Governo francês criticado por deixar sair dois Rembrandt
Governo autorizou a exportação das obras para venda. Família Rothschild quer 150 milhões de euros pelos retratos.
Em causa estão dois retratos do jovem casal Maerten Soolmans, de 21 anos, e Oopjen Coppit, de 23 anos, representantes das elites burguesas de Amesterdão. Rembrandt pintou-os antes do seu casamento em 1634. As pinturas estão em mãos privadas desde sempre. Primeiro na família dos protagonistas das obras e mais tarde na família Rothschild. Foi em 1877 que os dois retratos foram comprados por Gustave de Rothschild. É desde essa altura que se sabe que as pinturas estão em França, país que poderão agora abandonar, uma vez que Éric de Rothschild, o actual proprietário, obteve a autorização de exportação.
É essa autorização que está agora no centro de toda a polémica. Porque é que o Governo francês não impede temporariamente a venda das obras no estrangeiro? Porque não há dinheiro para isso, alegou o Ministério da Cultura. Chamada a pronunciar-se sobre o assunto, a direcção do Museu do Louvre, liderada por Jean-Luc Martinez, também não se mostrou interessada em comprar as obras por falta de fundos. 150 milhões de euros é muito dinheiro e a compra destas duas obras não é uma prioridade, não há por isso nada que possam fazer para evitar a saída das obras. Na sua colecção, o Louvre tem o famoso Bestsabé no Banho, entre várias obras do mestre holandês.
As críticas têm-se multiplicado. A publicação especializada La Tribune de L’Art lamenta a posição do museu mais visitado do mundo e que o Estado francês perca estas duas obras que só foram expostas ao público duas vezes no ano de 1956 – as duas na Holanda, no Rijksmuseum (Amsterdão) e no Boymans van Beuningen (Roterdão).
O La Tribune de L’Art, site dedicado às artes, recorre à lei do património francês para defender que os dois retratos deviam ter sido classificados como tesouros nacionais, submetendo-os assim a um regime especial que os impede, por exemplo, de serem vendidos durante 30 meses.
“Éric de Rothschild está no seu direito de vender. Mas houve um tempo em que a sua família foi a grande mecenas dos museus franceses. O próprio, aliás, é membro do conselho de administração da Sociedade de Amigos do Louvre”, lê-se no La Tribune de L’Art. “Não seria vergonhoso que se deixassem sair as obras se não houvesse forma de as conservar, mas render-se sem lutar é indigno de um país como a França. Demonstra que o conceito de tesouro nacional já não existe”, continua.
Berjot Vincent é o director do Património francês e já garantiu que a decisão de permitir a exportação das obras foi discutida colectivamente, tendo participado nela também o director do Louvre.
No meio deste processo, a família Rothschild não tem falado. Éric de Rothschild admite ter pedido de facto um certificado de exportação, que lhe foi concedido, mas não diz para que efeito o quer. O El País cita Gregor Weber, responsável do departamento de Escultura do Rijksmuseum e especialista na obra de Rembrandt, que confirma o interesse destas duas obras: “Se chegarem ao mercado será muito interessante, o pintor executou muito poucos retratos de corpo inteiro”.
As obras pertencem à primeira época de Rembrandt como retratista. Quanto retratou Maerten Soolmans e Oopjen Coppit, o pintor tinha 26 anos e mudado há pouco tempo para Amesterdão.