"Procuro imagens que me façam sentir feliz, triste, culpado"
Yannis Behrakis, fotojornalista da Reuters há quase 30 anos, integra o júri da 6.ª edição do Prémio de Fotojornalismo Estação Imagem. Os vencedores são conhecidos este mês.
Em 2008, tinha-se mudado para Jerusalém como delegado da Reuters para Israel e Palestina. Dois anos depois, de volta a Atenas, mergulhou também ele nas consequências de uma crise que o apanhou de surpresa. A mulher, médica, esteve desempregada durante 2 anos até encontrar emprego numa clínica privada (onde o salário chega com 3 a 5 meses de atraso). “90% dos meus colegas fotojornalistas ficaram sem trabalho e só com ajuda conseguiram sobreviver no dia-a-dia. Um primo meu, por exemplo, tinha um negócio de vestidos de noiva que foi a falência e perdeu tudo”, conta.
Em 2012, Atenas começou a enfrentar o número crescente de sem-abrigo nas ruas. “Para mim foi uma vergonha ver pessoas a viver e morrer nas ruas sem nenhum apoio”, explica Yannis. No início de 2013, decidiu documentar essa realidade. Durante 4 meses andou pelas ruas de Atenas a conhecer quem vivia nelas. “Era muito importante para mim ser verdadeiro na minha abordagem a essas pessoas. Nunca prometi “salvá-los” ou mudar as suas vidas. Mas disse-lhes que esperava que as pessoas - incluindo os políticos - vissem o meu projecto e se sentissem envergonhados. Que quisessem fazer algo para ajudar”. Yannis conversou, confessa, mais do que fotografou. Queria saber as histórias daquelas pessoas, o que as tinha levado até ali: a viver debaixo de um viaduto, a dormir em meia caixa de cartão, a sobreviver na rua.
Debaixo de uma ponte, Yannis conheceu Dimitrios, um ex-bailarino que só queria trabalhar e não mendigar. Acabaria por tornar-se assistente de Yannis no projecto Down and Out. Dimitrios, 51 anos, e a namorada, Marialena, 42, vivem na rua. Ela, toxicodependente, chegou a Atenas ainda adolescente em busca de uma vida melhor. Seguiu-se uma vida conturbada, esteve presa, contraiu o vírus da SIDA. Quando Yannis a conheceu, estava a meio de um programa de reabilitação com metadona. A reportagem foi publicada pela Reuters em Junho de 2013. O trabalho foi também divulgado no blogue da agência, acompanhado por um texto do fotojornalista: “Depois de escrever para este blogue dei por mim a pensar: o que aconteceu ao meu país?”, escreveu Yannis nessa altura. O fotojornalista estará em Portugal na próxima semana para integrar o júri do Prémio de Fotojornalismo Estação Imagem, dedicado em exclusivo à reportagem fotográfica. Vem à procura de imagens com “imaginação, criatividade e ética”, diz ao PÚBLICO. “Procuro imagens que criem emoções, que me façam sentir feliz, triste, culpado. Que dão esperança, que fazem chorar”. O impacto das histórias dos sem-abrigo que conheceu, conta, ajudou a alertar para o problema e conseguiu mobilizar alguma ajuda. Hoje, a Grécia tem um novo governo e está, por outras razões, debaixo dos holofotes. “Como ser humano e cidadão grego, espero o melhor. Com o novo governo, espero um novo começo e um futuro melhor para os meus filhos. Como pessoa, cresci a não ter medo”.