Isto é o Haiti
A Baixa de Port-au-Prince é uma das zonas mais perigosas do mundo para um estrangeiro. O povo está zangado. Irritado. Tem fome e diz-se traído. Cinco anos depois do sismo, milhões de pessoas continuam abandonadas. Reportagem de Luis Pedro Nunes e Alfredo Cunha
Voltaire no bairro
“É preciso ter em conta que a Revolução Francesa foi feita pela própria burguesia, de cima para baixo, enquanto a Revolução Haitiana fez-se de baixo para cima. Escravos contra os iluminados da Revolução Francesa.” E citou Voltaire, Diderot, Montesquieu, Rousseau e D Pedro I. Ora dizem os manuais de jornalismo que não se deve começar uma reportagem por uma citação. Mas é que esta frase que está entre aspas vai contra toda a lógica do local onde estávamos e serve para criar perplexidade no leitor. Sim. Não é pelo sentido ou pelo conteúdo, mas pelo contexto. Estava a abandonar um dos mais abjectos e desolados locais que visitei em toda a minha vida de jornalista, quando vi um miúdo de vinte e poucos anos a sorrir. Tinha uma camisola colorida e uma bola de futebol e foi ele quem perguntou de onde era. Utilizei o desbloqueador clássico: “Portugal. Ronaldo.” E ele respondeu: “Vasco da Gama. D. Pedro.”
É esta capacidade absurda de espantar que torna a realidade imbatível perante a ficção. Que nos obriga a estar atentos e de espírito aberto para vos poder contar o que está para além do óbvio. E reparem que o “óbvio” aqui era a mais ignóbil das misérias e das desolações: seres humanos largados para viver numa encosta onde nem as pedras se seguram. O inesperado era este momento de discussão filosófica sobre a natureza das revoluções naquele penico do diabo.
Há que perceber onde estamos. É gigantesco o pedaço de montanha raspada e semidesértica a 45 minutos de Port-au-Prince que se chega pela estrada mais perigosa e violenta do país, a infame N9. Foi ali, na agora baptizada Canaan 1, que foram recolocados uns cinco mil dos desalojados do sismo de há cinco anos que devastou grande parte da capital do Haiti e fez mais de 200 mil mortos (no total das cinco zonas Cannan, serão 300 mil realojados). O terramoto de 2010 fez, nas contas de então, um milhão e meio de desalojados numa nação que tem a mesma população que Portugal. Estes são os que sobram, pelos vistos. Foram enxotados da cidade para este canto.
Quando se chega, tem-se alguma dificuldade em acordar o cérebro para o que ali se passa. O silêncio. A desolação. As barracas espalhadas pela calvície da montanha. O aspecto abandonado. O desprezo e descrença com que somos olhados. Só mais de uma hora depois, Pierre, um ex-motorista da capital, deixa cair a sua história. E sai em golfadas. Ex-emigrante nos EUA. Vida sofrida em Port-au-Prince até ao grande sismo. Exilado para ali. Deram-lhe 20 metros quadrados de terra seca numa encosta íngreme. Não há água. Electricidade. Nem escola para os miúdos. Muito menos emprego. Não perguntem como sobrevive. Ultrapassa sempre a nossa compreensão. “Só queria estar perto do centro da cidade, onde poderia roubar qualquer coisa para dar aos meus filhos. Aqui nem isso há.” Na cidade, a maioria sobrevive com menos de um euro por dia. Estes estão nas dobras esquecidas do inferno.
É aí, numa das saídas, que me cruzo com Leonel. Universitário de 23 anos ali desterrado agarrado ao sonho de fazer algo de bom pelo Haiti. E falamos de Voltaire. Nada bate o absurdo da realidade. Os demónios do inverosímil dançam naquelas encostas e rodopiam ao vento daquele dia que promete chuva.
