Merkel recebe Tsipras para tentar acalmar os ânimos

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Merkel espera evoluir para "uma convergência" com Tsipras THIERRY CHARLIER/AFP

A chanceler alemã, que já se encontrou com o seu homólogo grego na passada quinta-feira numa mini-cimeira em Bruxelas, afirmou que deseja este encontro “com a ideia de que as divergências de opinião possam evoluir para uma convergência”.

Este primeiro frente-a-frente deverá contribuir para atenuar o clima tóxico que se instalou entre Atenas e Berlim depois da eleição do Governo de esquerda radical no final de Janeiro numa Grécia economicamente asfixiada. Um clima particularmente nefasto numa altura em que se joga a permanência, ou não, do país na zona euro.

Para Hajo Funke, politólogo da Universidade Livre de Berlim, estas tensões ilustram o “confronto entre dois mundos”.

De um lado, “um Governo grego de esquerda, socialmente empenhado e confrontado com um desmoronamento da sociedade como nenhum país da Europa Ocidental viveu depois de 1945”, descreve Funke. Do outro, a Alemanha, “país satisfeito, visto como economicamente feliz e potência dominante da Europa, preocupado em preservar a sua relativa boa saúde económica”.

Na sexta-feira, Alexis Tsipras comprometeu-se em Bruxelas a concretizar mais rapidamente as promessas de reformas acordadas com o Eurogrupo, enquanto a Comissão Europeia colocou à disposição de Atenas “dois mil milhões de euros para o ano de 2015”, provenientes de fundos estruturais não utilizados.

Mas a disponibilização da ajuda financeira necessária para o Estado grego se manter à tona (7,2 mil milhões de euros) continua dependente da luz verde dos ministros das Finanças da zona euro.

“O tempo está contado para a Grécia”, avisou Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças de Angela Merkel, que não esconde o seu enfado em relação a Atenas. “Até agora, ninguém percebeu o que é que o Governo grego quer”, disse no início da semana.

“Jogo tóxico”
As tiradas recorrentes deste defensor do rigor, que já foi caricaturado em uniforme nazi por um jornal satírico grego, está a envenenar as relações entre os dois países, queixou-se o ministro grego da Defesa.

A Alemanha, por seu lado, queixa-se do estilo de Yanis Varoufakis, ministro grego das Finanças omnipresente nos meios de comunicação social. Um vídeo onde ele aparece a mostrar o dedo do meio aos credores do país, num debate de 2013, provocou uma vaga de indignação entre os alemães, mas ninguém sabe ao certo se as imagens são verdadeiras ou se se trata de uma montagem. O ministro nega.

A vontade de Atenas de exigir reparações à Alemanha pelos crimes nazis da Segunda Guerra, dossier que Berlim considera jurídica e politicamente fechado, veio exacerbar ainda mais a crispação numa altura em que os eleitores alemães se mostram cada vez mais hostis aos planos de resgate dos países do Sul da Europa.

Esta exasperação geral exprime-se com violência nas páginas do poderoso tablóide Bild. No final de Fevereiro, quando o Parlamento votou a favor de um prolongamento do programa de auxílio financeiro à Grécia, o jornal publicou selfies dos seus leitores que foram convidados a dizer um rotundo “nein”.

No seu blogue, num texto publicado na sexta-feira, Varoufakis apelou aos gregos e alemães a “porem fim ao jogo tóxico de acusações recíprocas e ao apontar de dedos moralizadores que só beneficiam os inimigos da Europa”.

Para lá da guerra de palavras, das caricaturas e do tom demasiado elevado, os governos dos dois países partilham um medo comum: uma saída da Grécia da zona euro que tanto Tsipras como Merkel desejam evitar.

 

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