Programa de certificação poderá ser aberto à concorrência

Ana Cláudia Sá, 45 anos, directora-geral da Bel, admite que convencer a empresa francesa a investir “não foi fácil”: os Açores “não dão a rentabilidade mínima a uma multinacional”.

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Directora-geral acredita que, com o programa, o leite vai ter "uma enorme valorização" Sara Matos

Mas foi feito algum convite à concorrência?
Não. Mas o Governo regional perguntou-nos se fazia sentido que este programa fosse partilhado e aberto. E respondemos que sim. Estamos disponíveis e até interessados em fazê-lo crescer. Podemos estar sozinhos, vendê-lo, investir em publicidade e mostrar ao consumidor português que este é um leite diferente, que dá origem a produtos lácteos diferentes, mais saudáveis e saborosos. Mas se todos os outros o fizerem vai valorizar ainda mais. O investimento de um beneficiará o outro e vice-versa. Não queremos que seja exclusivo, gostaríamos muito que todos abarcassem esta ideia e estamos disponíveis para, em conjunto, ir tomando decisões.

Conseguiriam resultados mais rápidos?
Sim. Não precisamos dos outros, mas acelera. E era bom que daqui a cinco ou dez anos todos nós pudéssemos olhar para um pacote de leite e dizer: espera, este leite é açoriano. É diferente.

Querem ter 20% dos vossos produtores certificados em três anos. Quando é que o selo será visível para os consumidores?
Todos os nossos produtores estarão neste programa, que é de melhoria contínua. Se não tiverem os requisitos mínimos não poderão ser nossos fornecedores, mas acreditamos que todos vão conseguir. O nosso leite, mesmo o que não é certificado, fará parte deste programa. A certificação serve para dizer que tem requisitos mais elevados do que os da Europa, que dá garantias mais elevadas, é o melhor do mundo. Ele é todo feliz, e há um (com o selo) que é mesmo o melhor. Isso tem muito valor e tem de ser publicitado. Mas não decidimos ainda quando e como o vamos fazer

Que resultados financeiros esperam obter?
Estes investimentos de sete milhões de euros não têm retorno imediato. E foram difíceis de vender ao grupo Bel. Estamos a contar com a comparticipação de verbas comunitárias previstas para as regiões ultraperiféricas.

Como é que vendeu o projecto à Bel?
Essa parte não foi fácil. Os Açores não dão a rentabilidade mínima para qualquer multinacional. Os preços dos produtos são mais baixos do que deveriam para os custos que temos aqui, são custos da insularidade, de logística e de sazonalidade. Durante a Primavera e Verão chegamos a ter mais 50% de produção de leite, o que é excessivo. Terra Nostra tem metade da rentabilidade do Limiano. Mas o que dissemos foi que queríamos investir para melhorar. E o grupo acreditou na nossa estratégia: primeiro investimos, depois valorizamos o leite e só então temos retorno.

Têm um prazo concreto para mostrar resultados?
Não, mas a minha percepção pessoal é que temos cerca de três anos para mostrar resultados. Ninguém me colocou um prazo. O projecto fez-lhes sentido.

Quantas vezes reuniu com a casa-mãe até ter luz verde?
No mínimo, umas dez vezes. Mais talvez. Foram acreditando, perguntando, fomos analisando várias alternativas e também colaboraram.

Há outros programas semelhantes noutros países?
Sim, em França e Holanda, mas muito menos ambiciosos. Dou o exemplo da Holanda. Tem uma marca fortíssima na Europa que é a Leerdammer e o seu programa tem como meta que os seus produtores, durante 120 dias por ano, tenham as vacas ao ar livre durante seis horas. Neste momento conseguiram atingir 30% dos produtores e estão felizes. Veja-se a diferença.

Em quanto é que o leite vai valorizar quando conseguirem a certificação?
Não queremos desvendar esse número mas é uma enorme valorização.

O PÚBLICO viajou a convite da Bel Portugal

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