O caos
Pierre queria estar perto da Baixa de Port-au-Prince para poder ter algo que roubar. O centro é um dos locais mais perigosos do planeta, garantem os alertas dos diplomatas. O centro da cidade é descrito como um daqueles locais dos filmes de ficção pós-apocalípticos onde ficam os não-eleitos da humanidade. E não está muito longe do real. Se bem que o caos pode ser apenas a nossa incapacidade de compreender uma ordem existente. Port-au-Prince tem essa potencialidade de explodir na nossa cara como intrinsecamente não detentora de uma lógica. Nada parece fazer sentido. Mas, uns dias depois, já sabemos que não é bem assim. O primeiro impacto remete-nos para uma África mais africana que certos países do grande continente. E ali enxertado no meio da Caraíbas a dividir uma ilha com uma República Dominicana hispânica e turística. Que doideira: a uma hora da sofisticada Miami, caímos num coração das trevas de um Conrad caribenho.
Rolamos pelo centro e as imagens que existiam da devastação do sismo — estas coisas agora medem-se em bombas atómicas — foram cauterizadas. Nada foi reconstruído. O Palácio, o Governo, tribunais. O Estado. O país ruiu. Mas a sua des-existência cicatrizou. Os desalojados já não estão por ali. O que dá a sensação de ter sido “resolvido”. Toda a zona baixa e onde o olhar alcança nas encostas das montanhas que rodeiam a cidade fazem de Port-au-Prince um extraordinário e abominável bairro de lata, um vomitado de pobreza naquele alguidar que podia ser uma baía idílica. É possível imaginar algo pior do que estar aqui onde as pessoas se atropelam sob o lixo, esgotos como larvas em carne podre? Bastou seguir na N9 até Cannan e falar com Pierre. E depois levar um estalo de Voltaire pelo cândido. Leonel: loucura, hein? O cheiro intenso a pneu queimado e a gasolina rasca que se sente sempre e me bloqueia as vias respiratórias deve estar a alucinar-me.
Fixemo-nos numa imagem de quotidiano na mais movimentada avenida de Port-au-Prince. É o típico cenário de boulevard africana muito movimentada, cheia de pessoas que vão à sua vida, outras que vendem, outras cheias de pressa, outras sem pressa nenhuma numa amálgama de gente viva, outras com ar perdido, destroços, lixo e poças de água podre. O trânsito é caótico no som e nas cores, mas parado por estar estrangulado algures. A avenida tem o nome do herói libertador do país que foi Jacques Dessalines, um negro que em 1802, e por inspiração da Revolução Francesa, derrotou os próprios franceses fazendo do Haiti a primeira nação escrava a libertar-se nas Américas. Autoproclamou-se imperador e foi assassinado em 1806.
Cá fora, as pessoas continuam normalmente em negócios típicos de rame-rame de pobreza e parecem ignorar-nos. Não na cabeça do nosso motorista, um latagão maduro da quase inexistente classe média de Port-au-Prince e que nunca pára por aquelas bandas. Não para o segurança armado que nos foi imposto para andar por ali e contrai os músculos do peito e respira fundo para libertar a adrenalina. Dentro do jipe, a ansiedade deles sente-se. Querem sair da zona rapidamente. O facto de o trânsito estar parado cria-lhes um stress que os faz discutir em crioulo. Não há pontos de fuga para o nosso carro caso seja atacado — tal como descrevem os relatos nos jornais sobre os raptos naquela área. A pistola sai da cintura e está debaixo da perna. Cada vez que se ouve o disparar da máquina fotográfica, o segurança a meu lado (um polícia civil) sente que é uma provocação para quem está lá fora. É isto o Haiti. Algo de trágico. Que vive uma situação mórbida e exaurida. Mas que se sabe que pode explodir para algo muito pior a qualquer momento.
