Best Youth, a dois
Já têm historial, mas só agora o duo Best Youth se aventura pela Highway Moon, num álbum de canções pop sonhadoras.
E agora o álbum de estreia. “Estava a pensar lançar um disco a solo, convidei a Catarina para cantar e gostámos tanto do resultado que acabámos por fazer uma coisa a dois”, recorda Ed Rocha, resumindo a história do duo. “Depois fomos apanhados de surpresa pela receptividade do primeiro disco o que atrasou o lançamento do álbum que era a ideia inicial.”
Ao longo destes anos chegaram a ter um álbum praticamente feito, mas a insatisfação levou-os a recomeçar quase tudo do zero. Highway Moon é o resultado dessa depuração. Ouvindo as suas canções percebe-se o minucioso trabalho na procura de um desenho sonoro global consistente. “No início tínhamos músicas muito díspares, mas com o tempo fomos elegendo o que se adequava mais à voz da Catarina, ao mesmo tempo que as influências e a maturidade também se transformaram.”
É um álbum de canções pop de inclinação electrónica, embora a guitarra seja omnipresente, que tanto desaguam em baladas sonhadoras como Red diamond ou Rain on the windshield, em instantes de afectuosidade como no enleio acústico de When all the lights are down ou em momentos de maior dinamismo rítmico como acontece em Mirrorball e Ride, sempre com a voz levemente sensual de Catarina em realce.
Têm qualquer coisa da voluptuosidade sintética dos Chromatics, da preguiça desperta dos Beach House ou da nostalgia adolescente dos The xx, como se todos habitassem num filme de Sofia Coppola. Dito assim pode parecer um disco muito programático. Mas não parece que tenha sido assim.
“O disco acaba por apontar para dois lados”, tenta explicar Ed Rocha. “Um mais calmo, terno, contemplativo, com mais espaço, mais minimal. E uma outra vertente mais enérgica ou dançavel. Por mais que goste de rock desde cedo percebi que esse não era o veículo certo para a Catarina, por causa da voz e também das suas influências. Nos últimos tempos andamos a ouvir muita electrónica, como Jon Hopkins, e essa vertente mais dançavel acabou por surgir naturalmente a partir daí.”
Ele compõe, produz, estrutura, faz música a pensar nela. Ela entra depois na fase das letras e das vozes. “O meu foco neste disco foi sem dúvida a produção”, diz ele. “Levei muito tempo na escolha dos sons, dos sintetizadores, da instrumentação. Não necessariamente no sentido de adicionar mais coisas, mas pelo contrário, limitando, reduzindo, purificando a paleta.”
Quando surgiram foram muito comparados a projectos como os The Kills, pelo lado óbvio de serem dois e de se sentir alguma ambiguidade relacional patenteada em palco ou nas fotos de promoção. Hoje já não é bem assim, assegura Ed Rocha.
“É muito difícil essa ambiguidade não emanar num projecto a dois como este, em palco, nas fotos ou vídeos. Mas nunca pensámos nisso. Nunca quisemos aproveitar-nos desse aspecto. Aconteceu, apenas. Mas hoje já não sinto isso. Conhecemo-nos há muito, somos amigos e temos uma grande cumplicidade. Afinal são muitas horas a trabalhar juntos.”
Ed Rocha tem formação em design, mas mesmo que não fosse assim, para ele, a música não é dissociável da representação visual. E isso presente-se na forma como o duo se expressa.
“As coisas estão todas ligadas”, defende ele. “Para mim é imperativo estar envolvido em todas as fases do processo criativo, da ideia à concepção, da execução à partilha com o público. A componente visual encaixa com a parte sonora e esta com a estética. Tudo se conecta. É como um todo.”
Já as letras, confessa, assinadas pelos dois, constituem a maior dor de cabeça do duo. Ou, pelo menos, justifica, rindo-se, é aí que surgem as maiores inseguranças. “Parte do disco são diálogos internos, não tem que ser qualquer coisa densa, mas é importante sentirmos as palavras totalmente, porque só dessa forma conseguiremos transmitir qualquer coisa a quem ouve.”
Em palco desdobram-se em quatro, com a ajuda de Nuno Sarafa em bateria e Fernando Sousa (X-Wife) no baixo. No dia 11 actuam na Casa da Música do Porto e depois seguir-se-ão mais concertos pelo país. O mercado externo também está debaixo de olho. Eles sabem que talvez seja essa a única forma de sobreviver num contexto como o português que vive um momento fervilhante criativamente, mas onde cada vez mais projectos têm de partilhar uma realidade comercial exígua.
“É isso”, concorda Ed Rocha. “Há imensa música boa a ser feita neste momento, mas nem todos conseguem captar a atenção o que acaba por ser terrível. Será uma pena se alguém se perder pelo caminho.” Para já o itinerário deles passa pela lua.