Sócrates compara investigação de que é alvo ao “mundo fantástico da ficção científica”

Motorista nunca foi a Paris e venda do apartamento da mãe na Rua Braancamp foi real, diz ex-primeiro-ministro em resposta a perguntas da TVI.

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Enric Vives-Rubio

Detido preventivamente na cadeia de Évora, o antigo governante socialista fez chegar à TVI, através dos seu advogados, a resposta a várias questões que lhe foram postas pela estação televisiva. “Dou esta entrevista em legítima defesa, contra a sistemática e criminosa violação do segredo de justiça, e contra a divulgação de informações manipuladas, falsas e difamatórias”, começa por justificar José Sócrates, que se diz vítima de “uma agressão feita cobardemente a coberto do anonimato, como é típico dos aparelhos burocráticos onde reina o Governo de ninguém”, e também de “um poder obscuro que é puro arbítrio, despotismo e impunidade absoluta”.

O ex-primeiro-ministro assegura nunca ter sido confrontado, pelo juiz de instrução criminal Carlos Alexandre, nem com factos nem com provas de actividade criminosa da sua parte: “Apesar da minha insistência, nem a acusação nem o juiz foram capazes de me dizer quando e como é que fui corrompido, ou sequer em que país do mundo. Nem por quem, a troco de quê. Nada, rigorosamente nada. A corrupção em nome da qual me sujeitaram à infâmia desta prisão preventiva é pura invenção”. Segundo José Sócrates, este processo “é todo ele uma caixinha de presunções, em que as presunções assentam umas nas outras, numa construção elaborada mas absolutamente delirante”, que chega a comparar ao “mundo fantástico da ficção científica” no que respeita ao alegado transporte, por parte do seu motorista, João Perna, de malas de dinheiro para Paris.

“O facto de a acusação ter posto a correr nos jornais esta pura invenção diz muito sobre os métodos de uns e de outros e mostra bem até onde estão dispostos a ir para me atingir. Para alguns vale tudo”, comenta o antigo governante, para quem a prisão do seu ex-motorista foi usada “para aterrorizar uma pessoa que julgavam vulnerável, de modo a tentar obter sabe-se lá que informação”. Sócrates nega que o seu ex-motorista alguma vez tenha ido à capital francesa. “Nunca o meu carro foi além de Espanha”, garante. Igualmente “absurda e sem fundamento” será a presunção de que o luxuoso apartamento de Paris onde diz ter residido durante dez meses seja, afinal, sua propriedade, e não do empresário seu amigo Carlos Santos Silva. “Confirmo que face a algumas dificuldades de liquidez que atravessei em certos momentos recorri várias vezes a empréstimos a Santos Silva, que mos concedeu para pagar despesas diversas – mas sempre foi minha intenção pagar-lhe, apesar da grande amizade pessoal que nos une”, conta. “Não me parece que pedir dinheiro emprestado a um amigo seja crime”.

Sobre a venda da casa da sua mãe no prédio da Rua Braancamp, em Lisboa, onde ele possui também um apartamento, ao seu amigo Santos Silva, o antigo líder socialista acha espantoso que alguém possa ver no negócio uma venda simulada, quando o seu novo proprietário até já arrendou o imóvel a terceiros. “Do dinheiro da venda [cerca de 600 mil euros], a minha mãe fez-me doação dos 75% que podia dar-me em vida”, descreveu, explicando que, com a morte dos seus dois irmãos, passou a ser o único herdeiro da progenitora. “Esta venda não aumentou em nada o meu património ou o da minha família. O que fiz foi trocar o imóvel que a minha mãe já tinha pela liquidez correspondente ao seu verdadeiro valor”. As suspeitas que recaem sobre a venda são, na sua opinião, apenas “outra história mal contada por quem conduz esta investigação” contra ele.

“A prisão preventiva foi usada para investigar mas também para aterrorizar, para despersonalizar e para calar”, refere ainda José Sócrates, que defende a ilegalidade da medida. “Quem quis esta prisão infundada sabe bem que a prisão funciona como prova aos olhos da opinião pública: ‘Está preso, alguma coisa deve ter feito’”.

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