Conheça os episódios que marcam a história e o futuro do BPI
1981 – Surge a Sociedade Portuguesa de Investimentos SPI. Criada por Artur Santos Silva (actual presidente do conselho de administração do BPI), a SPI propunha-se financiar projectos de investimento do sector privado, contribuir para o relançamento do mercado de capitais e para a modernização das estruturas empresariais portuguesas”.
A componente accionista era bastante diversificada, composta por cerca de cem empresários e empresas nacionais, com forte incidência do Norte do país. É o caso, por exemplo, de Américo Amorim, Manuel Gonçalves, Arlindo Soares de Pinho, Fernando Guedes, Salvador Caetano, Álvaro Leite, Ilídio Pinho e João Macedo e Silva, entre muitos outros.
1985 – A SPI passa a banco de investimento, com a possibilidade de captar depósitos e fazer empréstimos. Era o início do Banco Português de Investimentos (BPI), para o qual Fernando Ulrich, actual presidente executivo, entrara em 1983.
1986 - No mesmo ano em que Portugal adere oficialmente à CEE, a instituição financeira abre o capital e coloca acções nas bolsas de valores de Lisboa e do Porto.
1991 – Em Agosto, o BPI ganha a privatização do Banco Fonsecas & Burnay (BF&B), participando assim na vaga de privatizações que se abriu com a revisão constitucional (que acaba com o carácter irrevogável das nacionalizações).
Com esta operação, o BPI não só ganha escala como deixa de estar restrito à banca de investimento, apostando também na banca comercial. É nesta data que o banco efectua uma parceria com o Itaú, que acabou por resultar na entrada do grupo brasileiro no capital do BPI.
1995 – O BPI procede a uma reorganização, com a criação de uma holding bancária, o BPI SGPS, que passa a ser a sociedade cotada em bolsa, e que agrega o BF&B e o BPI. A catalã La Caixa e a seguradora alemã Allianz entram no capital da instituição, juntando-se assim ao Itaú.
1996 – O BPI assegura a privatização do grupo BFE, que engloba o Banco de Fomento Exterior e o Banco Borges & Irmão, fazendo crescer a sua rede comercial a nível nacional e abrindo portas em Angola e Moçambique. Dois anos depois, as marcas e as instituições são alvo de fusão, dando origem ao Banco BPI (banca comercial), além do BPI – Investimentos.
É também em 1998 que o banco adquire a totalidade do capital do Banco Universo, um banco in-store pensado pela Sonae.
2000 – Artur Santos Silva e Ricardo Salgado negoceiam, em Janeiro desse ano, um projecto de fusão entre o BPI e o BES. No entanto, no final de Março, as negociações acabam sem acordo. Se as instituições eram semelhantes na sua dimensão, não o eram em termos accionistas e de modelo de gestão.
Por esta altura, o banco tinha sete accionistas qualificados (com mais de 2%): Banco Itáu (12,5%), La Caixa (12,4%), Allianz (8,9%), Sonae (4.3%), Arsopi (3,15), Grupo Violas (2,9%) e CGD (2,8%).
2002 – Reorganização do grupo, com o BPI SGPS a absorver o Banco BPI. A sucursal de Angola passa a banco de direito angolano e surge o Banco de Fomento Angola (BFA).
2003 – O Banco de Fomento Moçambique, do BPI, entra num processo de fusão com o Banco Comercial e de Investimentos, ligado à CGD. Surge então o BCI Fomento, com accionistas locais, ficando o BPI com 30% da instituição, controlada pela CGD.
Nesse ano, o Itaú já detém 16,1% do capital, e o La Caixa 16%. Passam a estar também presentes o Grupo Totta (com 7,6%, depois do Santander), o BCP (3,4%) e o Grupo Espírito Santo (2,2%). A Arsopi descera para 2,9%.
Por esta altura, os direitos de voto estão limitados a 12,5% (valor a partir do qual a blindagem impede a utilização de uma posição maior, garantindo distribuição de peso accionista e mais autonomia de gestão).