E tinham razão para estar nervosos? Sim. Se lermos os relatos de aviso das embaixadas em Port-au-Prince. É uma cidade perigosa, uma das capitais mundiais do rapto. Aquela avenida costuma ser o local ideal para ataques. Aliás, não se vê nenhum carro “bom” ou qualquer branco por ali. Passam-se dias sem que se veja um caucasiano sem que seja num lobby de hotel. Desde o sismo que as prisões ruíram e os criminosos se juntaram numa comunidade, a Cité Soley. Não muito longe desta avenida. Lá passamos. Uns miúdos com aspecto de gangues de Nova Iorque metem-se connosco. Esta é a favela mais perigosa do mundo, segundo a ONU. Soldados brasileiros das Nações Unidas montaram quartel com caveirões (dos que sobem as favelas do Rio) apontadas para lá. As ruas estão desertas. O nosso motorista acelera. Pena o tempo ser pouco. Dias depois, temos uma “dica” para entrar e falar com os “bosses”, mas já não vamos a tempo. Continuemos a rodar. A Baixa de Port-au-Prince já não tem deslocados do sismo, apenas taipais vermelhos a cobrir o que não vai ser reconstruído do sismo de há cinco anos: o palácio presidencial, a catedral, a assembleia. É como se o Estado tivesse sido amputado e agora os cotos sarados. As marcas da sua existência apagadas. Sim, já não há deslocados. Sabemos onde os despejaram, não sabemos?
Voltemos ao tal caos que agora já faz algum sentido. Mulheres a cozinhar na rua para venda, homens a passar com um colchão que é um bem precioso, outros com madeira, uma mulher que grita que não quer ser fotografada, muitos “tac-tac” coloridos que agradecem a Jesus a protecção, gente de cara fechada, um homem que passa com uma shot-gun ao peito, pois deve ser segurança algures e todas as lojas têm um ou dois guardas fortemente armados. E o motorista que está cada vez mais nervoso. Temos de ir, temos de ir. Saco do bloco para anotar um apontamento e o segurança manda guardar à bruta. “Non, aqui não, aqui não. Pas photo! Pas photo!” Voltaremos mais vezes à Jean Jacques Dessalines Blv. Será quase sempre assim. Nós a querer sair para trabalhar. Segurança a não deixar. Só o presidente da AMI a manter a calma.
Não se estará a exagerar? “Se ficasses aí sozinho, estarias morto e nu aí para trás em menos de uma hora”, diz com ar tranquilo. Relaxem. A maior parte do tempo, o armário estará entretido a trocar mensagens no iPhone e a meter-se com as miúdas nas caixas abertas dos transportes e a fazer sorrisinhos malandros. Eu vi. É o Haiti.
A arte
Mais à frente, a galeria, nessa mesma avenida, uma galeria de arte a céu aberto de André Eugène, a Epluribus Unun, um escultor haitiano que reúne naquele espaço o seu próprio caos organizado enquanto arma de crítica político-social. Após o sismo, redireccionou a sua obra do uso da sucata automóvel para os detritos do sismo. Entre eles, muitas caveiras e muitos pedaços de casas, carros, pneus... Expõe nos EUA e na Europa. É o guru. A sua influência sente-se no grupo. Leva uma pequena fortuna por um pedacito de pneu e lá vai falando sobre a porca da política e do aproveitamento dos materiais existentes como caveiras: “Era o que mais havia por aí”, ri-se. O Haiti não é um país de artistas. É um país artista, gabam-se. Há um impulso obsessivo em produzir arte pela necessidade interior de produzir arte. Nas ruas, há pinturas e esculturas. A hora e meia, visitamos uma aldeia só de artesãos que fazem, fazem por fazer (para quem? Não há turismo). Há qualquer coisa de aterrador e belo naquele local cheio de anjos de morte, bonecos queimados, caveiras humanas, cruzes com falos. Os nossos seguranças haitianos — que não conheciam aquilo — estão deleitados. É genial, dizem. É um vislumbre sobre o que se passa na alma colectiva do povo haitiano. Tétrico. Belo. Trágico. Ama-se. Detesta-se. Não se é indiferente.
