Cheques para detectar cancro oral só chegaram a metade das pessoas

Ideia era distribuir 5000 cheques em 2014, mas o número não chegou aos 2500. Programa permitiu detectar 14 cancros.

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Pessoas com mais de 40 anos, fumadoras e que bebem em excesso são as mais afectadas Nelson Garrido

As quase 2500 pessoas receberam o cheque no âmbito do Projecto de Intervenção Precoce do Cancro Oral, lançado no ano passado pelo Ministério da Saúde com o objectivo de detectar precocemente um dos cancros com maior taxa de mortalidade em Portugal e que quando é diagnosticado a tempo pode ser curado. O plano está integrado no Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral, com um orçamento total de 16 milhões de euros no ano passado, e surgiu como uma extensão da emissão dos cheques-dentista. Mas, neste caso, não se destina a crianças, grupos de risco ou pessoas com insuficiência económica.

Os alvos são sim as pessoas com mais de 40 anos, fumadoras e que bebem álcool em excesso — as mais afectadas por estes tumores malignos que afectam a cavidade oral, dos lábios à garganta, incluindo as amígdalas e faringe. Alterações de cor, aumento de volume em alguma zona com presença de uma massa endurecida, feridas que não cicatrizam e dificuldade em engolir são alguns dos principais sinais de alerta. Normalmente, na primeira fase, este tipo de cancro não dá dor, apesar de se estimar que mate 500 pessoas por ano em Portugal.

“A implementação do programa está a permitir salvar vidas e melhorar a qualidade de vida dos doentes. Quando há uma intervenção precoce, não só é possível curar o doente como garantir qualidade de vida. O número de biópsias positivas chegou aos 5%, o que está em linha com as estimativas para a prevalência do cancro oral na população portuguesa”, destacou o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, em comunicado. “Este ano, espera-se que o número de pessoas abrangidos pelo cheque de diagnóstico suba para 5000, mas, para isso, é preciso garantir que o programa está a funcionar em pleno, já que neste primeiro ano registaram-se alguns problemas informáticos que condicionaram a sua aplicação”, alertou Orlando Monteiro da Silva.

O programa conta com a participação de 240 médicos seleccionados para integrar a rede. A ideia do rastreio é que o processo demore menos de um mês, entre a primeira consulta com o médico de família ou o dentista que detectam a lesão suspeita, a biópsia que confirma o diagnóstico feita no Ipatimup (Instituto de Patologia e Imunologia Molecular), no Porto, e a chegada dos casos positivos a um dos três IPO. Além do grupo de risco, sempre que o médico de família detecte uma lesão suspeita ou que o próprio doente apresente uma queixa, o cheque também pode ser emitido e o utente pode ir à rede de dentistas seleccionados para ser avaliado e fazer uma eventual biópsia. Se a lesão for detectada numa consulta particular com um dentista, o doente pode também ser encaminhado para o médico de família, para que este ordene a emissão do cheque para biópsia. 

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