Aliados de Dilma saem à rua para exigir "respeito"

Trabalhadores e estudantes saem à rua nesta sexta-feira antecipando os protestos conservadores de domingo. Mas manifestações também criticam Dilma.

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Popularidade de Dilma Rousseff tem caído desde o início do segundo mandato. Ueslei Marcelino/Reuters

As acções desta sexta-feira são vistas em larga medida como uma contra-manifestação aos protestos marcados para domingo. Espera-se que as manifestações contra o Governo de Dilma, no dia 15, organizadas sobretudo por movimentos conservadores e liberais, levem dezenas de milhares de pessoas à rua em vários pontos do Brasil.

No entanto, é preciso prudência para interpretar as manifestações desta sexta-feira como verdadeiras jornadas de apoio ao Governo do Partido Trabalhista (PT) de Dilma. Embora movimentos como a CUT estejam historicamente associados ao PT, o protesto de hoje visa também as políticas de austeridade apresentadas pela Presidente do Brasil como antídoto para a estagnação económica do país.

Entre estas medidas encontram-se restrições ao acesso a subsídios de desemprego, abonos salariais e de saúde, assim como a pensões em caso de morte. Para além destas medidas, o Estado planeia ainda cortar 18 mil milhões de reais em despesa (cerca de 5499 milhões de euros). O pacote de “ajuste fiscal”, como é conhecido no Brasil, contraria promessas e o tom anti-liberal da campanha eleitoral de Dilma Rousseff para as presidenciais.

Aliás, o movimento sindicalista pronuncia-se explicitamente contra o ajuste fiscal de Dilma, como se lê num comunicado na página web da CUT, que cita Regina Cruz, presidente da sindical no Paraná: “Precisamos de uma política económica que esteja aliada ao desenvolvimento social. Não podemos aceitar o ajuste fiscal, sobretudo com a retirada de direitos da classe trabalhadora. Direitos não se retiram, se ampliam”.

No entanto, o principal tom da manifestação desta sexta-feira parecem ser os protestos “em defesa da Petrobras”. Inicialmente, este ponto era interpretado pela imprensa brasileira como um objectivo “difuso” das manifestações – não se sabia se o Governo PT de Dilma seria directamente visado. Mas o desenrolar das manifestações da manhã (início da tarde em Portugal) parecem mostrar que os protestos deixam de fora o executivo do PT.

Junta-se às manifestações, por exemplo, um ex-presidente da petrolífera, Sérgio Gabrielli, do PT (que já foi prestar declarações à Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o caso de corrupção). Já um dos membros do Conselho da Administração da Petrobras  – eleito pelos trabalhadores – visou directamente a oposição política a Dilma no seu protesto em favor da petrolífera. "É um protesto em prol da Petrobras, contra o massacre que ela vem sofrendo por aqueles que não aceitaram a derrota nas urnas e querem reverter as políticas de exploração", afirmou ao Folha de São Paulo Deyvid Bacelar, que participava no protesto em São Salvador da Bahia. 

De acordo com o manifesto da CUT, os protestos querem uma “reforma política” geral, que permita “combater a corrupção entre dirigentes empresariais e políticos”. Deixam de fora, portanto, as críticas que se têm multiplicado nos movimentos conservadores à proximidade do PT ao caso de corrupção na petrolífera.

A manifestação por uma “reforma política” do sistema brasileiro surge enquadrado num dos pontos da manifestação: a “defesa da democracia”. É aqui que reside aquele que é visto como o maior apoio das manifestações desta sexta-feira a Dilma Rousseff.

Grande parte dos protestos de domingo passa pelo pedido de exoneração de Dilma Rousseff do cargo de Presidente da República, embora um dos grandes movimentos promotores, o “Vem pra Rua”, não defenda a exoneração. Em resposta, o Governo de Dilma argumenta que não existem razões para pedir o “impeachment”. Alguns membros do Governo e da maioria alertam até para um ambiente de “golpe”, referindo-se à exigência de exoneração que pautará os protestos de domingo.

Já os protestos desta sexta-feira dizem que é preciso “respeito” pela Constituição do Brasil, defendendo assim a tese do executivo. “Fomos às ruas para acabar com a ditadura militar e conquistar a redemocratização do país. Democracia pressupõe o direito e o respeito às decisões do povo, em especial, as dos resultados eleitorais. A Constituição deve ser respeitada”, lê-se no manifesto da CUT. 

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