Ensaio relança hipótese de uso de anticorpos contra a sida
Uma equipa usou anticorpos monoclonais em algumas pessoas infectadas com o vírus da sida. Durante semanas, a carga viral diminuiu.
A técnica de imunoterapia consiste em reforçar o sistema imunitário para combater agentes patogénicos ou células cancerosas. O método tem sido desenvolvido até agora, sobretudo, na luta contra o cancro.
Em relação à sida, as primeiras gerações “de anticorpos monoclonais” – produzidos a partir de uma única linhagem de células – revelaram-se ineficazes.
Por isso, o uso de imunoterapias contra a sida foi posto em segundo plano em relação aos cocktails de medicamentos anti-retrovirais, capazes de controlar eficazmente a infecção mas, até agora, incapazes de erradicar completamente o VIH do corpo.
Essa situação poderá alterar-se depois do ensaio clínico em algumas pessoas infectadas com o vírus, levado a cabo por uma equipa norte-americana, composta principalmente por investigadores da Universidade de Rockefeller de Nova Iorque.
Neste ensaio clínico de fase I – destinado a testar, antes de mais, a segurança do fármaco –, os doentes tomaram apenas uma dose de anticorpos “poderosos” e de “nova geração”. Esta substância, com o nome de código 3BNC117, actua no VIH e “neutraliza-o”, impedindo o ataque do vírus aos linfócitos CD4 – células do sistema imunitário –, e mostra-se eficaz contra a maioria das estirpes do VIH.
As doses, algumas mais fortes, outras menos fortes, foram administradas apenas uma vez por via intravenosa a 12 pessoas sãs, não infectadas com o VIH, e a 17 seropositivos (infectados com o vírus). Dois dos seropositivos já tinham sido tratados com medicamentos anti-retrovirais.
Os anticorpos monoclonais, isolados e clonados a partir de um doente infectado pelo VIH, foram “bem tolerados” e não provocaram efeitos secundários sérios que fossem observáveis. Mais, naqueles que receberam uma dose elevada, a concentração do vírus no sangue baixou durante várias semanas.
“Queda da carga viral"
“Os oito indivíduos que receberam a dose [mais elevada] de 3BNC117 mostraram uma diminuição rápida e significativa da sua carga viral”, sublinharam os investigadores norte-americanos no artigo.
A “queda da carga viral” foi “particularmente significativa” entre o quarto e o 28º dia. Mas parou a partir daí, e a quantidade de vírus voltou a subir até ao 56º dia, quando alcançou os níveis anteriores ao tratamento em quatro dos oito casos.
“Uma terapia com apenas o anticorpo 3BNC117 é insuficiente para controlar a infecção e, sem dúvida, será necessária uma combinação de anticorpos para controlar completamente a carga viral”, antecipam os investigadores. A equipa fez um paralelo com os medicamentos anti-retrovirais que, utilizados separadamente, não são tão eficazes contra a infecção, mas tornam-se muito eficazes quando são administrados num cocktail.
A imunoterapia terá, pelo menos durante um período de tempo inicial, um custo muito superior aos anti-retrovirais, mas terá uma vantagem dupla ao ter, por um lado, uma eficácia prolongada e, por outro, um efeito estimulante para o sistema imunitário. Para os investigadores, este método deverá ser analisado e deverá ser tido em conta no combate futuro ao VIH.
“É significativo porque representa potencialmente uma nova classe de medicamentos contra o VIH”, sublinha Marina Caskey à agência noticiosa AFP, uma das investigadoras responsáveis pelo estudo. A equipa irá agora testar a substância nos doentes que estão a tomar anti-retrovirais. No futuro, a eficácia deste tratamento poderá ser avaliada para a prevenção da infecção do VIH.
Em Fevereiro, uma outra equipa norte-americana, do Instituto de Investigação Scripps, na Califórnia, anunciou o desenvolvimento de uma substância, baptizada eCD4-Ig, que poderá funcionar contra o VIH como vacina e como terapia. O tratamento foi eficaz em macacos, evitando que apanhassem um tipo de vírus da sida durante vários meses.