Portugal já tem centro de formação para cuidar de bebés prematuros
O “São João NIDCAP – Training Centre Porto” pretende dar uma maior qualidade de vida aos bebés prematuros
Uma equipa de seis profissionais, entre médicos, enfermeiros e psicólogos, do Hospital de S. João quer inovar os cuidados prestados aos recém-nascidos prematuros. Aprenderam novas formas de cuidar dos bebés junto de profissionais norte-americanos, nomeadamente a ler a linguagem gestual deles para, dessa forma, conseguirem interpretar se os tratamentos os estão a “beneficiar ou a prejudicar” ou se estão (ou não) numa posição confortável, explica Hercília Guimarães, directora do serviço de neonatologia do Centro Hospitalar de São João. O recém-nascido merece, assim, uma atenção individualizada onde cada bébé é único. É preciso compreender os bebés, defende a responsável pelo serviço
Dentro da incubadora, os bebés são mantidos dentro de uma “concha” de pano que tenta, dentro do possível, “simular o útero materno”, adianta Madalena Ramos, enfermeira chefe no serviço de Neonatologia. "É como se estivessem na barriga da mãe", acrescenta Hercília Guimarães. Manter os familiares sempre informados ou apoiar a amamentação são outras das preocupações desta equipa. Os cuidados prestados a estes recém-nascidos também passam por um reforço do contacto de pele entre o bebé e a mãe e o pai.
As técnicas, centradas no desenvolvimento e na família, têm como grande objectivo "garantir o desenvolvimento cerebral do bebé.” Para Fátima Clemente, especialista em Neonatologia e mestre no NIDCAP, “a intervenção dos pais demonstrou uma melhoria do desenvolvimento do cérebro e na capacidade cognitiva".
Hercília Guimarães considera que o que o hospital fez até agora “estava bem feito mas era preciso mais alguma coisa”. Assim, após uma visita a Boston, nos Estados Unidos, onde o projecto NIDCAP foi dado a conhecer à equipa que esta quarta-feira inaugurou o centro do Hospital São João, percebeu-se que esta era uma boa aposta e que viria a beneficiar os bebés do centro hospitalar.
A componente emocional do projecto vai ser muito importante, deixando-se de lado protocolos mais rígidos da neonatologia. Para os médicos, a família é um elemento fundamental para ajudar a cuidar do bebé que, por ter nascido prematuramente, tem de passar dias, semanas ou meses na incubadora.
Tânia Martins, mãe de uma bebé prematura que nasceu neste hospital, garante que, apesar de a situação ser má, “houve momentos bons”. O facto de “poder estar perto dos nossos bebés já é muito bom e ajuda a superar o momento difícil”, explica Tânia Martins, garantindo que, enquanto a sua bebé esteve no hospital teve “plena confiança” nos profissionais que a rodeavam e que lhe explicavam “tudo direitinho”.
A enfermeira chefe Madalena Ramos relata a alteração de objectivos que houve desde que decidiram participar no NIDCAP: antes “a nossa preocupação era a sobrevivência”, agora a meta é a “excelência”.
A inauguração do espaço estava inicialmente marcada para o ano passado mas Hercília Guimarães explica que se tratou de um “processo moroso” que, devido a “constrangimentos económicos e de trabalho [por falta de pessoal]”, tornou impossível cumprir prazos.
Os formadores pretendem agora partilhar os seus conhecimentos com o restante pessoal do serviço e, mais tarde, com os especialistas que trabalham fora do hospital. Os principais interessados, para já, são hospitais nacionais e brasileiros e Hercília Guimarães garante que estão "disponíveis para os ensinar. Aliás, é esse o objectivo”.
Segundo dados do ano passado do projecto de Cuidados de Apoio a Recém-nascidos em Risco (CARE), nascem cerca de 1000 crianças com um peso inferior a 1500 gramas. No Hospital São João, cerca de 7% dos recém-nascidos são prematuros.
Texto editado por Andrea Cunha Freitas