A violência
Ninguém quer ser fotografado. Sim, a nossa presença parece ser tida como provocação intuitiva. Até o universitário Leonel de Cannan quis saber se iríamos fazer uso comercial da sua imagem. Nas ruas, as mulheres atiram-nos chinelos. É de impulso. De chofre. As pessoas estão zangadas. Lá em cima, numa colina verdejante, vivem os ricos. Fugiram para lá. Cá em baixo, só promessas traídas. Um caldo de raiva que vegeta e borbulha. São 200 anos de punhaladas nas costas. Desde a independência do Haiti que este povo não teve hipótese. Os franceses castigaram a ousadia impondo um bloqueio. Uma nação de ex-escravos... Para mais, teve dificuldade em organizar-se sem ajuda externa. Os norte-americanos não quiseram que se soubesse que escravos podiam formar um país independente. No século XX, ocuparam mesmo o Haiti durante décadas. E depois entregaram-no ao cruel ditador Papa Doc e ao Baby Doc e aos seus tomtom macoute. Nos últimos anos, de ciclones a sismos à falta de solidariedade dos “povos irmãos” da América Latina, o Haiti tem estado entregue a um destino sem destino. As ondas piedosas dos povos. As fotos de tragédia. As ONG que chegam e prometem tudo. Dinheiro que é anunciado mas é desviado. Aquele olhar tresloucado não é do vudu. É de saber de tudo o que falhou. Dali só para Cannan. Na Bíblia, Canaã é o lugar onde Jesus fez o primeiro milagre. No Haiti não se espera tal.
Os haitianos são orgulhosos e violentos. Posso dizer isso? Sim, dizia-me Max Beauvoir, líder supremo do vudu do Haiti, religião que independentemente de se dizer católica ou não é adoptada interiormente pela maioria dos haitianos. “Um povo escravo que se liberta de uns colonos brutais como foram os franceses não pode reger-se pela moral cristã do mal e do bem. Matar, quando se tratou de matar o colono, não podia colocar-se em termos de ser errado.” O sismo de 2010 é apenas mais um episódio de uma história trágica. E que parece caminhar para uma nova tragédia.
Quando se fala dos problemas que atingem o Haiti, não se ouve falar do sismo ou da falta de emprego. Ouve-se, invariavelmente, “os políticos”. O Haiti tem 150 partidos políticos. Tentar perceber a política é, no mínimo, tão absurdo como tentar aventurar-se pela Blvd Jacques Dessalines. A popularidade do Presidente eleito, o cantor Michel Martelim, que tanto prometeu, está pelas horas da amargura. As manifestações violentas repetem-se. Mesmo com todos os recursos constitucionais para evitar um regresso às ditaduras, este é um país que tende para a autocracia, segundo as análises feitas pelas intelligence e que as Foreign Policy publicam.
Para mais, os financiadores e o mundo querem saber onde param os 10 mil milhões de ajuda que foram lançados para o Haiti após o sismo. Aparentemente, a taxa de desvio terá sido de 40%, o que nem é considerado muito para estes casos em que o caos é total e o nível de corrupção muito elevado. Falta é ter a noção do grau de devastação que o tal sismo de grau 7 provocou num país já destruído: em 35 segundos, quatro mil escolas ruíram. Mais de 25% dos funcionários públicos morreram.
Os ricos
Após o sismo, os ricos viram que a cidade não era segura, subiram a montanha e vivem agora em Pytonville. No alto. E vive-se bem lá em cima. Sem necessidade de descer. Há de tudo: hotéis, restaurantes, lojas. Mas é um martírio subir ou descer aquele trânsito nos jipes blindados para quem tem de vir trabalhar cá em baixo pela manhã. Para não apanhar a fila, é preciso sair antes das seis. Vêem-se muito poucos brancos no Haiti. Os brancos haitianos fazem parte de uma elite discreta e muito segura, dada a indústria de raptos. Há ricos muito ricos no Haiti. E também acreditam no vudu? E saem as histórias magníficas sobre vudu, rituais, superstições. “Eu só acredito na parte científica, diz uma senhora. Na questão dos zombies, por exemplo. Há uma planta que faz a pulsação cardíaca baixar até ao imperceptível, está provado. E depois, enquanto tomar essa bebida, fica escrava da pessoa. E garante que o wanga (mau-olhado) é a causa do atraso do país. Tudo é causa de alguém. A dor, o azar. Nada é de sua responsabilidade. O marido, um branco bon-vivant, conta histórias magníficas de baratas dentro de um carro, de incidentes em Nova Iorque.
