Exposição de Amadeo no Grand Palais marca 50 anos da Gulbenkian em Paris

Centro Cultural Gulbenkian na capital francesa apresenta programa de ano e meio de actividades.

Foto
Avant la Corrida (1912), quadro de Amadeo de Souza-Cardoso da Colecção Gulbenkian Daniel Rocha

“Há muitos anos que havia a intenção de fazer uma grande exposição de Amadeo de Souza-Cardoso em Paris. Tendo ele vivido em Paris, tendo Paris dado um contributo inestimável para a sua obra, naturalmente uma grande exposição aqui, num sítio emblemático, seria realmente necessária”, disse à Lusa João Caraça, o director da delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian.

Comissariada por Helena de Freitas, a maior exposição em França de Amadeo de Souza-Cardoso – que viveu em Paris de 1906 a 1914 – pretende dar “a descobrir” aos franceses o artista que já tinha sido considerado “o segredo mais bem escondido da cultura portuguesa”, acrescentou João Caraça.

“É um grande momento da cultura portuguesa e um grande momento da aproximação entre Portugal e França e as suas comunidades, tomando como pretexto um grande artista – talvez o maior pintor português do século XX”, acrescentou João Caraça.

Num programa que se vai estender por ano e meio de actividades, o cinquentenário da Fundação Gulbenkian de Paris vai contar também com uma mostra sobre o último meio século da arquitectura portuguesa, a apresentar entre Abril e Julho de 2016, na Cité de l’Architecture et du Patrimoine, no edifício junto à Torre Eiffel que durante décadas acolheu a Cinemateca Francesa.

Os dois prémios Pritzker portugueses, Álvaro Siza e Eduardo Souto de Moura, mas também Pancho Guedes, os irmãos Aires Mateus, Gonçalo Byrne, Ruy Athouguia, Nuno Portas e Nuno Teotónio Pereira, entre outros, vão estar representados nesta exposição, que será comissariada pelo arquitecto e professor Nuno Grande. “A Gulbenkian pediu-me um retrato dos últimos 50 anos da arquitectura portuguesa, a partir de 1965, ano da inauguração do Centro em Paris. Como foi também o ano da morte de Le Corbusier, achei que era importante mostrar como a arquitectura portuguesa já estava, nessa altura, a reequacionar o modernismo”, diz ao PÚBLICO Nuno Grande, citando o trabalho então desenvolvido por Fernando Távora, logo seguido por Álvaro Siza.

A exposição terá como título Os Universalistas, ideia que o comissário tomou de empréstimo a uma frase de Miguel Torga – “O universal é o local sem paredes” – para expressar que o universalismo português, na arquitectura como noutras artes, é uma forma de diálogo e de atenção ao que acontece noutros lugares do mundo.

O programa do cinquentenário teve início já a 30 de Janeiro, com a exposição Pliure. Prologue (La part du feu)Dobra. Prólogo (A parte do fogo) –, na Gulbenkian de Paris, que reúne cerca de 40 obras de sete séculos em torno da relação entre o livro e a arte.

O programa vai continuar, de 5 de Maio a 25 de Julho deste ano, com a exposição Modernités: Photographies brésiliennes 1940-1964, um panorama de quatro nomes representativos do nascimento da fotografia moderna no Brasil – Marcel Gautherot, José Medeiros, Thomaz Farkas e Hans Günter Flieg –, numa mostra que, antes, vai passar pela Gulbenkian em Lisboa, entre Fevereiro a Abril.

A Sul de Hoje. La Création Contemporaine au Portugal é a mostra que se segue em Paris, entre 16 de Setembro e 13 de Dezembro, “um momento para chamar a atenção para aquilo que se faz de mais recente em Portugal”, disse ainda à Lusa o director da delegação francesa da Gulbenkian.

Comissariada por Miguel von Hafe Perez, esta exposição vai mostrar como a arte portuguesa do último meio século conseguiu “articular a sua circulação internacional de uma forma mais positiva e estruturada que as gerações anteriores e fazendo prova de um sentido crítico perante a modernidade”, lê-se no programa do cinquentenário.

Em 2016, além da retrospectiva de Amadeo de Souza-Cardoso e da mostra sobre a arquitectura portuguesa, a Gulbenkian vai expor também em Paris Julião Sarmento (27 de Janeiro a 17 de Abril), “um dos grandes artistas portugueses contemporâneos”, e cuja obra está já representada em grandes museus mundiais, como o Centro Pompidou (Paris), a Tate (Londres), ou o MoMA (Nova Iorque).

Além das exposições, a fundação vai acolher diversos debates e encontros, com destaque para a reunião de vencedores do Prémio Camões (18 e 19 de Junho deste ano) e uma conferência sobre as artes da língua portuguesa (21 e 22 de Outubro).

No capítulo das edições, assinalem-se a publicação de um volume com ensaios de Eduardo Lourenço e de um estudo do historiador Rui Ramos sobre o Centro Gulbenkian de Paris.

Em parceria com a revista literária francesa Books, a Gulbenkian vai passar a atribuir um prémio bienal para a melhor tradução em francês de uma obra escrita em língua portuguesa e uma bolsa a um curador para desenvolver projectos expositivos.

A delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian foi inaugurada a 3 de Maio de 1965, na presença do escritor e ministro André Malraux, no palacete que fora residência do empresário e coleccionador de arte Calouste Sarkis Gulbenkian, perto do Arco do Triunfo. No final de 2011, o centro mudou-se para o n.º 39 do Boulevard de la Tour Maubourg, na margem sul do Sena, junto ao palácio Invalides. com Lusa

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