Administrador do Grupo Lena suspeito de corromper Sócrates conhece esta sexta-feira as medidas de coacção
Empresário, que terá feito transferências para a Suíça, foi interrogado durante várias horas pelo juiz Carlos Alexandre. Em Fevereiro, Sócrates admitiu em entrevista ter intercedido pelo grupo junto do vice-presidente de Angola.
O empresário foi detido na quarta-feira à noite depois de buscas realizadas à sede do Grupo Lena, na Quinta da Sardinha, no concelho de Leiria, e ao domicílio, confirmou a Procuradoria-Geral da República (PGR).
As buscas foram acompanhadas por elementos da equipa de inspectores tributários que coadjuva o Departamento Central de Investigação e Acção Penal e por agentes da investigação criminal da PSP. As autoridades apreenderam diversa documentação nas buscas realização na residência e nos escritórios do grupo empresarial. Na operação, terão participado também o procurador titular do inquérito Rosário Teixeira e o juiz Carlos Alexandre.
A detenção ocorreu no âmbito da Operação Marquês, que envolve José Sócrates, indiciado pelos crimes de fraude fiscal, corrupção e branqueamento de capitais. O ex-governante está há cinco meses em prisão preventiva apesar de sucessivos recursos e de providências de habeas corpus interpostas por cidadãos e pelo próprio.
O processo tem também como arguidos João Perna, ex-motorista de Sócrates, o empresário Carlos Santos Silva, o advogado Gonçalo Trindade Ferreira e o administrador da farmacêutica Octapharma Paulo Lalanda Castro.
Joaquim Barroca Rodrigues, um dos principais accionistas do Grupo Lena, é filho do fundador da empresa. No final de Março, o semanário Sol citava um acórdão do dia 17 daquele mês, que dizia que "os administradores do grupo António Barroca Rodrigues e Joaquim Barroca Rodrigues [irmãos] fizeram transferências das suas contas pessoais em Portugal" para a Suíça, como pagamentos do Grupo Lena ao ex-primeiro-ministro.
O administrador chegou ao tribunal ainda antes do almoço. Tanto à chegada como à saída, o seu advogado Alfredo Castanheira Neves, não prestou declarações aos vários jornalistas que se encontravam à entrada do tribunal.
Em Fevereiro deste ano, Sócrates admitiu ter intercedido pelo Grupo Lena junto do vice-presidente de Angola, Manuel Domingos Vicente. “Quanto ao telefonema para o vice-presidente de Angola, é verdade que, já neste último Verão, vários anos depois de ter saído do Governo, num almoço com o meu amigo Carlos Santos Silva e um dos administradores do Grupo Lena, foi-me perguntado e pedido se podia diligenciar para que essa empresa fosse recebida”, contou então Sócrates numa entrevista à SIC.
Sócrates foi apanhado em escutas telefónicas com Manuel Vicente. Ligou-lhe explicando que o Grupo Lena, “a quem devia atenção”, estava interessado num concurso público em Angola, na área da construção e tentou marcar um encontro entre ele e os patrões do grupo em Luanda. Manuel Vicente estava, porém, de viagem marcada para Nova Iorque, pelo que Sócrates logo lhe disse que iria lá ter com ele. Juntamente com Carlos Santos Silva, terá comprado bilhetes à pressa para se encontrar com o vice-presidente angolano em Nova Iorque.
O ex-primeiro-ministro explicou então que apenas o fez “por mera simpatia” sem “nenhum interesse que não fosse ajudar uma empresa portuguesa, como aliás”, diz, ter feito “com outras”.
O contacto terá sido realizado para pedir a atenção do governante angolano para o conglomerado de empresas de construção civil e obras públicas ligado também a Carlos Santos Silva que foi convidado então por Joaquim Barroca Rodrigues, presidente da Lena Construções entre 2007 e 2009, a angariar obras no estrangeiro no âmbito de uma nova sociedade criada pelo grupo, a LMI.
Num comunicado enviado ao início da noite, a comissão executiva do Grupo Lena salientou que este “passou por dois regimes políticos, quatro Presidentes da República eleitos, governos de diversa cor e ideologia política” e sublinhou que sempre pautou a “relação com o poder político, o principal cliente, em Portugal e em qualquer país do mundo, destes sectores, com respeito, responsabilidade e transparência”.
Face às suspeitas, a comissão executiva lamentou que tal esteja a prejudicar os seus negócios em Portugal e noutros países. Além disso, o grupo, que diz confiar na justiça, diz que os números noticiados sobre os seus negócios “desde as PPP, ao Parque Escola, de Venezuela a Angola, são “errados e erróneos”.