“Efeito Draghi” ajudou os mercados a digerirem a viragem política na Grécia

Bolsas na Europa fecharam em alta, mas Atenas destoou, ao cair mais de 3%. Plano do BCE conteve reacção negativa.

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Depois da vitória, Tsipras fechou acordo de coligação nesta segunda-feira e tomou posse como primeiro-ministro Miguel Manso
Depois de um arranque tremido, em que as praças europeias abriram em baixa e o euro chegou a cair para o valor mais baixo desde Setembro de 2003, seguiu-se um movimento de recuperação, com os índices de referência na Europa a inverterem para terreno positivo e o euro a valorizar em relação ao dólar. Nos mercados bolsistas, a excepção foi a própria Bolsa de Atenas, que terminou a sessão a cair mais de 3%.

Em Frankfurt, o índice alemão Dax subiu 1,4%, registando a maior valorização no Velho Continente depois da Bolsa de Zurique. O Bel-20, de Bruxelas, seguiu a tendência positiva e fechou com um ganho de 1,29%, o mesmo acontecendo com o FTSE MIB de Milão (1,15%), com o principal índice de Paris, o CAC 40 (0,74%), o índice de Amesterdão Aex (1,01%), o madrileno IBEX 35 (1,08%) e o londrino FTSE 100 (0,29%). Em Lisboa, o PSI-20 também terminou a valorizar (1,12%), com 15 das actuais 18 empresas cotadas a subirem em relação a sexta-feira.

Destoando das congéneres europeias, a praça helénica, onde está cotado o índice ASE, terminou o dia com uma desvalorização expressiva, a cair 3,2%, reflectindo os receios dos investidores em relação ao braço-de-ferro que se avizinha entre as instituições europeias e o novo Governo grego anti-austeridade liderado por Alexis Tsipras, que promete renegociar a dívida pública grega.

O primeiro sinal de nervosismo surgiu da parte da manhã, altura em que chegou a cair mais de 5% – queda que seria atenuada ao longo da sessão.

Se no caso da Grécia o dia seguinte às eleições legislativas foi negativo nos mercados, a tendência nas restantes praças europeias esteve longe dos cenários mais temerosos que alguns antecipavam. Uma evolução positiva que tem subjacente outros factores conjunturais. O lançamento do novo programa de compra de dívida pública na zona euro por parte do Banco Central Europeu (BCE) ajudou as bolsas a reforçarem os ganhos da semana passada.

Outro dado a que os investidores estiveram atentos foi o resultado do índice de sentimento económico dos empresários alemães, calculado pelo instituto Ifo com base num inquérito a cerca de 7000 empresários. O índice, divulgado nesta segunda-feira, mostra que em Janeiro houve um aumento da confiança empresarial pelo terceiro mês consecutivo.

No mercado secundário de dívida pública – onde os investidores trocam títulos de dívida dos Estados ou demonstram intenções de revenda de dívida, que podem ou não chegar a concretizar-se – os juros associados às obrigações gregas subiram em todas as maturidades. Nos títulos a dez anos, passaram para os 8,975%.

Na dívida italiana e espanhola, os juros a dez anos também subiram de forma ligeira, ao contrário da tendência das obrigações portuguesas com a mesma maturidade, que voltaram a cair (para 2,113%).

À Reuters, Maria Paola Toschi, analista na JP Morgan Asset Management, notou como a expectativa criada em torno do programa de compra de dívida do BCE, anunciado por Mario Draghi na quinta-feira passada, ainda se fez sentir nos mercados, amortecendo o efeito Grécia. E nos próximos dias, acredita, “é provável que se mantenha como força dominante no mercado”.

Também a moeda única negociou em dois sentidos. De manhã, chegou a deslizar 0,95%, caindo para 1,1098 dólares, o valor mais baixo em mais de 11 anos, mas acabaria por recuperar progressivamente. Ao final da tarde, apresentava uma valorização de 0,69%, passando a valer 1,1281 dólares.

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