Jihadistas destroem esculturas pré-islâmicas em nova "tragédia cultural" no Iraque
O Metropolitan Museum descreveu o ataque contra o Museu de Mossul, “um dos mais importantes do Médio Oriente”, como “catastrófico”.
Os jihadistas ocuparam o museu assim que entraram na cidade, mas disseram aos habitantes que o estavam a guardar e até agora não havia notícias de qualquer destruição de peças.
Entre as enormes estátuas que se vêem na gravação, peritos ouvidos pela televisão Al-Jazira identificam cópias de gesso, reconstituições a partir de fragmentos, mas também muitos artefactos originais oriundos de cidades assírias em Nínive, a região de que Mossul é hoje a capital, e das ruínas greco-romanas de Hatra. Noutra imagem, os radicais usam um berbequim para desfigurar um imponente touro alado assírio de granito na porta de Nergal, na mesma cidade.
“Este ataque é muito mais do que uma tragédia cultural – também é um assunto de segurança, porque alimenta o sectarismo, o extremismo violento e o conflito no Iraque”, afirma num comunicado a directora da UNESCO, Irina Bokova. A chefe da agência das Nações Unidas para a Educação e a Cultura convocou uma reunião de crise do Conselho de Segurança para discutir a situação.
O Metropolitan Museum de Nova Iorque descreveu o ataque “contra um dos museus mais importantes do Médio Oriente” como “catastrófico”. “A colecção do Museu de Mossul cobre todas as civilizações que passaram pela região, com extraordinárias esculturas de cidades reais como Nimrud, Níneve e Hatra”, diz o director do Met, Thomas Campbell.
Estas imagens de destruição surgem um dia depois de os radicais terem feito explodir uma mesquita do século XII no centro de Mossul. Ihsan Fethi, um arquitecto iraquiano a viver em Amã, lamentou “uma perda terrível e um acto inacreditável de terrorismo cultural”. Fethi disse à AFP que os jihadistas destruíram esta mesquita, porque no seu interior se encontrava um túmulo cuja visita constitui um acto de idolatria para os fundamentalistas.
“Fiéis muçulmanos, estas esculturas atrás de mim são ídolos para os povos de antigamente que as adoravam, em vez de adorarem Deus”, afirma um jihadista, que se dirige à câmara. “Os chamados 'assírios', os acadianos e outros povos tinham deuses para a chuva, para as culturas, para a guerra”, diz, antes de lembrar que “o Profeta retirou e enterrou os ídolos em Meca”.
Noutra parte do vídeo, ouve-se o homem afirmar o desinteresse pelo valor patrimonial destas peças ("Não queremos saber, mesmo que valham milhões"), mas o tráfico de antiguidades já foi identificado como uma das fontes de financiamento do grupo radical e alguns peritos notam que as peças destruídas são demasiado grandes e pesadas para serem transportadas com facilidade. No início do mês, a ONU adoptou uma resolução para tentar combater o tráfico de antiguidades pilhadas na Síria e no Iraque.
No fim-de-semana chegaram relatos da destruição da Biblioteca Central de Mossul, mas essa informação não foi confirmada. Para já, sabe-se que várias bibliotecas mais pequenas e livrarias antigas da cidade foram incendiadas.
A história da civilização já perdeu muito durante a invasão norte-americana do Iraque, em 2003, quando o Museu de Bagdad e vários locais arqueológicos foram pilhados. Na Síria, bombardeamentos do regime e combates entre as forças do Presidente e da oposição já levaram à destruição total ou parcial de tesouros indescritíveis, como o mercado da Cidade Velha de Alepo, Património Imaterial da Humanidade.
Agora, são os jihadistas que controlam vastas áreas da Síria e do Iraque que levam a cabo uma destruição cultural contínua. Só no que respeita a livros e manuscritos, a UNESCO diz que pode estar em curso “um dos actos mais devastadores de destruição de colecções de bibliotecas na história da humanidade”.