Afegã da capa da National Geographic falsificou documentos no Paquistão
Sharbat Gula é apenas uma em quase três milhões de refugiados afegãos que vivem no país: com Islamabad a tentar expulsar todos os que pode, cada vez mais usam subornos e documentação falsificada para obter o cartão de identidade.
A jovem de olhos verdes-claros surge agora envelhecida, numa foto tipo passe do seu cartão de identidade nacional, um documento fundamental para trabalhar, comprar propriedade ou abrir uma conta, mas que não está disponível para quem não nasceu no Paquistão.
Sharbat Gula é apenas uma em quase três milhões de refugiados afegãos que vivem no país: com Islamabad a tentar expulsar todos os afegãos que pode, cada vez mais refugiados usam subornos e documentação falsificada para obter este cartão de identidade.
O nome, a fotografia, a data de nascimento, 1969, o nome do marido e o número de filhos, tudo está correcto no pedido entregue pela afegã, hoje com mais de 40 anos. A única mentira é o lugar de nascimento, que a refugiada diz ser o bairro de Nauthia Qadeem, em Peshawar, a cidade do Noroeste onde vivem 1,6 milhões dos refugiados afegãos registados.
Faik Ali Chachar, porta-voz da Autoridade Nacional de Registos, citado pelo Guardian e pela AFP, diz que o cartão de Gula foi detectado como falso e bloqueado em Agosto. Quatro responsáveis foram suspensos por causa do seu suspeito envolvimento, mas ainda decorre uma investigação. Gula terá conseguido o seu cartão falso em conjunto com um grupo de refugiados — as autoridades identificaram mais de 22 mil bilhetes de identidade emitidos ilegalmente e nas mãos de afegãos.
As primeiras vagas de refugiados afegãos chegaram ao Paquistão logo em 1979, quando a União Soviética invadiu o Afeganistão, e a tendência só cresceu com a retirada das tropas russas, em 1989, à medida que a guerra civil no país se deteriorava. Há várias gerações de afegãos que nunca conheceram o seu país.
Nos últimos anos, desde o derrube dos taliban, no fim de 2001, muitos regressaram ao seu país. Mas muitos permaneceram, apesar das tentativas do Paquistão para se ver livre deles. Os líderes paquistaneses já ameaçaram cancelar o estatuto de refugiados aos afegãos e destruíram bairros de lata ocupados por refugiados em Islamabad.
Estas atitudes intensificaram-se depois dos atentados dos taliban contra uma escola, onde foram mortos mais de 130 alunos, em Dezembro. Nas semanas seguintes, a Organização Internacional das Migrações contabilizou 33 mil afegãos sem documentos que atravessam a fronteira, denunciando terem sido espancados pela polícia e expulsos das suas casas.