Corrupção fez buraco de 2000 milhões de euros na Petrobras

Petrolífera revela finalmente a sua estimativa para o impacto da rede de corrupção nas suas contas. Ministério Público diz que rombo foi maior.

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Petrobras registou o primeiro ano de prejuízos desde 1991 e tem agora uma dívida de cerca de 127 mil milhões de euros Vanderlei Almeida/AFP

A apresentação do relatório de contas para 2014 era esperada há meses. Desde Novembro que a empresa de auditoria à Petrobras, a PwC, se recusou a aprovar as contas até que a petrolífera quantificasse as perdas ligadas à rede de corrupção.

Para chegar ao valor do impacto dos desvios, a petrolífera brasileira avaliou os contratos assinados entre 2004 e 2012 com as empresas no processo Lava-Jato, nome pelo qual é conhecida a investigação do Ministério Público à Petrobras. A petrolífera teve também acesso aos depoimentos das testemunhas-chave na investigação, que utilizou para chegar aos quase 2000 milhões de euros em prejuízo.  Em média, diz a empresa, a cada contrato com estas empresas acresceram 3% de despesas para o pagamento de subornos.

Mas os valores das perdas por corrupção na petrolífera estatal brasileira empalideceram frente aos resultados globais da empresa. A Petrobras anunciou que perdeu, ao todo, cerca de 44,6 mil milhões de reais (perto de 13,7 mil milhões de euros) só em activos da empresa, o que a lançou para o primeiro ano de prejuízos desde 1991. No total, a empresa perdeu cerca 6654 milhões de euros só em 2014 (21,6 mil milhões de reais). Um valor que contrasta, e muito, com os lucros de perto de 7270 milhões de euros em 2013 (23,6 mil milhões de reais). A dívida da Petrobras está agora perto dos 127 mil milhões de euros.

Antecipava-se já a queda nos activos, mas num volume muito menor. O diário brasileiro Valor Económico diz que as expectativas rondavam uma queda na ordem dos 20 mil milhões de reais. Na realidade, a conta ficou quase no dobro. Houve uma conjugação decisiva: a desvalorização do real e a queda nos preços do petróleo foram as principais causas do debacle da Petrobras.

Durante a apresentação do relatório, o Conselho Executivo da Petrobras dividiu-se entre a vergonha e a esperança em virar a página. “Sim, a gente está com sentimento de vergonha por tudo isso que a gente vivenciou, por esses malfeitos que ocorreram”, disse o novo presidente-executivo da empresa, Aldemir Bendine, citado pelo jornal O Globo.

Aldemir Bendine foi apontado para a liderança da Petrobras por Dilma Rousseff em Fevereiro. Ocupa o lugar de Maria Foster, que governou a petrolífera desde 2012 e foi afastada pela Presidente do Brasil de forma a limpar a imagem da empresa. E foi esse ponto que Bendine se esforçou por passar.

O silêncio de meses sobre as contas da petrolífera impediu-a de aceder a crédito e avolumou receios sobre a necessidade de um resgate governamental àquela que é a maior empresa do Brasil. Mas agora, segundo Bendine, a empresa pode avançar. “Caminhamos rumo ao esclarecimento completo dos desvios da companhia, que vinham corroendo o património dos seus accionistas e de todos os brasileiros”, disse o presidente-executivo na apresentação dos resultados.

Costa e Yousseff condenados
Também na quarta-feira, mas antes da apresentação dos resultados da Petrobras, surgiu a notícia de que dois dos principais elementos da vasta rede de corrupção na petrolífera haviam sido condenados. Fotam Paulo Roberto Costa, ex-director da empresa, e Alberto Yousseff, ligado a operações de lavagem de dinheiro e um dos pontos iniciais da investigação. Ambos estavam em prisão preventiva.

Costa foi condenado a sete anos e meio de prisão e Yousseff a nove anos e dois meses, embora a sua pena deva ultrapassar os 30 anos de prisão, uma vez julgado por todos os processos que o envolvem. Foram condenados ainda mais seis elementos ligados ao esquema de corrupção, mas Costa e Yousseff são os membros mais destacados. Ambos assinaram acordos de colaboração com as autoridades e, juntos, construíram grande parte da base da investigação Lava-Jato. 

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