11 forças políticas disputam 47 lugares no Parlamento
Ao fim de quatro décadas, madeirenses vão às urnas sem Jardim. PSD luta para manter a maioria absoluta enquanto a oposição faz tudo para travá-la.
Sem o actor que confundia governação e partido (PSD) pelos palcos da ilha e sem a eterna necessidade de conflito permanente. Uma marcha que acabou a 27 de Janeiro de 2012 quando Jardim assinou com a República o Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF) descoberta que foi uma dívida que ascendia a 6,3 mil milhões de euros, sendo que o esforço dos madeirenses, até ao momento, tem exclusivamente servido para pagar juros.
A herança é pesada. A estimativa da população desempregada na RAM, fixou-se em 19,9 mil pessoas. A economia está parada. Com falências atrás de falências. O crescimento é nulo. Não há dinheiro. E muitos questionam se algum dia a Madeira conseguirá pagar a sua dívida. Daí que a situação financeira e social ajuntar aos problemas das acessibilidades - nomeadamente as ligações marítima e área de passageiros entre o Funchal e o continente - bem como a renegociação do PAEF e a redução da carga fiscal sejam os temas centrais da campanha. Uma coisa é certa.
No próximo dia 29 de Março inicia-se um novo ciclo. Nada será como antes, aconteça o que acontecer. Quem teve o original durante 4 décadas rejeita qualquer tentativa de fotocópia. Mas os tiques ainda brotam do terreno, incluindo a oposição que ainda não ajustou o discurso ao ponto de correr o risco de branquear os últimos 40 anos. Temos um exemplo. Ex-socialistas que compõem a Plataforma de Cidadãos escolheram Alberto João Jardim como candidato a presidente do governo.
Com oito partidos em disputa, PSD, BE, CDS, PCTP/MRPP, PND, PNR, JPP, MAS e três coligações ‘Mudança’ (PS/PTP/MPT/PAN), CDU (PCP/PEV) e a Plataforma de Cidadãos (PPM/PDA), os eleitores deparam-se com onze opções de voto. Confuso? Talvez.
Os madeirenses sempre conviveram com boletins carregados de siglas mas sob uma voz de comando. Se as eleições fossem ontem, o PSD-M voltava a vencer, com 43,3% do eleitorado mas sem maioria absoluta, sendo o maior problema para Albuquerque o concelho do Funchal que pende para a esquerda. O estudo de opinião feito pela Eurosondagem para o Diário Notícias da Madeira e a TSF revela que o PSD atinge quase o dobro das preferências da segunda candidatura melhor colocada, a Coligação Mudança (22,5%), ficando o PSD a 1 ou 2 deputados de atingir o objectivo. Recorde-se que já em 2011 o PSD obteve o pior resultado de sempre com Jardim a perder 8 deputados face a 2007.
No estudo de opinião, o CDS-PP desce e abandona a posição de maior partido da oposição, conquistada em 2011. A projecção aponta para 11,1% o que significa perda de mandatos para os centristas. As 10 forças partidárias aparecem nesta altura com probabilidades de serem eleitas.
Destaque para a entrada do JPP, um movimento de cidadãos que se transformou em partido, e que poderá eleger 4 deputados (7,7%). A sondagem aponta, ainda, o regresso do BE (1 deputado) enquanto a CDU, com 4,8%, tende a duplicar preferências e a reconquistar de novo um grupo parlamentar enquanto o PND corre o risco de perder o lugar.
A nível nacional, o PSD de Pedro Passos Coelho tem uma “forte expectativa” de poder renovar a maioria absoluta na região autónoma, mas caso isso não aconteça Carlos Carreiras, vice-presidente do PSD, considera que as situações políticas, na Madeira e no continente, estão bem delimitadas por causa da autonomia da região e do próprio partido. Apesar dessa separação, é sempre evitável uma contaminação negativa. “Tudo o que esteja a desviar as atenções a nível nacional, da governação e nos factores positivos que se começam a destacar, causa ruído e deve evitar-se”, afirma.
Se os sociais-democratas querem segurar a maioria absoluta na Região Autónoma, os centristas querem evitá-la a todo o custo. E admitem que, sem maioria, o PSD venha a fazer coligação com o CDS. Um dos factores que o partido está a ter em conta é a dispersão de votos à esquerda.
“Com um sistema tão proporcional como o da Madeira é fácil eleger um deputado”, comenta um dirigente nacional do CDS. As eleições regionais e a disputa eleitoral entre PSD e CDS são até um pretexto para a questão da coligação pré-eleitoral nacional ficar em banho-maria até ao dia do sufrágio. Resta saber se os resultados de 29 de Março vão ser facilitadores de uma coligação PSD/CDS regional e se, nessa altura, a aliança entre os dois partidos se replica a nível nacional. Na Madeira é visível o namoro do CDS.
Albuquerque acha “estranho” tendo em conta que o partido de José Manuel Rodrigues ataca ferozmente as propostas dos sociais-democratas. O novo líder do PSD/M e candidato à presidência do governo, está debaixo de fogo. Da oposição, é óbvio, que o tenta colar à continuidade.
Do ainda, um lume brando que alimenta a fogueira do partido, após umas eleições internas fortemente disputadas e que obrigaram a uma segunda volta. Daí que a renovação da maioria absoluta seja o seu grande objectivo. Apesar de Jardim manter-se fisicamente afastado desta campanha, inaugurando tudo o que pode até ao fim, incluindo uma roulotte, a verdade é que as suas contas não deram certo quanto ao sucessor, e tem feito constar junto de alguns dos seus pares que vai votar em branco.
Albuquerque, por seu lado, empenha-se em afastar-se da matriz de Jardim, delineando uma campanha de proximidade, porta-a-porta, promovendo jantares com apoiantes. E sem comícios, facto inédito. Só a Coligação Mudança e o CDS irão utilizar este meio de comunicação de marketing político.
O que já não é inédito é Pedro Passos Coelho, ao contrário de António Costa, Paulo Portas, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, não participar na campanha. Albuquerque considera que “não faz sentido” a presença do lider nacional uma vez que se trata de eleições regionais.
Mas há mais. O sucessor de Jardim alterou, ainda, o léxico. O célebre “contencioso das autonomias” nunca mais foi evocado, substituindo-o por “pontes de diálogo” com o poder central, alterando, ainda, as promessas por “garantias”. Sem compromissos de acordos pré-eleitorais o candidato do PSD não rejeita o cenário de uma coligação mas não aponta candidatos remetendo as eventuais soluções para depois das eleições.