2004 – A assembleia geral de accionistas de 20 de Abril marca o fim das funções executivas de Artur Santos Silva, por limite de idade (62 anos) que passa a presidente do conselho de administração. O cargo de CEO passa então para Fernando Ulrich.
A relação com a Allianz é estreitada através de uma parceria estratégica para a gestão da resseguradora Cosec. Em Dezembro, o BPI, que tinha várias participações em empresas, vende os 41,4% que detinha na SIC, por 129 milhões de euros. Entra na Galp e está ainda na PT (1,7%), no BCP (1,7%), na Impresa (dona da SIC, com 8,4%), entre outras. Em 2005 acaba por vender a posição na PT por cerca de 150 milhões.
2006 – O BCP, liderado por Paulo Teixeira Pinto, lança uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre o BPI, que é rapidamente vista como hostil. Nessa altura, havia um cruzamento de posições entre os dois bancos. A investida arranca em Março e, em Abril, o conselho de administração classifica-a como “totalmente inaceitável”.
Poucos dias depois o limite dos direitos de voto sobe para 17,5%, o que abre portas a reforços dos principais accionistas do BPI. O ano termina sem que a OPA tenha um desfecho. O BCP detém 6,6% do BPI e o La Caixa supera o Itaú e assegura já 25%, ficando os brasileiros como segundos maiores accionistas, com 17,5% (a mesma percentagem dos limites dos direitos de voto).
2007 – A OPA, depois de ter recebido a luz verde da Autoridade da Concorrência, arranca oficialmente a 10 de Abril. Duas semanas depois, o BCP aumenta o valor oferecido, subindo de 5,7 para sete euros por acção. No dia 7 de Maio, são conhecidos os resultados da oferta, que acaba por ser rejeitada por esmagadora maioria (só 3,9% do capital do BPI aceita).
Em Outubro, há uma manobra alternativa da gestão do BPI, que propõe uma fusão ao BCP. As negociações vão terminar sem sucesso no final de Novembro. Por esta altura, o BCP detém 10% do BPI e este é dono de 5,2% das acções do BCP.
2008 – O BPI deixa de deter capital na Galp Energia e desfaz-se da sua posição no BCP. Em Setembro, pouco antes do colapso do Lehman Brothers e do alastrar da crise financeira a nível global (e que irá ajudar à crise do euro), o BPI anuncia que a operadora de telecomunicações angolana Unitel vai ficar com 49,9% do banco do BPI em Angola, o BFA.
A empresária Isabel dos Santos, filha do Presidente da República de Angola, controla a Unitel, onde tem, pelo menos, 25% do capital. A operação é concretizada em Dezembro, o mesmo mês em que o BCP vende os 9,69% que detinha no BPI a Isabel dos Santos, que passa a ser o terceiro maior accionista. Por essa altura a La Caixa detém 29,4% do banco e o Itaú 18,9%. Os direitos de voto continuam limitados a 17,5%. Em 2009, o tecto volta a subir, passando a blindagem para 20%.
2011 – O ano fica marcado pela mudança de Governo e pela entrada da troika de credores, com aplicação de uma estratégia de austeridade. A falta de investimento e o aperto do crédito bloqueiam o consumo e fazem disparar o desemprego e as falências, com impactos nos bancos. Em 2011, o BPI regista prejuízos, que ascendem a 285 milhões de euros (contra um lucro de 185 milhões em 2010). No final desse ano, o La Caixa já é dono de 30,1% do BPI, ficando o Itaú com 18,9% e Isabel dos Santos, via Santoro, com 9,99%.
2012 – O ano é marcado por uma profunda mudança accionista, com a saída do Itaú. Em Abril, os brasileiros acabam por vender sua posição ao CaixaBank/La Caixa. Na altura, os catalães ficaram com os 18,87% do Itaú por 93,4 milhões de euros (50 cêntimos por acção). Com essa operação, sobem a posição para 49%. No entanto, a blindagem dos direitos de voto a 20% permitiu que não fosse lançada uma OPA. De seguida, o CaixaBank alienou uma fatia das acções a Isabel dos Santos, descendo a sua posição para os actuais 44,1%. Quanto à empresária angolana assegura o lugar de segundo maior accionista, com 19%.
