Os números do INE e as propostas do FMI
Entre a realidade e a intrusão política até se percebe a ministra das Finanças.
É neste quadro que surge nesta sexta-feira o relatório divulgado pelo FMI para avaliar o desempenho do país após a saída da troika. Não é um texto tecnocrata, como seria próprio de funcionários de uma instituição deste tipo, é antes e sobretudo um documento político dirigido não só ao Governo, mas também ao principal partido da oposição. O que diz então o FMI? Que a economia vai crescer pouco nos próximos anos, o que não dará para travar a estagnação do mercado de trabalho. Assim sendo, Portugal corre o risco de ver partir os quadros mais bem preparados para a emigração, perdendo com isso qualificações que seriam cruciais para o crescimento. E o que propõe então o FMI para contrariar isto? Manter o factor trabalho sob pressão, revertendo os cortes salariais e o fim da contribuição extraordinária de solidariedade. Apressar os despedimentos na função pública e cortar mais nas despesas sociais. Enfim, o Fundo propõe tudo o que faz fugir a mão-de-obra qualificada para o estrangeiro: baixos salários e fraca protecção social.
Depois de há dois dias o governador do Banco de Inglaterra ter arrasado a política de austeridade da zona euro e de ainda hoje se ter sabido que foi o consumo a grande alavanca de crescimento do PIB dos EUA, o FMI não hesita em criticar o Governo pelo aumento do nosso salário mínimo. E, de caminho, avisar o PS que “o processo de reformas em Portugal tem de ser feito durante muitos anos, independentemente de quem estiver no governo”. Percebe-se que a ministra das Finanças os queira ver pelas costas.