Hayat Boumeddiene, a mulher mais procurada em França, pode estar na Síria
Certezas há poucas: a namorada do homem que matou quatro reféns numa mercearia em Paris pode estar em França, mas também pode ter fugido para a Síria antes dos ataques.
Boumeddiene é namorada de Amedy Coulibaly, o homem suspeito de ter sequestrado 19 pessoas numa mercearia kosher em Paris, na sexta-feira, e de ter matado quatro dos reféns, antes de ter sido ele próprio morto numa ofensiva da polícia antiterrorista.
Coulibaly é também o principal suspeito de ter matado uma agente da polícia na manhã de quinta-feira em Montrouge, um subúrbio no Sul de Paris, num ataque que as autoridades acreditam ter sido coordenado com os irmãos Chérif e Said Kouachi – os dois homens dados como responsáveis pelo massacre de 12 pessoas no atentado contra a redacção do Charlie Hebdo, na quarta-feira.
Pelo meio está Hayat Boumeddiene, namorada de Coulibaly e suspeita de envolvimento na morte da agente da polícia na quinta-feira. As autoridades francesas acreditam que a sua detenção pode ser determinante para avaliar a dimensão dos planos terroristas, principalmente quem os financiou e se foram concretizados por iniciativa dos suspeitos ou coordenados por uma organização externa, como o braço da Al-Qaeda no Iémen.
Até sexta-feira, era tido como provável que Hayat Boumeddiene fosse co-responsável pela morte da agente, juntamente com o seu namorado, mas na noite de sexta-feira começaram a surgir informações em sentido contrário. De acordo com o Le Monde, Boumeddiene terá fugido de França antes do ataque contra o jornal Charlie Hebdo, provavelmente num voo para a Turquia, de onde terá seguido para a Síria.
A mulher mais procurada em França por estes dias casou-se com Amedy Coulibaly em Julho 2009, numa cerimónia islâmica não reconhecida pela lei francesa. Apesar de não ter antecedentes criminais, a agência Associated Press (AP) noticiou que Hayat Boumeddiene tem ligações a islamistas radicais que estavam a ser vigiados pelas autoridades francesas.
O procurador de Paris, François Molins, disse que Boumeddiene manteve um contacto telefónico "constante" com a mulher de Chérif Kouachi, Izzana Hamyd – só no ano passado, segundo o responsável, as duas mulheres falaram mais de 500 vezes ao telefone.
Há também informações sobre visitas de Hayat Boumeddiene, de Amedy Coulibaly e de Chérif Kouachi a Djamel Beghal, um franco-argelino condenado a dez anos de prisão por planear atentados terroristas.
"Temos de interrogá-la, para que ela possa explicar exactamente se foi influenciada a cometer estes actos, se os cometeu por razões ideológicas, ou se os incitou e prestou auxílio", disse à AP Christophe Crepin, porta-voz do sindicato da polícia UNSA.
Apesar das informações de que a mulher saiu de França antes dos ataques, o chefe da polícia francesa, Jean-Marc Falcone, disse que a operação para a encontrar vai continuar: "Todos os nossos serviços estão focados na busca por esta pessoa. Apelamos a que ela se entregue", disse Falcone à estação BFM-TV.
De acordo com relatórios obtidos pela AP, Hayat Boumeddiene foi interrogada pela polícia em 2010, juntamente com o seu namorado, sobre os atentados cometidos pela Al-Qaeda. Segundo a agência, os documentos revelam que a mulher agora procurada pela polícia disse que não tinha nenhuma opinião sobre o assunto, mas acrescentou que as forças norte-americanas estavam a matar inocentes, que precisavam de ser defendidos.
No mesmo interrogatório, segundo o Le Monde, Boumeddiene descreveu o seu namorado, Amedy Coulibaly, como um homem "não muito religioso", que "gosta de se divertir", e disse que tinha sido despedida de um supermercado por insistir em tapar todo o corpo com o niqab - o véu islâmico.
O facto de as ligações entre os suspeitos dos ataques serem conhecidas das autoridades há anos levou o primeiro-ministro, Manuel Valls, a falar em "falhas claras" no trabalho dos serviços de informação franceses.
Ainda não há certezas sobre a forma como os ataques dos últimos dias em Paris foram planeados, mas o braço da Al-Qaeda no Iémen fez uma declaração que pode ser interpretada como uma reivindicação da autoria. Apesar de não o assumir directamente, um dos líderes do grupo, Abu Hareth al-Nezari, disse que "alguns crentes, que amam Alá e o seu profeta, foram ensiná-los a comportarem-se e a serem educados com os profetas". Numa gravação em áudio, Abu Hareth al-Nezari disse também que "a liberdade de expressão tem limites" e que os franceses não viverão em paz se não pararem "a guerra" contra o islão.
Durante os cercos de sexta-feira, a estação de televisão francesa BFM-TV falou com Chérif Kouachi e Amedy Coulibaly. O primeiro suspeito, que estava barricado nas instalações de uma gráfica poucas dezenas de quilómetros a Norte de Paris, respondeu com calma às perguntas do jornalista Igor Shairi, e disse que tinha sido "enviado pela Al-Qaeda no Iémen". Já Coulibaly disse que o sequestro na mercearia de Paris tinha sido coordenado com os homens que atacaram o jornal Charlie Hebdo.