Presidente argentina investigada por obstrução à Justiça
Cristina Kirchner é suspeita de ter feito um acordo secreto com o Irão que impediu o julgamento dos autores de um atentado anti-semita em Buenos Aires.
Segundo o jornal Clarín, que avançou com a notícia, Pollicita não pediu, para já, que Kirchner seja ouvida – como previa Nisman, cuja morte, suspeita, está a ser investigada. As acções da Presidente vão ser investigadas, devendo o procurador pedir provas sobre as acções de Kirchner. Ainda assim, esta pode ser intimada a prestar declarações, por escrito ou ao vivo, se o juiz que conduz o caso, Daniel Rafecas, assim o decidir.
Além da Presidente, vão ser investigados o ministro dos Negócios Estrangeiros, Héctor Timerman, o deputado Andrés Larroque e o dirigente político Luis d'Elía. São todos considerados suspeitos de obstrução à Justiça e encobrimento dos autores do atentado contra uma associação judaica em 1994, em Buenos Aires, no qual morreram 85 pessoas.
Foi o mais grave atentado terrorista em solo argentino e as investigações apontaram para o envolvimento do grupo terrorista Hezbollah, com o apoio do Governo de Teerão, mas ninguém foi responsabilizado. Em 2004, Nisman foi nomeado pelo então Presidente, Néstor Kirchner, para liderar as investigações ao caso. As relações entre o Irão e a Argentina degradaram-se, sobretudo pela recusa contínua de Teerão em extraditar os acusados pelo atentado. Porém, as relações voltaram a normalizar-se, com a Argentina em graves dificuldades financeiras a procurar no Irão, um país alvo de sanções económicas, um aliado económico e comercial.
Foi neste contexto, concluiu o procurador morto, que o Governo de Cristina Kirchner (viúva de Néstor) concluiu um acordo com o Irão, sem o conhecimento de Nisman, ainda à frente do processo. Entre o material que Nisman recolheu e que implica a Presidente, estão registos de escutas telefónicas em que são definidos os pormenores de um acordo secreto que previa que as acusações contra os iranianos fossem gradualmente abandonadas.
Segundo o El País, a opção de Gerardo Pollicita em seguir o caminho de Nisman (este pretendia ir mais longe e ouvir imediatamente a Presidente) está a ser classificada de "golpe suave" – um plano de um sector da Justiça aliado à oposição e a alguns media para desestabilizar o Governo, que termina o seu mandato dentro de dez meses. Diz o jornal espanhol que no Palácio Rosado (a sede da presidência) se usa o termo "golpistas" para designar os seis juízes que marcaram para quarta-feira, dia em que passa um mês sobre a sua morte, uma marcha de homenagem a Nisman.