No equinócio da Primavera, a Lua vai tapar o Sol e as marés vão ser maiores
O Sol vai ficar parcialmente tapado em Portugal na sexta-feira, no mesmo dia do equinócio da Primavera. Estes fenómenos conjugam-se para produzir marés anormalmente altas.
Nas ilhas da Terceira e do Faial, no arquipélago dos Açores, este fenómeno astronómico será mais espectacular: aí, a Lua vai tapar 74,7% da área do Sol, por volta 7h50. Enquanto na Madeira, só 57,2% do Sol ficará encoberto, às 8h45. No Continente, onde o ponto máximo do eclipse será por volta das 9h, o fenómeno será mais completo à medida que se caminha para norte: em Faro, apenas 62,3% do Sol ficará tapado, enquanto em Braga ficará escondido em 72,4%.
Mas tudo dependerá do tempo que fizer na altura. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera promete aguaceiros fracos para o Continente e a Madeira, e nuvens para os Açores. “Se fosse um dia de céu limpo, seria mais fácil de perceber [o efeito]”, disse ao PÚBLICO Rui Agostinho, director do Observatório Astronómico de Lisboa (OAL). Em Lisboa, acrescentou o astrónomo, 66,9% do Sol ficará ocultado, e “isto nota-se”.
Por isso, vários observatórios astronómicos e centros de ciência do país prepararam postos de observação para quem quiser — e provavelmente antes de ir para o trabalho ou para a escola — começar o dia de uma forma diferente.
O eclipse irá durar em média duas horas. Em Lisboa, inicia-se às 7h59, atinge o seu ponto máximo às 09h01 e termina às 10h08. Na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, no Campo Grande, estarão quatro telescópios apontados para o Sol, com as devidas protecções para os olhos. Haverá postos de observação no Planetário do Porto, nos centros da Ciência Viva em Aveiro, Bragança, Coimbra, Constância, Faro e Tavira, no Observatório Astronómico de Santana, na ilha de São Miguel, e na Universidade da Madeira, entre outros.
“Nos Açores, temos realmente as melhores condições, as mais favoráveis, para observar este eclipse parcial”, disse Pedro Garcia, técnico do Observatório Astronómico de Santana, à agência Lusa. Neste observatório haverá material necessário para quem quiser observar o fenómeno celeste, com o custo de um euro para os maiores de 12 anos. “Irá notar-se uma ligeira redução da luz. Irá escurecer um pouco e será visível em todo os Açores.”
Para observar o eclipse fora dos locais preparados, é necessário ter óculos especiais para não pôr em perigo a visão.
Coincidências astronómicas
O Sol é 400 vezes maior do que a Lua, mas como a Lua está 400 vezes mais perto da Terra do que o Sol, consegue tapá-lo completamente quando passa entre o Sol e a Terra. De vez em quando, Vénus também passa entre a Terra e o Sol, mas estando muito mais longe de nós, o que se vê é apenas uma pequena bolinha escura a atravessar-se no meio da nossa estrela (como ocorreu em Junho de 2012 e agora só voltará a fazê-lo em 2117).
Mesmo assim, nem sempre a Lua produz um eclipse solar total. O fenómeno de sexta-feira é apenas o 10º eclipse solar total do século XXI, apesar de geralmente haver dois eclipses solares por ano. Parte deles são parciais, quando a Lua não fica completamente à frente do Sol, outros são anulares — quando a Lua tapa o centro do Sol, mas fica visível um anel de Sol.
Isto deve-se à variação da distância entre a Lua e a Terra durante a órbita elíptica do satélite natural. Os eclipses anulares ocorrem quando a Lua está mais longe. E vista a partir do nosso planeta, ela torna-se mais pequena e não consegue tapar o Sol na totalidade. Em Outubro de 2005, foi possível observar um eclipse solar anular no Norte de Portugal.
Mas no eclipse desta sexta-feira sucede justamente o contrário. Nesta quinta-feira, a Lua atinge o perigeu — o ponto da sua órbita mais perto da Terra, a apenas cerca de 362.600 quilómetros de distância. Por isso, vai conseguir tapar todo o Sol, produzindo uma região de eclipse total numa faixa com uma largura entre os 410 e 480 quilómetros, segundo o OAL, ao longo de uma linha de 5600 quilómetros no Atlântico Norte, avança a agência AFP.
Eclipse de 1999 visto do espaço
Uma sonda que estivesse a filmar o fenómeno no espaço iria registar uma grande sombra a surgir a sul da Gronelândia e a deslizar pelo Atlântico, passando entre a Islândia e o Reino Unido, rumando depois para norte e galgando o arquipélago de Svalbard, até desaparecer no Pólo Norte, na região onde já será noite.
Apesar de o eclipse terminar cedo, as coincidências astronómicas marcadas para esse dia não acabam aqui. Às 22h45 desta sexta-feira, será o equinócio, marcando o início da Primavera no Hemisfério Norte. O equinócio dá-se quando o dia e a noite duram o mesmo tempo, 12 horas — ou seja, quando o Sol cruza o plano do equador celeste.
Além disso, como a Lua está muito perto da Terra e alinhada com o Sol (só assim se dá o eclipse), a força gravítica acaba por causar marés mais extremas. O resultado é que entre 19 e 23 de Março, a Terra vai viver as maiores supermarés do ano, mais fortes no equador e mais fracas nos pólos. Em Lisboa, a maré mais extrema será a 21 de Março, às 3h43, quando as águas subirem 4,33 metros.
“Esta coincidência acontecerá novamente no eclipse total do Sol, a 20 de Março de 2034, no equinócio e próximo do perigeu lunar”, lê-se num comunicado no site do OAL. Assim, este Inverno fecha-se com uma cumplicidade rara dos astros, que anunciam a nova estação.
Locais onde há actividades para ver o eclipse:
Açores - Observatório Astronómico de Santana em São Miguel
Aveiro - Fábrica de Ciência do Centro de Ciência Viva de Aveiro
Bragança - Teatro Municipal de Bragança, pelo Centro de Ciência Viva de Bragança
Coimbra - Parque Verde de Mondego, pelo Centro de Ciência Viva em Coimbra; Santa Clara, pelo Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra
Constância- Centro de Ciência Viva de Constância
Faro - Mercado Municipal de Faro, pelo Centro de Ciência Viva do Algarve
Lisboa - Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa; Observatório Astronómico na Tapada da Ajuda; Planetário de Lisboa; Museu Nacional de História Natural e Ciência; Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, na Caparica; Centro de Interpretação Ambiental da Pedra do Sal em São Pedro do Estoril
Madeira - No cais do Funchal, pelo Grupo de Astronomia da Universidade da Madeira
Porto - Planetário do Porto
Tavira - Escola Básica D. Manuel I, pelo Centro de Ciência Viva de Tavira