O vudu
O vudu é cola que aguentou a união do Haiti desde a independência, superando todas as questões tribais de um país feito com gente vinda de locais distintos de África, explica-nos o director da escola nacional de artes, guru de ioga, um mulato esguio, que “entrou por essa energia neste campo religioso”. Não se pode falar do Haiti sem falar do vudu, garante. Claro que o problema são os filmes de Hollywood, e essas coisas já se sabe. (Mas ainda ontem ao jantar ouvi que não havia presidente ou político que não passasse 24h a 48 horas dentro de um caixão antes de tomar posse.) O vudu tem as costas largas. Há milhares de evangelistas norte-americanos no país que estão ali para combater o país do demo. Pat Robertson, o famoso pastor baptista do Sul dos EUA, elegeu o Haiti como o país dos possessos. Max, o líder supremo do vudu, um homenzarrão que vive numa mansão verdejante nos arredores de Port-au-Prince junto ao mar, mas que agora já foi engolida pelo trânsito, é uma daquelas figuras que valem a pena conhecer. Cego por glaucomas. Bioquímico por formação, recusa liminarmente a ideia de que o vudu possa ser a causa do atraso ou de convulsões no país. Vudu é uma energia. Um caminho para a perfeição.
O pré-Carnaval
Mas o que é que querem ir fazer aos ensaios do Carnaval? Ver. O Haiti leva o seu Carnaval muito a sério. Se bem que os houngan e as mambo do vudu não gostem de misturadas. Semanas antes da data, já o domingo à tarde é todo dedicado ao desfile de Carnaval em versão civil. Sete camiões de música ensurdecedora de kompa, Rap Kreyol, Racine e outros géneros que é preciso googlar vão fazer as principais avenidas até chegar ao ponto onde antes havia o Palácio. Uma viagem de poucos quilómetros que vai levar meia dúzia de horas. Antes de arrancar, chega a tropa especial com armas automáticas topo de gama. Fulanos de dois metros que vêm fazer um perímetro de segurança. Motards em acrobacias e patinadores alucinados dão um ar de doideira grupal. O nosso segurança só está preocupado em posicionar-nos de forma a que nos possa tirar dali antes da noite alta. Aí as coisas vão ficar descontroladas. Como? Álcool, muito álcool, droga, gente má. Mas o que se passa? Sorriso enigmático. As pessoas vão desfilando frente aos camiões a beber. Algumas já num estado letárgico. E dançam. A sua maioria são homens. Talvez deva ser aqui o momento de falar nas violações no Haiti. Outro grande problema. Quando ocorreu o sismo e se deu aquela ruptura no sistema prisional e na sanidade colectiva, houve uma vaga horrível de violações. Chamaram-lhe a “epidemia silenciosa”. E, meses depois, nasceram bebés que ninguém quis. Apenas outra tragédia. Seja como for, nestes ensaios de Carnaval não há turistas. Nem brancos. E há poucas mulheres. O segurança, que está só para fazer o Carnaval e é muito zeloso, embora às vezes se desmanche a dançar, diz nem pensar em ficar até tarde, pois será algo que ninguém poderá controlar.
À noite, há duas TV do Haiti que estão a transmitir em directo o Carnaval da praça principal, lá onde deveria existir o palácio e o poder executivo e o judicial. Não se percebe nada do que a multidão faz. Mostram gente em caos a movimentar-se de um lado para o outro. Como se se tratasse de uma saída de um jogo de futebol. Horas disto. Comentários em crioulo que não entendemos. Não se passa nada, a não ser gente a andar de um lado para o outro. O Carnaval verdadeiro tem turistas americanos que “adoram esta loucura”. Deduzo que tem verdadeiros batalhões a fazer segurança. E de certeza que dizem algo como o que li no meu Facebook: “As gentes do Caribe são muito alegres e felizes.” Garanto que não é verdade.
Esta reportagem insere-se no projecto “Três Décadas de Esperança”, que visa comemorar os 30 anos do serviço humanitário em Portugal e no mundo da AMI — Assistência Médica Internacional e pode ser seguido no Facebook