Fantasma da corrupção percorre o Sul da América Latina
Sucessão de escândalos afecta o desempenho das principais economias da região.
A última vez que os líderes das Américas se reuniram, na cidade colombiana de Cartagena das Índias, ninguém mencionou o problema, mas agora “o fantasma da corrupção percorre o Sul da América Latina”, postulava o colunista argentino Carlos Pagni no El País, no fim de Março. Em 2012, as grandes economias latino-americanas atravessavam uma fase de eufórico crescimento, e as respectivas opiniões públicas viviam uma onda de optimismo. Entretanto, o cenário mudou radicalmente, não só fruto do arrefecimento económico mas sobretudo das vicissitudes políticas internas. Nesta cimeira, o fenómeno da corrupção tornou-se impossível de ignorar.
O caso mais emblemático é o do Brasil. Em 2012, a Presidente Dilma Rousseff gozava de uma taxa de popularidade de 60% e o país projectava-se como a grande potência económica da América do Sul, graças à exploração das suas riquezas petrolíferas. Agora, um mega escândalo de corrupção abriu um buraco negro nas contas da empresa estatal Petrobras, e a legitimidade política do Governo é contestada em manifestações de rua que reúnem milhões de pessoas.
Na Argentina, Cristina Kirchner está debaixo de fogo, com o empreiteiro conhecido como testa-de-ferro da Presidente a responder por lavagem de dinheiro. Escândalos de corrupção também começaram a preencher as manchetes no Chile, outrora insuspeito dos pecados dos vizinhos. No México, a situação tornou-se verdadeiramente dramática: os efeitos da corrupção política, que deixou dirigentes e até instituições reféns da violência do narcotráfico, tornaram-se evidentes no caso dos 43 estudantes assassinados por membros de um cartel do estado de Guerrero.
Conforme nota Carlos Pagni, “os desvios morais ganham visibilidade maior quando contrastados com o mal-estar económico”. Os líderes latino-americanos têm razões para se preocupar: no início da semana, a Comissão Económica para a América Latina e Caribe (Cepal) reajustou as suas projecções, estimando um anémico crescimento de 1% para a região. “Com excepção dos Estados Unidos, as projecções foram revistas em baixa nos países industrializados e nas economias emergentes, que continuam em desaceleração”, referiu o organismo, que colocou o crescimento na América do Sul em zero.