Ericeira prepara-se para ser a grande maternidade dos ouriços em Portugal
O país, afirmam os peritos, tem boas condições para apostar no ouriço-do-mar, em meio natural ou aquacultura – e responder assim ao interesse crescente dos consumidores mundiais.
A zona, afirmam os especialistas que participaram nas jornadas técnicas do festival, tem um bom potencial para o aumento da produção, tanto na apanha como na aquacultura. A par do interesse dos mercados externos, verifica-se também já um aumento da procura no mercado interno – que o Festival do Ouriço quis reforçar, convidando chefs portugueses e espanhóis a encontrar novas formas de apresentar o ouriço nos seus pratos. Mas, explicou José Lino, para dar resposta a este interesse é fundamental fazer-se primeiro um estudo que deverá incidir em três pontos: cultivo, mananciais selvagens e repovoamento.
O que se come do ouriço-do-mar são as gónadas (o sistema reprodutor muitas vezes, incorrectamente, chamado ovas) e o seu valor é maior no período pré-reprodutor, entre Janeiro e Abril, quando se encontram mais desenvolvidas. Isto significa, naturalmente, que a apanha está a comprometer os futuros stocks, impedindo a reprodução natural dos ouriços.
Por isso, salientou José Lino, é fundamental “evitar a sobre-exploração generalizada”. No entanto, em Portugal “existe pouca informação”. Daí que seja “imperativo” estudar as populações de ouriço em Portugal, caracterizar a apanha e desenvolver técnicas de cultivo em cativeiro e de repovoamento em zonas que já são muito exploradas. Serão estes os objectivos do projecto Ouriceira, que está actualmente na fase de procurar financiamento, e que, segundo o biólogo, deverá começar em Janeiro de 2016 e tem uma duração prevista de 36 meses.
Actualmente, segundo dados apresentados na mesma ocasião por Edgar Afonso, da Direcção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos, a venda em lota de ouriço é (números de 2014) de apenas 9100 quilos, mas o número de licenças dadas para a apanha tem vindo a aumentar: em 2003 foram emitidas 46 licenças a nível nacional e em 2014 o número subiu para 211.
Quando à aquacultura, “tem havido manifestações de interesse mas poucas concretizações”, disse, referindo a existência de apenas um estabelecimento licenciado, na região de Aveiro, cuja actividade é de crescimento e engorda dos ouriços. Não existe ainda nenhuma unidade licenciada para a “reprodução de juvenis”.
Na opinião de Ana Pombo, do Politécnico de Leiria, e também envolvida no projecto Ouriceira, “o ouriço é um bom candidato” à aquacultura que “em Portugal precisa de se diversificada”. A água tem a temperatura adequada (entre os 18 e os 22 graus) e o que é necessário para o desenvolvimento de boas gónadas é que os animais recebam poucas horas de luz. “Na escola de Peniche já conseguimos fazer a reprodução”, afirmou. Quando os ouriços atingem entre 5 e 10 milímetros passam a um sistema de engorda, sendo que “nas fases larvares são alimentados com micro-algas e nas seguintes passam a alimentar-se com macro-algas”.
Ana Pombo explicou que no que diz respeito à alimentação “já existem rações desenvolvidas por noruegueses e norte-americanos, mas não dão a cor laranja que os consumidores apreciam nas gónadas”. Esse é, no entanto, um problema que pode ser ultrapassado com a adição de carotenóides naturais “como se faz com o salmão”.
A bióloga, coordenadora do Mestrado em Aquacultura do Politécnico de Leiria, defende que as empresas que já se dedicam à aquacultura para a produção de peixes podem “aproveitar zonas das suas explorações que não são usadas para fazer a produção de ouriços”, através da reprodução ou apenas do melhoramento das gónadas. Identificou também os principais problemas: “as dietas são muito caras, a janela de maturação das gónadas é curta pelo que é necessário manipular o fotoperíodo, há uma mortalidade elevada das larvas o que significa que é necessária mais investigação e há pouca disponibilidade de juvenis para a engorda.”
Se, com maior conhecimento e investigação neste domínio, Portugal conseguir ultrapassar estes problemas, tem, segundo os especialistas, boas condições para se juntar ao grupo de países produtores que existe hoje no mundo, como o Chile, o Canadá, os Estados Unidos, a Noruega, a Rússia ou o Japão.