O ano de 2012 marca também o regresso aos lucros do BPI, com um resultado positivo de 250 milhões de euros. Ao mesmo tempo, o Estado intervém no banco (tal como no BCP e no Banif). Para apoiar o processo de recapitalização, o Estado avança com 1500 milhões de euros em obrigações subordinadas de capital contigente (Coco). O prazo é de cinco anos, mas o BPI vai antecipar o seu pagamento.
2014 – Em Junho, o BPI concretiza o pagamento antecipado dos Coco ao Estado. Por essa altura, dá-se o colapso do GES e do BES, que leva à intervenção das autoridades e à criação do Novo Banco. Em Dezembro, ocorrem dois anúncios por parte do BPI: formaliza a sua manifestação de interesse na compra do Novo Banco, e informa que o BCE mudou a forma como enquadra a supervisão dos activos do BPI em Angola (os 51% do BFA), o que aumenta a exposição da instituição. A decisão do supervisor europeu vem provocar novas necessidades contabilísticas ao nível dos rácios de capital, algo que ainda está por resolver.
Este ano fica ainda marcado pelo regresso do bancos aos prejuízos (-161,6 milhões). No final de 2014, o BPI tinha apenas três accionistas com mais de 2%: CaixaBank/La Caixa (44,1%). Santoro (18,6%) e Allianz (8,4%).
Isabel dos Santos, dona da Santoro, é também a maior accionista do Banco BIC Portugal (que comprou o BPN), com 42,5% (após a saída de Américo Amorim do capital do banco).
Em Portugal, é ainda accionista indirecta da Galp Energia, via Amorim Energia, onde está em associação com a Sonangol. A petrolífera estatal angolana é, por sua vez, o maior accionista do BCP, com 19,4% (em segundo lugar, a longa distancia, está o Sabadell, com 4,3%). A Sonangol, além de estar no capital que o BCP detém em Angola, é também accionista do BAI e do Atlântico, dois outros bancos angolanos com presença em Portugal.
Os investimentos de Isabel dos Santos e os do BPI cruzam-se ainda na NOS. Aqui, o controlo da empresa é repartido entre Isabel dos Santos e a Sonae, através da ZOPT (dona de 50,01%) cabendo ao BPI uma participação (uma das poucas que ainda têm na área não financeira) de 2,14%. O BPI é o único accionista que tem actualmente uma posição superior a 2% (detém 4,52%), excluindo Isabel dos Santos e a Sonae. O grupo da família Azevedo detém ainda, via Sonaecom, mais 2,14% da NOS (presente em Angola através da ZAP, da qual Isabel dos Santos é dona de 70% do capital).
2015
17 de Fevereiro - O CaixaBank/La Caixa anuncia uma OPA sobre o BPI (que ainda não foi formalmente registada na CMVM). O objectivo é acabar com os limites aos direitos de voto, e assegurar a maioria do capital. Os catalães avançam com uma oferta de 1,329 euros por cada acção.
3 de Março – BCP confirma que Isabel dos Santos quer promover uma fusão entre esta instituição e o BPI, quase oito anos depois de uma estratégia com características semelhantes ter falhado.
29 de Abril – A assembleia geral (AG) do BPI, que devia pronunciar-se apenas sobre a aprovação das contas de 2014 e a reposição da política de remuneração dos administradores, passa a ter um terceiro ponto na agenda, proposto pela Santoro. Isabel dos Santos quer deliberar sobre a desblindagem estatutária para acelerar o desfecho da OPA do Caixabank. Artur Santos Silva, na qualidade de accionista, propõe a suspensão da AG e adiamento da votação da desblindagem de estatutos, iniciativa que é aceite por 54,74% dos votos.
17 de Junho – A assembleia geral é retomada, no Porto, contando com 223 accionistas (directamente presentes ou através de representantes), detentores a 81,73% do capital social do BPI. A desblindagem tem alguma aceitação, com 52,45% dos votos expressos a manifestarem-se favoravelmente. No entanto, acaba por ser chumbada, já que eram precisos 75% dos votos.