Abutre-preto voltou a nidificar no Alentejo 40 anos depois

Maior ave de rapina da Europa ocupou dois ninhos artificiais instalados pela Liga para a Protecção da Natureza há três anos, em Moura.

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Abutre-preto está classificado como 'em perigo' no território europeu

Os dois casais estão a utilizar ninhos artificiais instalados há três anos pela LPN, responsável pelo projecto LIFE Habitat Lince-Abutre, concluído em Setembro de 2014. A equipa instalou 12 grandes ninhos, em estruturas compostas por varas metálicas com um cesto na ponta, na Herdade da Contenda, propriedade da Câmara de Moura com 5300 hectares, na fronteira com Espanha.

Recentemente foi possível “confirmar a presença de um exemplar desta espécie em incubação num destes ninhos e a deposição de material de revestimento noutro, correspondendo assim ao início do desejado restabelecimento de uma colónia reprodutora no Alentejo”, informa a LPN em comunicado.

Durante mais de 40 anos, o abutre-preto (Aegypius monachus), que é a maior ave de rapina da Europa, não fez ninho em Portugal. Há cerca de 20 anos houve uma tentativa de nidificação falhada, também na Herdade da Contenda. Por isso, a ocupação destes ninhos artificiais representa “um importante marco na conservação do abutre-preto em território nacional”, escreve a LPN.

A espécie, em risco de extinção, regressou como reprodutora a Portugal em 2010 na região do Tejo Internacional, onde continuam a nidificar 12 casais. Um casal está também a fazer ninho no Douro Internacional. Em todo o mundo, a Birdlife International estima que existam cerca de 10.000 casais, dos quais 1900 estão na Europa.

Além da instalação de cerca de 30 ninhos artificiais em Moura, Mourão, Barrancos e Vale do Guadiana, a LPN criou também uma rede de campos de alimentação para aves necrófagas naquela zona, dirigida ao abutre-preto. O projecto LIFE, que representou um investimento de 2.250.000 euros, incluiu também a aplicação de um conjunto de medidas para a conservação do lince-ibérico e dos habitats destas duas espécies, incluindo a sensibilização e o envolvimento das comunidades locais.

Durante os próximos meses a LPN continuará a fazer a monitorização dos ninhos ocupados pelo abutre-preto, em colaboração com a Herdade da Contenda, “tendo permanentemente em atenção a necessária compatibilização com as restantes actividades em curso na propriedade, como sejam a caça, a silvicultura, o ecoturismo ou o usufruto pelas comunidades locais”.

O envenenamento é uma das principais causas de morte desta ave – ainda nesta segunda-feira a associação ambientalista Quercus denunciou a morte de um abutre-preto por envenenamento, na zona de Vila Velha de Ródão.

O ambientalista explicou que a ave recolhida pelo Serviço de Protecção da Natureza e Ambiente (SEPNA) ainda deu entrada no Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens (CERAS) de Castelo Branco com vida, mas acabou por morrer. "Nesta época do ano, com o fim da época de caça, ficam centenas de animais abandonados na região [cães], que com fome podem atacar os rebanhos e até pessoas. Muitas vezes, os criadores de gado e caçadores colocam venenos para matar estes animais abandonados, que acabam por morrer e provocar outras vítimas, como aves e mamíferos selvagens", adiantou à Lusa, sublinhando que o envenenamento é crime.

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