Administração diz que chefes da urgência do hospital de Almada recuaram na demissão

A equipa de médicos tinha justificado o pedido de demissão com a degradação das condições de trabalho. Administração Regional de Saúde confirma aumento de 30% nos internamentos vindos da urgência.

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Hospital Garcia de Orta, em Almada Fábio Teixeira

Daniel Ferro disse que estão a tomar várias medidas para aumentar a capacidade de internamento do hospital, nomeadamente escoando os casos sociais, mas frisou que o que fez a diferença foi a abertura de mais 16 camas no internamento, que estarão prontas dentro de uma a duas semanas.

A notícia do pedido de demissão tinha sido avançada pela edição online do semanário Sol e confirmada à Lusa pela administração do hospital. A equipa de médicos justificou a demissão com a degradação das condições de trabalho e também a excessiva lotação de doentes internados.

Segundo a administração do hospital, já estavam a ser pensadas medidas para “fazer face ao aumento nos internamentos” e “outras medidas concretas, e era de prever a possibilidade de os médicos recuarem pedido de demissão, tendo em conta as medidas que vão ser tomadas. “Não haveria (recuo no pedido de demissão) se as condições difíceis não fossem reversíveis, mas as condições são reversíveis”, salientou uma fonte da admnistração do hospital, lembrando que a situação do aumento do número dos doentes é generalizada em todos os hospitais. “Estas dificuldades neste hospital não são excepção. Há medidas que vão ser tomadas para resolver a situação”, concluiu a fonte contactada pela Lusa.

A Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo, através de um comunicado, informou também que se reuniu ainda durante o dia de segunda-feira com o presidente do conselho de administração do Hospital Garcia de Orta “para analisar a situação decorrente da demissão dos Chefes de Equipa da Urgência” e “procurar, no respeito pelas competências próprias do referido Conselho de Administração, um conjunto de medidas para melhorar a capacidade de resposta do serviço de urgência da unidade de saúde”.

De acordo com os dados desta ARS, o hospital teve um aumento de afluência de 5%. “A par deste aumento, verificou-se igualmente um acréscimo muito significativo, de cerca de 30%, do número de doentes internados a partir do Serviço de Urgência, sobretudo doentes maioritariamente idosos e com múltiplas patologias e que necessitam, por isso, de cuidados médicos diferenciados, aos quais o Hospital tem conseguido dar resposta atempada e eficaz”, salienta a nota.

A ARS garante que a unidade já está a delinear medidas para conseguir aumentar a capacidade de internamento, ao mesmo tempo que trabalha com os centros de saúde daquela xona para reforçar o apoio no domicílio e a resposta a casos de doença aguda.

Em Julho do ano passado, mais de 40 directores de serviço do Hospital Garcia de Orta tinham apresentado um documento em que alertavam para situações graves na instituição, como o adiamento de cirurgias, consultas e exames por falta de profissionais e equipamentos ultrapassados.

O documento foi enviado para o Ministério da Saúde, a Ordem dos Médicos, grupos parlamentares da Assembleia da República, entre outras entidades. Entre os 42 directores signatários, que representavam a Comissão Médica do Hospital Garcia de Orta, estava a ex-ministra Ana Jorge.

À Lusa, um dos subscritores do documento revelou as suas apreensões, considerando que a qualidade do serviço estava ameaçada. Este médico, e director de serviço, adiantou que a falta de pessoal já tinha levado à paralisação de blocos operatórios, nomeadamente por carência de especialistas. No entanto, o conselho de administração do Hospital Garcia de Orta, em comunicado, garantia: "os problemas referidos não correspondem à realidade” da unidade. E apontava o documento como causador de um “alarmismo desnecessário”.

Desde o Natal, e até ao fim da semana passada, sete pessoas morreram em hospitais do Serviço Nacional de Saúde, após longas horas de espera – duas das quais no Garcia de Orta (um homem de 60 anos e uma mulher de 89). Tal só acontece “pela falta de profissionais nas urgências”, disse na altura ao Correio da Manhã o bastonário da Ordem dos Médicos José Manuel Silva.