para a próxima quarta-feira. Mas há quem critique a falta de debate interno sobre a coligação.
No PSD, o conselheiro nacional Luís Rodrigues mantém que o acordo pré-eleitoral era “inevitável”, mas critica a opção de estar a ratificar o que já está decidido. “O próximo Conselho Nacional também vai ser para cumprir calendário. Defendi [na última reunião, no passado dia 15] que se deveria discutir a coligação, o presidente não quis. Agora vamos contrariar o líder?”, questiona o ex-deputado, eleito conselheiro por uma lista não apoiada pela direcção. Luís Rodrigues diz ter a certeza de que o Conselho Nacional “daria liberdade para a comissão política fazer o que entendesse”. Assim, conclui, o órgão máximo entre congressos sai “menorizado”.
Menos crítico da estratégia escolhida pelos líderes da maioria é Filipe Anacoreta Correia, conselheiro nacional do CDS, que ainda assim regista a “falta de debate” interna, mas que sublinha “o projecto comum” como mais importante. “Defendíamos que houvesse um debate alargado no partido e não houve. O que é mais importante é a afirmação de um projecto comum para nos vincularmos”, diz, considerando que o anúncio do acordo “veio tranquilizar o CDS, que já estava sob pressão”.
A representação de cada um dos partidos nas listas eleitorais conjuntas era uma das incógnitas do acordo que Passos Coelho e Paulo Portas estavam a preparar. O compromisso assinado estabelece como base a representação que os dois partidos obtiveram nas últimas legislativas: O PSD conseguiu 38,66% dos votos (ganhou sem maioria) e o CDS fixou-se em 11,71% como a terceira força mais votada. Com o critério que foi estabelecido, a coligação tem compor a lista em cada círculo com a soma dos dois deputados eleitos, tendo em conta a proporção de cada um.
Tanto os sociais-democratas como os centristas admitem que este critério acaba por beneficiar o CDS, sobretudo em distritos em que o partido obteve bons resultados há quatro anos como Lisboa ou Setúbal. Mas para já o clima está pacificado. “Parece-me uma base justa e séria”, afirmou ao PÚBLICO Carlos Carreiras, vice-presidente do PSD. Nuno Melo lembra que se trata de um critério “objectivo que não dá azo a especulações”.