Tsipras diz que acordo com o Eurogrupo “deixa para trás a austeridade"
“Ganhámos uma batalha mas não a guerra. As dificuldades reais estão à nossa frente”, afirmou o primeiro-ministro grego numa declaração televisiva em que prometeu que os despedimentos e os cortes não vão voltar.
“Ganhámos uma batalha mas não a guerra […] as dificuldades reais estão à nossa frente”, disse, numa declaração televisiva, em Atenas, na sua primeira reacção pública ao entendimento alcançado na véspera com os parceiros da zona euro.
O acordo com o Eurogrupo “cancela os compromissos dos governos anteriores para cortes nos salários e nas pensões, para despedimentos no sector público, para subidas do IVA na alimentação, na saúde”, afirmou Tsipras. Para além disso, “dá tempo ao país”, que passa a ter outro “horizonte” de negociação, embora o caminho seja “longo e difícil”, declarou.
“Mostrámos determinação e flexibilidade e, no final, conseguimos o nosso principal objectivo”, disse o chefe do Governo, que apresentou o entendimento de sexta-feira como um “importante êxito” e “um passo decisivo”.
“Mantivemos a Grécia de pé e digna”, afirmou também, sublinhando que desaparece a exigência de um excedente orçamental primário que considerava irrealista – o Eurogrupo assumiu que o excedente de 3% em 2015 pode vir a não ser cumprido.
O entendimento alcançado foi uma extensão do acordo de financiamento entre a Grécia e os seus parceiros da zona euro por quatro meses, até ao final de Junho. O compromisso está condicionado à aceitação pelos parceiros e credores de uma lista de medidas e reformas estruturais que o Governo de Atenas terá que apresentar já na segunda-feira.
Sem usar a palavras “programa” nem troika – o Governo de Tsipras fez do fim do relacionamento com a missão de funcionários da Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional uma das suas bandeiras – o texto acordado prevê que permaneça em vigor o empréstimo e as condições que lhe estão associadas para além da data em que expirava, o próximo dia 28. Ainda que a Grécia continue sob vigilância dos credores, o diálogo será agora directamente com responsáveis das três instituições e não com funcionários.
"Queriam asfixiar-nos"
Sem os identificar concretamente, o chefe do Governo liderado pelo partido de esquerda Syriza criticou os que disse terem querido “asfixiar” a Grécia. “Herdámos um país à beira do abismo, com os cofres vazios e frustrámos o plano de forças conservadoras cegas, tanto no interior como no exterior do país, que queriam asfixiar-nos.”
“Com o decisivo apoio do povo grego, conservámos a dignidade da Grécia, no dia que foi talvez o mais importante desde que está na União Europeia”, afirmou, noutra passagem da declaração.
Bem diferente é a posição da oposição. O ex-primeiro-ministro, Antonis Samaras, do partido conservador Nova Democracia, afirmou que o actual Governo está a tentar mostrar que o programa que assinou com o Eurogrupo é um “êxito”, mas em seu entender não é assim. “No fundo, é voltar ao mesmo lugar, mas em condições muito piores, disse, em comunicado, citado pela Lusa.
Os socialistas, que integraram os dois últimos executivos, e nas eleições de Janeiro passado quase foram varridos do mapa eleitoral, obtendo apenas 4,68%, consideram que a Grécia andou “quilómetros para trás” e acusaram o Governo de fazer um interpretação “teatral” do acordo “para consumo doméstico”.
Na imprensa, a leitura também não é consensual. O jornal liberal Kathimerini falou em condições “sufocantes”. O de centro-esquerda Ta Nea considera que “ambas as partes fizeram concessões”.
Só a lista de medidas e reformas em que o Governo está a trabalhar neste fim-de-semana – o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, disse que a Grécia recuperou a “liberdade de fazer as suas próprias escolhas” – permitirá ter uma ideia mais clara da margem de manobra que Atenas terá, ou não, para alterar o quadro de austeridade em que o país tem vivido nos últimos anos.
As medidas a apresentar pela Grécia deverão ser a base de um acordo duradouro a negociar nos próximos meses. Se as propostas gregas não forem aceites, o entendimento de sexta-feira fica “morto”, disse desde logo Yanis Varoufakis.