Dívidas da TAP a fornecedores disparam 135% no espaço de um ano

Companhia ainda está a negociar empréstimo de 250 milhões de euros.

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Fernando Pinto, presidente da TAP Miguel Manso

De acordo com dados a que o PÚBLICO teve acesso, a TAP chegou ao final do terceiro trimestre com 877,7 mil euros por pagar fora do período normal de acerto de contas com os fornecedores. Destes, 307,6 mil euros estavam por saldar há mais de um ano. A categoria que se destaca é a de outros bens e serviços (769,2 mil euros), sem que seja explicitado a que fornecimentos dizem respeito. A segunda área com mais peso é a veículos automóveis e motociclos (43,3 mil euros), seguindo-se os serviços de informática (41,8 mil euros).

Mais do que os valores, o que sobressai é a subida exponencial das dívidas face a Setembro de 2013. Altura em que a companhia de aviação acumulava apenas 373 mil euros por pagar a fornecedores há mais de 90 dias. E, nessa altura, os atrasos superiores a 300 dias ficavam-se por 190,2 mil euros. O PÚBLICO questionou a empresa sobre os motivos destes atrasos, mas não obteve resposta até ao fecho desta edição.

Desde o Verão que a transportadora aérea se encontra numa situação financeira mais débil, fruto de diferentes factores: a queda da procura no Brasil, os sucessivos cancelamentos e problemas técnicos, a vaga de greves e ainda a dificuldade em recuperar receitas em mercados externos, como a Venezuela e Angola. A tesouraria da TAP saiu fragilizada, tendo havido necessidade de fazer uma gestão dos pagamentos a fornecedores, adiando prazos para acertos de contas.

O relançamento do processo de privatização também trouxe impactos negativos ao nível do financiamento, visto que, regra geral, estas operações dificultam o acesso ao crédito ou obrigam à antecipação de reembolsos.

A TAP já não pode recorrer à Parpública, a holding do Estado que em 2012, na primeira tentativa de venda, lhe emprestou 100 milhões, porque esta entidade foi integrada no perímetro do Estado e qualquer financiamento terá sempre impacto nas contas públicas. E, por isso, tem estado a negociar um empréstimo com um sindicato bancário, como o PÚBLICO noticiou em Dezembro. O objectivo é conseguir, no mínimo, 200 milhões de euros e, no máximo, 250 milhões para pagar algumas contas e aliviar a tesouraria até que a privatização se concretize.

As negociações, que envolveram o banco público CGD e que o Expresso adiantava também terem contado com o BCP, o Novo Banco e o BPI, ainda não chegaram a bom porto. No entanto, esta demora não estará a preocupar a administração, liderada por Fernando Pinto, e o Governo, visto que os resultados do final do ano foram melhores do que era esperado.

Questionada nesta quinta-feira, na conferência de imprensa que se seguiu ao Conselho de Ministros, a secretária de Estado do Tesouro, Isabel Castelo Branco, disse não conhecer o financiamento que está a ser negociado. "A TAP está à procura de financiar-se recorrentemente no mercado. Estará a fazê-lo como uma empresa que gere os seus passivos com responsabilidade", respondeu.

Quanto à operação de sale and leaseback (venda e aluguer) dos quatro aviões A340, que permitiria à companhia encaixar cerca de 40 milhões de euros sem retirar os equipamentos da rede, as últimas informações davam conta de ter sido suspensa. Uma decisão tomada depois de o potencial comprador ter apresentado condições que a TAP não considerou satisfatórias por implicarem custos demasiado elevados.

Os resultados que o grupo registou em 2014 ainda não são conhecidos. Os últimos dados referem-se ao primeiro semestre do ano, mostrando que os prejuízos atingiram 84,3 milhões de euros – ainda assim, abaixo dos 136,6 milhões de igual período de 2013. A TAP tem vindo a apresentar lucros no segmento da aviação, mas continua a ser penalizada pelo investimento feito pela administração em 2005, com a compra de uma empresa de manutenção no Brasil. A M&E tem vindo a melhorar os resultados, mas ainda registou prejuízos em 2014.

No relatório semestral, que foi divulgado pela Parpública, referia-se ainda que a dívida do grupo TAP se situava abaixo dos mil milhões de euros pela primeira vez desde 2006. Face a 2013, a redução foi de aproximadamente 80 milhões de euros para um total de 972 milhões.

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